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Desigualdade ameaça democracia na África do Sul, diz Desmond Tutu
Para arcebispo sul-africano, avanços econômicos atingiram só minoria dos negros
JAMES LAMONT E ALEC RUSSELL
DO "FINANCIAL TIMES", EM LONDRES
A disparidade entre ricos e
pobres está aumentando na
África do Sul, e isso ameaça os
ganhos propiciados pela democracia de 1994 para cá, alertou
Desmond Tutu, antigo arcebispo da Cidade do Cabo.
"A maior parte [das pessoas]
continua vagando em terra árida", disse o arcebispo sobre o
ritmo lento de redistribuição
da riqueza desde o final do domínio branco no país, há 13
anos. Usando uma analogia bíblica, ele afirmou que os sul-africanos haviam cruzado o
Mar Vermelho em sua luta contra o apartheid, mas poucos deles haviam chegado à Terra
Prometida.
O arcebispo, um dos mais
inspiradores entre os líderes do
movimento de oposição ao
apartheid, interferiu, e não pela
primeira vez nos oito anos da
presidência de Thabo Mbeki,
em um debate de aguçada sensibilidade política. Seu alerta
surgiu no momento em que o
Congresso Nacional Africano
(CNA), que governa o país, está
conduzindo sua conferência
política qüinqüenal, sob pesadas críticas da esquerda, segundo a qual as políticas pró-mercado adotadas pelo governo
não ajudam os mais pobres.
No passado, quase todas as
pessoas afluentes do país eram
brancas; agora, elas contam
com a companhia de uns poucos negros, disse Tutu. Mas a
maioria das pessoas que viviam
em barracos antes que o domínio branco acabasse continua
vivendo em barracos.
"Estou realmente surpreso
diante da notável paciência do
povo", disse ele ao "Financial
Times" durante o lançamento
da Fundação Tutu em Londres,
na quarta-feira. Era difícil "explicar por que eles não mandam Tutu, [Nelson] Mandela e
todos os demais para o inferno
e saem quebrando tudo".
O arcebispo Tutu, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz
em 1984, já havia criticado as
políticas de promoção do progresso econômico dos negros
adotadas pelo CNA no passado,
dizendo que o processo enriquecera a uns poucos, em lugar
de tirar o povo da pobreza.
Empresas sul-africanas foram encorajadas a atrair acionistas negros a fim de ampliar a
classe de proprietários na economia, bem como a promover a
contratação de mais funcionários e a seleção de mais conselheiros negros. Mas a esquerda
vem mencionando pesquisas
segundo as quais empresas
com "influência negra significativa" respondem por apenas
5% do capital cotado na bolsa
de valores de Joanesburgo.
O governo recebeu elogios
por sua política fiscal prudente,
com a economia registrando
crescimento anual da ordem de
5% ao longo dos três últimos
anos. Mas o desemprego, difícil
de medir devido à presença de
uma ampla economia informal,
foi estimado em até 40%.
Existe nos bastidores profunda ansiedade nas bases do
partido com relação às indicações de que, apesar de estar liderando um dos mais longos
períodos de expansão econômica desde a Segunda Guerra
Mundial, Mbeki estaria também liderando a criação de uma
disparidade ainda maior entre
ricos e pobres.
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