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Rússia rechaça acusação de espionagem
País admite que alguns dos dez detidos pelos EUA são russos, mas rejeita denúncias "infundadas e descabidas"
11º acusado de integrar
grupo é preso no Chipre;
Moscou ironiza "timing"
de prisões, e americanos
amenizam repercussão
Vladimir Rodionov/France Presse/RIA Novosti/Kremlin
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Presidente Dmitri Medvedev se reúne em Moscou como premiê e antecessor Vladimir Putin, que disse esperar que o caso não afete relações bilaterais
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
A Rússia rejeitou com veemência ontem as acusações
feitas na véspera pelos EUA,
que anunciou ter desbaratado rede de espionagem russa
e detido 10 de 11 acusados de
atuar há vários anos obtendo
informações para Moscou.
O 11º suspeito foi preso ontem pelo Chipre quando tentava deixar a ilha no mar Mediterrâneo em direção à Hungria. Ele obteve, porém, sob
fiança, permissão para esperar extradição em liberdade.
A Chancelaria da Rússia
admitiu que alguns dos detidos são russos, mas disse que
as acusações são "infundadas e descabidas" e que "lamenta profundamente" que
surjam após Washington
propor o "reinício" das relações bilaterais.
"Essas ações perseguem
objetivos escusos. Não entendemos o que levou o Departamento da Justiça a dar
uma declaração no espírito
da Guerra Fria", disse nota.
"Esperamos que explique."
"A escolha do "timing" [do
anúncio] foi particularmente
graciosa", ironizou o chanceler Serguei Lavrov. Moscou
cobrou acesso aos detidos.
Os EUA tentaram colocar
panos quentes na polêmica.
O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse esperar que o caso não afete as relações. Segundo ele, o presidente Barack Obama já sabia
do caso quando recebeu o colega russo, Dmitri Medvedev,
na semana passada.
Mas promotores americanos ligados ao caso disseram
que as revelações são somente "a ponta de um iceberg".
O ESQUEMA
Na denúncia anunciada
anteontem, o Departamento
da Justiça acusou os 11 suspeitos de viver há vários anos
nos EUA como parte de um
programa de espionagem da
agência de inteligência SVR,
sucessora da soviética KGB.
Segundo a peça de acusação, agentes secretos russos
se passavam por casais americanos vivendo nos EUA -e
em outros países- para se inserir em "esferas de tomada
de decisão", recrutar fontes e
enviar informação a Moscou.
A denúncia reproduz também supostas mensagens entre Moscou e os suspeitos e
relata detalhes cinematográficos das comunicações mantidas entre eles, como troca
de mochilas em estações de
trem, recados em tinta invisível e transmissão codificada.
Os suspeitos, investigados
durante vários anos, segundo os EUA, foram acusados
de não se registrar como
agentes de governo estrangeiro e de lavagem de dinheiro, mas não de espionagem.
O escândalo ocorre num
momento de reaproximação
entre os antigos rivais. Na última semana, Obama e Medvedev se deixaram fotografar
em lanchonete de Washington comendo hambúrgueres.
A revelação do caso coincidiu ainda com a visita do ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) ao premiê e ex-presidente russo, Vladimir Putin.
"Entendo que lá [nos EUA]
a polícia esteja colocando as
pessoas na cadeia", disse Putin, ex-agente da KGB, arrancando risadas de Clinton. "É
o trabalho dela. Mas espero
que esse momento positivo
das nossas relações não seja
afetado por esses eventos."
Parlamentares russos saíram em defesa do Kremlin,
atribuindo as acusações à linha-dura americana insatisfeita com a aproximação.
50 CASAIS
Os ecos da Guerra Fria não
são, porém, surpresa para especialistas. Segundo o ex-vice-diretor da KGB Oleg Gordievsky, que desertou na década de 80, deve haver entre
40 e 50 casais trabalhando
para Moscou hoje nos EUA, e
Medvedev sabe das atividades realizadas no exterior.
Reino Unido e Irlanda disseram que investigam suspeitas de que agentes russos
que integram o esquema de
espionagem utilizaram passaportes seus falsificados.
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