São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Na véspera da convenção republicana, manifestantes criticam escolha de cidade para sediar evento

Protesto anti-Bush reúne 200 mil em NY

Paul Sancya/Associated Press
Milhares protestam diante do Madison Square Garden, que receberá a convenção republicana, durante marcha em Nova York


RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Cerca de 200 mil manifestantes, segundo os organizadores, ocuparam ontem as ruas do centro de Manhattan para protestar contra o presidente norte-americano, George W. Bush.
Bush será confirmado nesta semana candidato à reeleição na primeira Convenção Nacional Republicana da história de Nova York. A cidade espera dezenas de protestos de hoje até quinta.
Mais de 50 pessoas foram detidas na passeata, a maioria por bloquear o trânsito com bicicletas -elevando para mais de 350 o número de prisões desde sexta.
Com palavras de ordem contra o presidente, a manifestação começou no bairro de Chelsea e terminou em Union Square, passando em frente ao Madison Square Garden, local da convenção.
Bush foi retratado como "Açougueiro de Bagdá", "Pinóquio" e "Terrorista internacional". Também aparecia em cartazes usando bigodes iguais aos do líder nazista Adolph Hitler e do iraquiano Saddam Hussein.
No início da tarde, sob um calor de 30C, os manifestantes se estendiam por quase dois quilômetros. Em frente a um Madison Square Garden totalmente cercado pela polícia, eles paravam para um bate-boca contra dezenas de simpatizantes pró-Bush.
"Mais quatro anos!", gritavam os partidários do presidente. "Mais quatro meses!", devolviam os manifestantes.
Muitos criticavam o fato de a convenção republicana estar ocorrendo na liberal Nova York.
Em meio a bandeiras dos EUA e outras com as cores do arco-íris (símbolo do movimento gay), cartazes diziam: "Republicanos provincianos estão usando nossa cidade" ou "Uma cidade no Texas está sentindo falta de um idiota". Antes de ganhar a Presidência, Bush governou o Texas.
A unanimidade das críticas a Bush não se refletia, porém, em apoio incondicional ao candidato democrata John Kerry.
Joan Goldstein, 82, disse que veio protestar porque seu "coração chora" pelo fato de, segundo ela, a atual administração estar levando o país na direção errada. "Não amo Kerry, mas ele é melhor do que Bush e acho que podemos empurrá-lo um pouco para a esquerda", disse.
Vários grupos que se diziam "anarquistas", "comunistas" e "socialistas" participaram do evento. "O futuro é comunista", gritava um homem em um megafone. Mais à frente, um anarquista exibia um cartaz dizendo: "Mandem Bush para Abu Ghraib", citando a prisão onde americanos torturaram iraquianos.
Com Bush em campanha na Virgínia do Oeste e Kerry descansando em Massachusetts, o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, desembarcou ontem na cidade para a convenção.
"Estamos aqui para ter certeza de que Bush ficará na Presidência e manterá os EUA seguros, como tem feito desde o 11 de Setembro", disse Cheney.
A escolha de Nova York como local da convenção republicana foi decidida no final de 2002, antes da Guerra do Iraque e quando a popularidade do presidente estava alta em todo o país.
Segundo Cheney, Bush chega "animado" para a convenção. Nos últimos dias, meia dúzia de pesquisas mostraram uma leve recuperação do presidente sobre Kerry. No geral, porém, os dois estão tecnicamente empatados.
Kerry teria perdido algum terreno principalmente por causa de anúncios que vêm atacando o seu passado como veterano de guerra. Os republicanos negam, mas os democratas afirmam que os anúncios foram coordenados pela campanha de Bush.
Em entrevista publicada ontem na revista "Time", a primeira-dama, Laura Bush, defendeu os anúncios contra Kerry. "Se eu os acho injustos? Não, realmente. Têm havido milhares de anúncios terríveis contra meu marido."


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