São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2000


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COMENTÁRIO
Clinton deve estimular a paz, não a guerra

ALEJO VARGAS VELÁSQUEZ

Por que o transtorno gerado na Colômbia pela visita do presidente Bill Clinton? Porque não se trata de qualquer presidente nem de uma visita a qualquer país em um momento qualquer de sua história.
A vinda do presidente dos EUA significa a presença em nosso meio do representante da cabeça do mundo globalizado que se consolidou no período de transição posterior à polarização entre Leste e Oeste. Um país com muitos valores e lições a ensinar à comunidade internacional, mas também com uma longa história de abusos, intervenções e atitudes prepotentes ante os demais países do globo e, em especial, aos da América Latina.
Ele vem visitar o país latino-americano que possui a guerra interna mais complexa e prolongada, que combina problemas não resolvidos da pré-modernidade capitalista -como o agrário-, que continua negociando as exigências dos que se lançaram às armas ao mesmo tempo em que está envolvido com outros países em problemas do mundo contemporâneo, como o consumo de drogas.
A Colômbia é um país que está com a taxa de desemprego mais alta de sua história, com níveis de pobreza que deveriam envergonhar uma sociedade que se estima moderna, com uma economia que patina entre a recessão e desgastantes esforços para sair dela, com problemas de credibilidade e legitimidade de suas instituições e governantes, quer dizer, com uma real crise de governabilidade.
Junte-se a isso tudo o início da aplicação do chamado Plano Colômbia, pensado inicialmente como uma estratégia integradora do governo para os agricultores, como uma resposta ao problema do narcotráfico, para substituir o cultivo de plantas que originam os narcóticos por produtos lícitos. Mas o Plano Colômbia busca, em grande parte, fortalecer "as garras" do Estado colombiano ante a guerrilha insurgente. O problema é que os que se lançaram às armas operam com a mesma lógica: eles também estão fortalecendo suas "garras", ou seja, ampliam cada vez mais sua força militar. O resultado simples desse processo é a escalada da guerra.
Por isso diversas organizações sociais estão exigindo a formulação de um verdadeiro plano para a paz na Colômbia.
Queríamos ver um presidente Clinton que viesse estimular o país a continuar as negociações de paz, apoiadas por um forte programa de desenvolvimento social e econômico, e não que viesse dar uma espécie de "largada oficial" à escalada de nossa guerra interna, com o pretexto de combater o narcotráfico.


Alejo Vargas Velásquez é professor de ciência política da Universidade Nacional da Colômbia e foi mediador das negociações entre o governo colombiano e o grupo guerrilheiro ELN.


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