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COMENTÁRIO
Clinton deve estimular a paz, não a guerra
ALEJO VARGAS VELÁSQUEZ
Por que o transtorno gerado
na Colômbia pela visita do
presidente Bill Clinton? Porque
não se trata de qualquer presidente nem de uma visita a qualquer país em um momento qualquer de sua história.
A vinda do presidente dos EUA
significa a presença em nosso
meio do representante da cabeça
do mundo globalizado que se
consolidou no período de transição posterior à polarização entre
Leste e Oeste. Um país com muitos valores e lições a ensinar à comunidade internacional, mas
também com uma longa história
de abusos, intervenções e atitudes
prepotentes ante os demais países
do globo e, em especial, aos da
América Latina.
Ele vem visitar o país latino-americano que possui a guerra
interna mais complexa e prolongada, que combina problemas
não resolvidos da pré-modernidade capitalista -como o agrário-, que continua negociando
as exigências dos que se lançaram
às armas ao mesmo tempo em
que está envolvido com outros
países em problemas do mundo
contemporâneo, como o consumo
de drogas.
A Colômbia é um país que está
com a taxa de desemprego mais
alta de sua história, com níveis de
pobreza que deveriam envergonhar uma sociedade que se estima moderna, com uma economia
que patina entre a recessão e desgastantes esforços para sair dela,
com problemas de credibilidade e
legitimidade de suas instituições e
governantes, quer dizer, com uma
real crise de governabilidade.
Junte-se a isso tudo o início da
aplicação do chamado Plano Colômbia, pensado inicialmente como uma estratégia integradora
do governo para os agricultores,
como uma resposta ao problema
do narcotráfico, para substituir o
cultivo de plantas que originam
os narcóticos por produtos lícitos.
Mas o Plano Colômbia busca, em
grande parte, fortalecer "as garras" do Estado colombiano ante a
guerrilha insurgente. O problema
é que os que se lançaram às armas operam com a mesma lógica:
eles também estão fortalecendo
suas "garras", ou seja, ampliam
cada vez mais sua força militar. O
resultado simples desse processo é
a escalada da guerra.
Por isso diversas organizações
sociais estão exigindo a formulação de um verdadeiro plano para
a paz na Colômbia.
Queríamos ver um presidente
Clinton que viesse estimular o
país a continuar as negociações
de paz, apoiadas por um forte
programa de desenvolvimento social e econômico, e não que viesse
dar uma espécie de "largada oficial" à escalada de nossa guerra
interna, com o pretexto de combater o narcotráfico.
Alejo Vargas Velásquez é professor de
ciência política da Universidade Nacional da Colômbia e foi mediador das negociações entre o governo colombiano e
o grupo guerrilheiro ELN.
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