São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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Favorito se diz vítima de uma "guerra suja"

DO ENVIADO ESPECIAL

Especialista em pára-quedismo, em blindados e em artilharia, o capitão Manfred Reyes obteve distinção na Escola das Américas, no Panamá, nos anos 80. Mas a Escola das Américas não passou para a história como um centro de instrução militar qualquer, e sim como um centro de formação de quadros militares para as ditaduras latino-americanas.
Hoje com 47 anos, já reformado no Exército e com a experiência política de quase uma década ocupando a Prefeitura de Cochabamba, Manfred tem de passar a quase toda hora por uma bateria de insinuações.
"Sofri uma "guerra suja" durante a campanha", afirmou à Folha.
"Sou um político novo", diz sempre, quase como se afirmasse ser um cristão-novo, um convertido. "Capitão do povo", diz a sua propaganda eleitoral.
A "guerra suja", segundo ele, foi desde insinuar que sua campanha seria financiada pela seita do reverendo Moon, a qual, assim como no Mato Grosso do Sul, vem investindo em terras na Bolívia, até dizer que Reyes fora beneficiado pela ditadura.
Filho de um general que foi o homem forte da ditadura de Luis García Mesa (1980-81), o então capitão Reyes ocupou vários cargos no exterior, inclusive como adido militar em Washington -até isso virou motivo de debate.
Apesar da experiência administrativa -sua popularidade em Cochabamba é enorme, tendo ele sido reeleito três vezes consecutivas-, o ex-militar é visto como um "outsider", não carregando nos ombros o descrédito pelo qual passa a classe política.
Apesar de ter apoiado o general Hugo Banzer quando o ex-ditador voltou ao poder, em 1997, desta vez pelo voto, Reyes Villa pulou para a oposição quando resolveu apoiar um movimento antiprivatização em Cochabamba.
Seu partido, a Nova Força Republicana, deve fazer de 7 a 12 senadores e mais de 30 deputados, desbancando os tradicionais MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário) e MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária) no Parlamento.
Não será suficiente para garantir o segundo turno, caso sejam confirmadas as projeções que o colocam ao lado de Sánchez de Lozada na disputa.

"Outsider"
Reyes Villa é populista, filho de um político de direita, tido como "outsider" -apesar de participar há muito do jogo político- e jovem. O candidato também é dado a arroubos temperamentais, ligado a atividades esportivas e promete acabar com a corrupção.
Para que o leitor não confunda o perfil com o de Fernando Collor, é bom lembrar que Manfred Reyes Villa prometeu nunca se aliar àqueles que professam o modelo neoliberal. (RU)


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