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Governo argentino suaviza impostos para conter campo
Sob ameaça de nova paralisação do setor, Cristina reduz aumentos sobre tributos a grãos anunciados em março
Reação inicial de produtores rurais, porém, indica que medidas não bastarão para pôr fim à crise que levou a locaute e já dura 80 dias
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
Diante da ameaça de uma paralisação geral do setor agropecuário na próxima segunda, o
governo argentino anunciou
ontem mudanças na resolução
que determinou o aumento de
impostos sobre a exportação de
grãos. A medida, tomada em
março, levou a um enfrentamento entre governo e produtores rurais que já dura 80 dias.
O aumento dos impostos tinha como objetivos principais
conter a inflação dos alimentos,
ao garantir o abastecimento do
mercado interno, e redistribuir
os lucros do setor.
Segundo os chamados "impostos móveis" criados pelo governo, quando sobe o preço do
produto no mercado internacional sobe também a alíquota
do imposto sobre exportações.
Assim que a medida foi anunciada, porém, produtores rurais iniciaram um locaute, com
bloqueios em estradas e desabastecimento de alimentos nas
grandes cidades. Apesar de o locaute ter sido interrompido
após três semanas, os dois lados
nunca chegaram a um acordo.
Nesta semana, os ruralistas
realizam o terceiro protesto em
80 dias. Suspenderam a venda
de grãos para exportação e de
carne para o mercado interno.
O confronto provocou desgaste da imagem da presidente,
Cristina Kirchner, cuja avaliação positiva caiu 30 pontos desde o início de seu governo, em
novembro, chegando a 26%, segundo o instituto Poliarquia.
Mudanças
Com as modificações apresentadas ontem pelo chefe-de-gabinete, Alberto Fernández, e
pelo novo ministro da Economia, Carlos Fernández, foi reduzido o teto dos tributos sobre
soja, trigo, milho e girassol e
também a alíquota dos impostos relativos à cada faixa de preço que esses produtos possam
atingir no mercado externo.
Além disso, o governo ampliou o número de contribuintes que podem pedir restituição
dos tributos para incluir, além
dos pequenos produtores,
aqueles que pagam apenas um
imposto mensal. Outra alteração foi autorizar governos de
cidades e Províncias a fazerem
o pagamento dessa restituição
-o que acelera o processo.
Entre os líderes ruralistas, as
concessões foram mal recebidas. O presidente da Sociedade
Rural Argentina, Luciano Miguens, afirmou que ainda tem
de estudá-las. "Mas, aparentemente, são mais do mesmo."
Os líderes ruralistas se reuniriam na noite de ontem para
avaliar o anúncio do governo.
Os números apresentados
pelo ministro da Economia
confundiram os produtores e
os jornalistas argentinos. O
presidente da Federação Agrária de Entre Ríos e um dos principais líderes do campo, Alfredo De Angeli, afirmou que "estas medidas não servem para
nada. Nem o governo entende o
que quer dizer".
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