|
Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Os responsáveis pela venda direta ao consumidor, não os produtores, são os que mais lucram, segundo relatório da ONU
Drogas movimentam US$ 321,6 bi ao ano
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O comércio de drogas ilícitas fatura no mundo US$ 321,6 bilhões
ao ano e abastece um mercado de
aproximadamente 200 milhões
de pessoas, o que representa 5%
da população mundial entre 15 e
64 anos. Quem mais lucra com esse negócio, no entanto, não são os
produtores, mas sim os responsáveis pelas vendas diretas ao consumidor nos países mais ricos.
Essas são as principais conclusões do Relatório Mundial sobre
Drogas 2005, que é publicado
anualmente pela ONU. Os dados
do levantamento são referentes,
principalmente, aos anos de 2003
e 2004, e as principais fontes de informação são os 177 países que
responderam ao questionário da
organização sobre o tema.
O faturamento total foi estimado a partir do preço médio de cada droga nas diferentes etapas de
comercialização e levou em conta
também o volume de produção
de cada substância, que é monitorado a partir de satélite ou estimado por meio das apreensões.
Essa foi a primeira vez que a
ONU estima o faturamento desse
comércio nas três fases da cadeia
produtiva. Mesmo não sendo a fase em que o faturamento é maior,
o valor movimentado por esse comércio no atacado (ou seja, o momento em que a droga é transportada do produtor para o mercado
consumidor) é maior do que o valor de exportações de produtos de
primeira necessidade.
O faturamento de US$ 94 bilhões nessa fase, por exemplo, supera o valor somado das exportações mundiais de carne (US$ 52,5
bilhões) e cereais (US$ 40,7 bilhões). O levantamento mostra,
no entanto, que a maior parte do
faturamento é gerada no varejo,
ou seja, no momento da venda ao
consumidor final.
Dos US$ 322 bilhões faturados,
apenas 4% (ou US$ 12,8 bilhões)
são gerados no momento da produção, e 25% (ou US$ 94 bilhões)
no atacado. Isso significa que, de
cada US$ 100 resultantes da venda
ao consumidor final, US$ 71 ficam
com os vendedores diretos, US$
25 com quem fez chegar a droga
àquele mercado e apenas US$ 4
com quem a produziu.
Como o consumo é maior nos
países industrializados, a ONU
calculou que 76% do lucro das
vendas é gerado nesses países. Segundo o relatório, os países da
América do Norte respondem,
sozinhos, por 44% do faturamento no varejo dessas drogas. A Europa aparece como segundo
maior mercado, com 33% desse
faturamento. A América do Sul
representa apenas 3%, percentual
menor do que o da Oceania, de
5%.
Por ser a droga de maior consumo, a maconha é também a que
rende mais faturamento no varejo: US$ 113 bilhões. Em segundo
lugar aparece a cocaína (US$ 71
bilhões) e, depois, os opiáceos
(US$ 65 bilhões).
Para o representante do Escritório das Nações Unidas contra
Drogas e Crime no Brasil, Giovanni Quaglia, os dados da pesquisa
indicam que os países precisam
ter estratégias diferenciadas para
combater o problema no momento da produção, do tráfico e
do consumo.
"O consumo precisa ser tratado
como uma questão de saúde pública, enquanto a produção e o
tráfico são problemas de polícia",
diz.
Próximo Texto: Cresce consumo global de substâncias ilícitas Índice
|