São Paulo, segunda, 30 de junho de 1997.



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Hong Kong passa hoje de colônia britânica a enclave capitalista chinês

China recupera controle do território após 156 anos e envia 4.000 soldados Acordo de 1984 prevê que o território poderá manter capitalismo por 50 anos Grupos pró-democracia de Hong Kong desafiam governo chinês com protestos Kong, idoso passa diante da bandeira chinesa e policial vigia fórum conduzido pelo Partido Democrático JAIME SPITZCOVSKY
GILSON SCHWARTZ
enviados especiais a Hong Kong

Hong Kong, um dos principais pólos do capitalismo asiático, vive hoje o seu último dia como colônia do Reino Unido. A partir da 0h de amanhã, a China recupera o controle do território depois de 156 anos de domínio britânico, envia para lá mais de 4.000 soldados e assiste à partida, no iate real Britannia, do príncipe Charles, o representante principal de Londres nas cerimônias de troca da guarda.
O símbolo maior de uma maratona de cerimônias e festas é a troca de bandeiras no Centro de Convenções e Exposições de Hong Kong. A bandeira britânica será arriada pouco antes da meia-noite (horário local, 13h de hoje em Brasília) e, nos primeiros segundos da terça-feira, a bandeira chinesa será hasteada diante de um público de 4.000 convidados, entre habitantes de Hong Kong e representantes de governos estrangeiros.
O governo britânico preparou em Hong Kong uma megafesta de despedida para sua última colônia importante. Haverá desfile militar, dança e show pirotécnico.
Pequim patrocina festas e cerimônias em Hong Kong, na capital e outras cidades chinesas com o slogan "o fim de mais de um século de vergonha", referindo-se ao colonialismo. O nacionalismo embala comemorações do Partido Comunista Chinês.
Em 1984, China e Reino Unido assinaram o acordo para a devolução de Hong Kong, que ocorre sob a fórmula "uma país, dois sistemas". O território poderá manter por 50 anos seu sistema capitalista e um alto grau de autonomia administrativa.
A China, no entanto, já anunciou limites para a democracia de Hong Kong. Vai proibir, por exemplo, manifestações que exijam o fim do regime comunista em Pequim e dissolver o Conselho Legislativo, eleito com as reformas democratizantes implementadas pelo governador colonial, Chris Patten.
Grupos pró-democracia de Hong Kong prometem desafiar hoje o governo chinês com protestos. O futuro governador do território, Tung Chee-hwa, disse que as manifestações serão toleradas "desde que sejam pacíficas".
A China quer impedir imagens da polícia de Hong Kong reprimindo manifestantes, pois teme repercussão negativa junto à comunidade internacional. Cerca de 8.000 jornalistas estão no território para acompanhar a transição.
Os grupos pró-democracia enfrentam dificuldades para atrair público. Foram definidos como uma "minoria barulhenta" pelo Lord MacLehose, que governou Hong Kong entre 1971 e 1982.
Chris Patten atacou os que "dizem ao mundo que a população de Hong Kong não liga para democracia e se preocupa apenas em fazer dinheiro".
Ele lembrou que a 4 de junho, 55 mil pessoas participaram de uma homenagem aos mortos no massacre do movimento pró-democracia da praça Tiananmen, ocorrido há oito anos em Pequim.
A secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, criticou a decisão chinesa de enviar 4.000 soldados a Hong Kong às 6h de amanhã. "Não creio que seja a melhor maneira de começar", disse.
A imagem das Forças Armadas chinesas é associada, em Hong Kong, ao massacre de Tiananmen. Segundo a fórmula "um país, dois sistemas", Pequim responde pela defesa do território e diz que as tropas são necessárias para cumprir essa função.



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