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Presidente mente, diz especialista em ética
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O australiano Peter Singer, 57,
leciona ética na Universidade de
Princeton (EUA). Lançou em fevereiro "The President of Good
and Evil: The Ethics of George W.
Bush" (O Presidente do Bem e do
Mal, a Ética de George W. Bush).
É um texto corrosivo e impiedoso para com um personagem que
Singer acredita que minta para tirar vantagens políticas. Eis os
principais trechos da entrevista.
Folha - Há consenso de que o
atual presidente tem trombado
com valores éticos?
Peter Singer - Não sei se podemos falar de consenso. Mas há
uma ampla coincidência por parte de pessoas preocupadas com a
ética de que a atual administração
é vulnerável pelo que faz.
Folha - Isso pela inverdade das
armas de destruição em massa de
Saddam Hussein no Iraque?
Singer - É algo bem mais grave
que a questão do Iraque, embora
esse tema seja um dos mais visíveis. Mesmo para os conservadores, menciona-se como um problema ético de peso a irresponsabilidade fiscal do presidente. Ele
tem gerado déficits orçamentários muito pesados. O endividamento público compromete políticas que beneficiariam gerações
futuras de norte-americanos.
Folha - Como assim?
Singer - Programas sociais tendem a ser reduzidos no futuro. Há
semanas o presidente do Federal
Reserve (banco central dos EUA),
Alan Greenspan, recomendou ao
Congresso que seja feito um corte
nos gastos de seguridade social.
Os americanos não chegaram a
discutir o problema, não foram
sequer consultados. É algo eticamente muito comprometedor para o atual governo americano.
Folha - E quanto à anunciada
emenda à Constituição que proibiria o casamento de homossexuais?
Singer - Aprovar uma emenda à
Constituição é algo bastante demorado nos Estados Unidos. Levaria anos. Bush levantou a questão com objetivos eleitorais imediatos. Não creio que ele pressionaria o Congresso por essa emenda caso seja reeleito.
Folha - Em fevereiro, um grupo de
cientistas publicou carta que acusava o atual governo de manipular
pesquisas para fins partidários.
Singer - Essa manifestação coletiva de nomes importantes na comunidade científica americana é
de extrema importância e demonstra o quanto o atual governo
está eticamente vulnerável. Há
questões ligadas à visão conservadora da sociedade, como a suposta moralidade da abstinência como forma de evitar a expansão de
doenças. Mais grave, no entanto, é
negar a evidência de que há um
risco ambiental com o aquecimento global. Os EUA estão na
retaguarda dos esforços mundiais
para reverter esse processo. A retirada unilateral do Protocolo de
Kyoto foi um péssimo exemplo.
Folha - Em ano eleitoral há mais
sensibilidade ética?
Singer - Espero que o eleitorado
se torne mais sensível. Na eleição
de 2000 os eleitores tendiam a
acreditar que a moralidade do
presidente era importante. Votaram em Bush por estarem escandalizados com o caso Lewinsky.
Folha - Há diferença entre a moralidade do indivíduo Bush e aquela de seu governo?
Singer - As inverdades produzidas por ele levaram a uma guerra
que já matou 700 americanos e
milhares de iraquianos.
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