São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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MISSÃO NO CARIBE

Primeiro contingente de tropas brasileiras, com 42 homens, desembarca na capital, Porto Príncipe

Tropa chega ao Haiti sem abrigo definitivo

Ariana Cubillos/Associated Press
Primeiro contingente de tropas brasileiras, com 42 militares, desembarca no aeroporto de Porto Príncipe, a capital do Haiti


RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Chegou ontem ao Haiti o primeiro contingente de tropas brasileiras da missão de paz da ONU. Os brasileiros desembarcaram em Porto Príncipe (capital) ainda sem local definitivo para serem abrigados. Ficam inicialmente em um galpão improvisado perto do aeroporto internacional. Os brasileiros chegaram cedo pela manhã e passaram todo o dia carregando e descarregando material para o galpão em que estão instalados provisoriamente.
Nem deu tempo para almoçar ou sequer sair do terreno do aeroporto. "Meu Haiti é aqui", diz o tenente-coronel Lúcio Waldino dos Santos, um dos encarregados do material.
"Até agora, só vimos o aeroporto", diz o coronel Fernando José Sardenberg, oficial comandando o primeiro destacamento de 42 homens -a maioria do Exército.
"A missão hoje é só colocar os homens no acantonamento", diz Sardenberg.
Vieram quatro veículos nos quatro aviões C-130 da FAB. Os dois caminhões Unimog do Corpo de Fuzileiros Navais passaram boa parte do dia entre a pista de pouso e o galpão. Também vieram dois Land Rover do Exército, mas que ainda não se aventuraram no tresloucado trânsito de Porto Príncipe, onde cada motorista faz o que bem entende quando quer em ruas repletas de buracos, poeira e sujeira.
O material embarcado deve também servir para suprir as necessidades do segundo escalão de 150 homens, que chega na segunda-feira, também de avião.
O calor de mais de 30 C na capital do Haiti fez o consumo de água subir. Os soldados calculam que cada um deve tomar três litros de água mineral por dia -e um bom estoque veio do Brasil. A água mineral local não é confiável, pelo hábito de alguns comerciantes de colocarem água da torneira em garrafas vazias e revendê-las.
Um dos que mais trabalharam foi o major Alexandre Angonese, oficial de logística que coordenará a montagem dos dois postos de comando, da brigada da ONU e do batalhão do Exército do Brasil.
O processo de transição da tropa multinacional -que restabeleceu a ordem no país depois de distúrbios armados no começo do ano que derrubaram o presidente Jean-Bertrand Aristide- para os capacetes azuis das Nações Unidas a serem liderados pelo Brasil está atrasado. Depois de amanhã é a data para a passagem de comando. Mas as tropas estão apenas começando a chegar, e os primeiros oficiais do Estado-Maior da força, de vários países, estão apenas terminando sua primeira semana de aclimatação ao país caribenho. A missão conhecida pela sigla Minustah (Missão de Estabilização da ONU para o Haiti) é o primeiro grande desafio internacional das forças armadas latino-americanas em operações de paz. O comando da missão é do Brasil, que fornece o maior contingente de tropas -1.200 soldados do Exército e fuzileiros navais. Navios da Marinha devem trazer equipamento na segunda semana de junho, mas, entre os contêineres a bordo, não estão aqueles do tipo usado para acomodação de pessoal, como ocorria no batalhão brasileiro da força de paz em Angola, nos anos 1990.
É provável que parte do pessoal tenha de passar algum período em tendas de campanha. O resto das tropas deverá vir da Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai. Mas até agora não estão definidos os detalhes da participação. O contingente brasileiro deve ser dividido em dois batalhões, um de tropas do Exército, outro de fuzileiros navais e companhias de outros países latinos, uma das quais do Paraguai.


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