São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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Crítica de funcionário americano sobre crise enfurece a Argentina

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

O governo argentino reagiu duramente ontem ao que chamou de intromissão dos EUA nos assuntos internos do país. O incidente foi causado pelas declarações "em off" (sem identificação) de um alto funcionário americano à imprensa argentina sobre as preocupações dos EUA com a escalada dos protestos dos movimentos piqueteiros no país.
O funcionário se referia aos protestos que incluíram a ocupação da sede da empresa espanhola Repsol e de vários McDonald's. Irritado, o chanceler argentino, Rafael Bielsa, acusou o secretário-adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Roger Noriega, de ter feito a declaração.
"A verdade é que o governo argentino está farto de que este senhor Noriega se intrometa em assuntos internos da Argentina", disse Bielsa. O chanceler afirmou ainda que Noriega fala da Argentina como se o país fosse "um quintal dos fundos".
Bielsa afirmou ter telefonado ao secretário de Estado americano, Colin Powell, para reclamar. Como não encontrou Powell, ligou para o embaixador americano em Buenos Aires, Lino Gutierrez, que pediu desculpas, disse Bielsa.
O embaixador negou. Segundo ele, Washington "não se desculpa por declarações que aparecem em reportagens e são atribuídas a uma alta fonte americana". Gutierrez não confirmou se Noriega foi o autor das declarações.
O ministro do Interior argentino, Aníbal Fernandez, disse que não é a primeira vez que Noriega faz declarações indiretas ou por terceiros criticando a Argentina e questionou "por que os EUA não se preocupam o Iraque".
O episódio foi a primeira manifestação direta de hostilidade de um ministro do presidente Néstor Kirchner em relação aos EUA. As relações do atual governo argentino com os americanos têm sido bem diferentes das verificadas no governo Carlos Menem (1989-99), cujo chanceler, Guido Di Tella, classificou de "carnais".
Os EUA criticam a Argentina pela moratória da dívida e pela demora em renegociá-la. A Argentina, por sua vez, critica a política dos americanos com relação ao Iraque e a assuntos comerciais e financeiros.


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