São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2008

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Governo argentino suaviza impostos para conter campo

Sob ameaça de nova paralisação do setor, Cristina reduz aumentos sobre tributos a grãos anunciados em março

Reação inicial de produtores rurais, porém, indica que medidas não bastarão para pôr fim à crise que levou a locaute e já dura 80 dias

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Diante da ameaça de uma paralisação geral do setor agropecuário na próxima segunda, o governo argentino anunciou ontem mudanças na resolução que determinou o aumento de impostos sobre a exportação de grãos. A medida, tomada em março, levou a um enfrentamento entre governo e produtores rurais que já dura 80 dias.
O aumento dos impostos tinha como objetivos principais conter a inflação dos alimentos, ao garantir o abastecimento do mercado interno, e redistribuir os lucros do setor.
Segundo os chamados "impostos móveis" criados pelo governo, quando sobe o preço do produto no mercado internacional sobe também a alíquota do imposto sobre exportações.
Assim que a medida foi anunciada, porém, produtores rurais iniciaram um locaute, com bloqueios em estradas e desabastecimento de alimentos nas grandes cidades. Apesar de o locaute ter sido interrompido após três semanas, os dois lados nunca chegaram a um acordo.
Nesta semana, os ruralistas realizam o terceiro protesto em 80 dias. Suspenderam a venda de grãos para exportação e de carne para o mercado interno.
O confronto provocou desgaste da imagem da presidente, Cristina Kirchner, cuja avaliação positiva caiu 30 pontos desde o início de seu governo, em novembro, chegando a 26%, segundo o instituto Poliarquia.

Mudanças
Com as modificações apresentadas ontem pelo chefe-de-gabinete, Alberto Fernández, e pelo novo ministro da Economia, Carlos Fernández, foi reduzido o teto dos tributos sobre soja, trigo, milho e girassol e também a alíquota dos impostos relativos à cada faixa de preço que esses produtos possam atingir no mercado externo.
Além disso, o governo ampliou o número de contribuintes que podem pedir restituição dos tributos para incluir, além dos pequenos produtores, aqueles que pagam apenas um imposto mensal. Outra alteração foi autorizar governos de cidades e Províncias a fazerem o pagamento dessa restituição -o que acelera o processo.
Entre os líderes ruralistas, as concessões foram mal recebidas. O presidente da Sociedade Rural Argentina, Luciano Miguens, afirmou que ainda tem de estudá-las. "Mas, aparentemente, são mais do mesmo."
Os líderes ruralistas se reuniriam na noite de ontem para avaliar o anúncio do governo.
Os números apresentados pelo ministro da Economia confundiram os produtores e os jornalistas argentinos. O presidente da Federação Agrária de Entre Ríos e um dos principais líderes do campo, Alfredo De Angeli, afirmou que "estas medidas não servem para nada. Nem o governo entende o que quer dizer".


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