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Crítica de funcionário americano
sobre crise enfurece a Argentina
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
O governo argentino reagiu duramente ontem ao que chamou
de intromissão dos EUA nos assuntos internos do país. O incidente foi causado pelas declarações "em off" (sem identificação)
de um alto funcionário americano à imprensa argentina sobre as
preocupações dos EUA com a escalada dos protestos dos movimentos piqueteiros no país.
O funcionário se referia aos protestos que incluíram a ocupação
da sede da empresa espanhola
Repsol e de vários McDonald's.
Irritado, o chanceler argentino,
Rafael Bielsa, acusou o secretário-adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Roger Noriega, de
ter feito a declaração.
"A verdade é que o governo argentino está farto de que este senhor Noriega se intrometa em assuntos internos da Argentina",
disse Bielsa. O chanceler afirmou
ainda que Noriega fala da Argentina como se o país fosse "um
quintal dos fundos".
Bielsa afirmou ter telefonado ao
secretário de Estado americano,
Colin Powell, para reclamar. Como não encontrou Powell, ligou
para o embaixador americano em
Buenos Aires, Lino Gutierrez, que
pediu desculpas, disse Bielsa.
O embaixador negou. Segundo
ele, Washington "não se desculpa
por declarações que aparecem em
reportagens e são atribuídas a
uma alta fonte americana". Gutierrez não confirmou se Noriega
foi o autor das declarações.
O ministro do Interior argentino, Aníbal Fernandez, disse que
não é a primeira vez que Noriega
faz declarações indiretas ou por
terceiros criticando a Argentina e
questionou "por que os EUA não
se preocupam o Iraque".
O episódio foi a primeira manifestação direta de hostilidade de
um ministro do presidente Néstor
Kirchner em relação aos EUA. As
relações do atual governo argentino com os americanos têm sido
bem diferentes das verificadas no
governo Carlos Menem (1989-99), cujo chanceler, Guido Di Tella, classificou de "carnais".
Os EUA criticam a Argentina
pela moratória da dívida e pela
demora em renegociá-la. A Argentina, por sua vez, critica a política dos americanos com relação
ao Iraque e a assuntos comerciais
e financeiros.
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