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Multidão na Turquia repudia "islamização"
Em ato público, ao menos 300 mil defenderam laicismo e se manifestaram contra candidato muçulmano a presidente
Militares protestaram por suposto plano do governo de islamizar instituições;
Europa e EUA pedem que democracia seja mantida
DA REDAÇÃO
Uma multidão de no mínimo
300 mil pessoas saiu ontem às
ruas de Istambul para protestar
contra o suposto plano do atual
governo de transformar a Turquia num Estado islâmico. Os
manifestantes também pediam
a retirada da candidatura presidencial de Abdullah Gül, do
AKP, partido muçulmano moderado ao qual também pertence o premiê Tayyip Erdogan.
A manifestação, que a Reuters afirma poder ter reunido
até 1 milhão de turcos, ocorreu
em meio a uma crise institucional, desencadeada pela decisão
de Erdogan de indicar para a
Presidência seu ministro das
Relações Exteriores, em lugar
de reservar o cargo a um representante de um partido laico.
"A Turquia é secular e continuará assim", gritavam os manifestantes.
A preservação da laicidade do
Estado é defendida pelo Judiciário e pelas as Forças Armadas, que alertaram em comunicado para o risco de islamização. O ministro da Justiça, Cemil Cirek, disse que o premiê
conversou com Yasar Buyukanit, chefe do Estado-Maior, e
qualificou o protesto de "inaceitável na democracia".
A União Européia se pronunciou contra a ingerência das
Forças Armadas. Em Washington, o Departamento de Estado, sem criticar os militares,
disse esperar que a democracia
laica seja respeitada.
Candidatura de pé
Abdullah Gül afirmou ontem
que sua candidatura estava
mantida e que não renunciaria.
Os defensores da secularidade desconfiam de Gül em razão
de seu passado. Sua mulher
aparece em público com a cabeça coberta pelo véu islâmico,
cujo uso é proibido nas universidades e repartições.
O AKP nega que tenha planos
secretos para islamizar a Turquia. No poder desde 2002 e
com ampla maioria parlamentar, ele conseguiu implementar
reformas que liberalizaram a
economia e negociou a adesão à
União Européia.
A sucessão presidencial se dá
no Parlamento. No primeiro
turno, sexta-feira, Gül obteve
357 votos num plenário de 550,
dez votos a menos do que o necessário para ser eleito.
O CHP (Partido Republicano
do Povo), de oposição, que boicotou a eleição, entrou com recurso na mais alta corte de Justiça para impugnar a votação,
argumentando que não havia
quórum necessário. A decisão
judicial deverá sair até quarta-feira, para quando o segundo
turno está convocado.
Gül pode ser eleito num
eventual terceiro turno, em 9
de maio, quando bastaria a obtenção da maioria simples. Outra alternativa seria a de a Justiça forçar o premiê a antecipar
as eleições legislativas de novembro. A chefia do Estado,
com poucos poderes políticos,
continuaria até lá com Ahmet
Necdet Sezer, que tem o apoio
militar e é um secularista.
A Tusiad, influente entidade
empresarial, divulgou ontem
comunicado em que apóia a antecipação das legislativas.
Com agências internacionais
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