São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2008

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Cristina faz agrado ao bolso para reconquistar argentinos

Governo aumenta salário mínimo e manda a Congresso projeto de reajuste a aposentados

Medidas são primeiras de pacote que deve ainda ter aumento em programas de transferência de renda e revisão em tabela de IR

Presidência da Argentina -28.jul.08/ Reuters
Cristina Kirchner joga bocha em visita a retiro de aposentados

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Depois de sair derrotada na queda-de-braço em torno do aumento dos impostos sobre exportações agrícolas que levou a quatro meses de crise no país, a presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, tenta reconquistar o apoio popular com um pacote de medidas econômicas positivas.
Como primeiras ações desse "relançamento", o governo anunciou na segunda-feira um aumento de 26,5% no salário mínimo e enviaria ontem ao Congresso um projeto que determina o aumento das aposentadorias, com ajustes automáticos duas vezes ao ano.
A crise com o campo foi desencadeada em março quando o governo decretou o aumento de impostos sobre as exportações de grãos. Após locautes, panelaços, forte queda na popularidade de Cristina e a dissolução da base de apoio do governo, o aumento foi vetado no Congresso com o voto de Minerva do vice-presidente Julio Cobos. Após a derrota, o chefe-de-gabinete, Alberto Fernández, figura forte do governo desde a gestão de Néstor Kirchner (2003-2007), renunciou.
O aumento dos salários foi acordado anteontem com uma rapidez incomum, após apenas uma reunião do Conselho do Salário Mínimo, formado por sindicalistas e empresários, com coordenação do Ministério do Trabalho.
O salário mínimo passará de 980 pesos (R$ 511) a 1.200 pesos (R$ 626) em agosto e, em dezembro, será elevado a 1.240 pesos (R$ 647) -no Brasil, o mínimo é R$ 415. Para especialistas, o aumento de 26,5% é uma forma de Cristina reconhecer que a inflação, cuja medição sofre manipulação do governo, se aproxima desse valor -o índice oficial está em cerca de 9% anuais.
O aumento corresponde ao que era pedido pela CGT, principal central sindical do país, que reivindicou o reajuste imediato em troca de seu apoio ao governo durante a crise.
Para o aumento das aposentadorias e pensões, o governo propôs um novo ajuste móvel, com dois aumentos automáticos ao ano, baseado no aumento de salários e da arrecadação da Previdência. E ainda antecipou a data em que os reajustes começarão a ser aplicados de junho para março.
Ainda como parte do pacote de medidas para ganhar o apoio popular, o governo deve anunciar em breve aumentos em programas de transferência de renda e alterações na tabela do Imposto de Renda que beneficiarão a classe média.

Arestas a aparar
A parte política da reativação do governo pós-crise está a cargo do novo chefe-de-gabinete, Sergio Massa. Em sua primeira semana de trabalho, Massa organizou uma agenda de encontros com governadores peronistas que se distanciaram do governo durante a crise e busca também se reunir com representantes da oposição.
Apesar dos esforços do governo em dar a crise por superada, ainda há problemas a resolver. Os líderes agropecuários foram convocados pela primeira vez a participar do Conselho do Salário Mínimo, mas não compareceram.
A ausência seria uma retaliação dos ruralistas depois que o governo afirmou que negociaria as reivindicações do setor com cada entidade separadamente, enquanto o campo se esforçou para manter uma imagem de unidade em toda a crise.
Outro problema a resolver será a crise com o vice-presidente, Julio Cobos, tido como traidor pelo governo.
O vice é um dos "radicais K" que se uniram à base de apoio do governo há três anos, quando o ex-presidente Néstor Kirchner criou a Concertação Plural. Cobos e Cristina não se falam há semanas e seus aliados afirmam que a união está perto do fim.


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