São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 2002

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TENTATIVA DIPLOMÁTICA

Chanceler iraquiano se reúne com Khatami em Teerã; presidente iraniano diz que apóia ação da ONU

Iraque busca apoio no Irã contra guerra

DA REDAÇÃO

O Iraque recorreu ontem ao Irã para buscar apoio contra uma possível ofensiva dos EUA contra o regime do ditador Saddam Hussein. O ministro das Relações Exteriores iraquiano, Naji Sabri, reuniu-se com o presidente iraniano, Mohamad Khatami, em Teerã (capital do Irã).
A missão do chanceler do Iraque visava convencer o Irã de que os EUA "não são uma ameaça apenas a Saddam mas a todo o mundo islâmico", conforme declaração de Sabri.
O Irã e o Iraque se enfrentaram em uma guerra que durou quase toda a década de 80, deixando mais de 1 milhão de mortos.
O Irã, porém, também tem relações tensas com os EUA, que colocaram o país no "eixo do mal", ao lado do próprio Iraque e da Coréia do Norte.
Sabri cumprimentou Khatami com um beijo, de acordo com o costume regional, quando os dois se encontraram. "Como está Saddam?", perguntou o presidente iraniano. "Bem, obrigado", respondeu Sabri enquanto os dois sorriam para os jornalistas antes de se reunirem a portas fechadas.
Após o encontro, no entanto, os fotógrafos foram barrados para que não fosse mostrada a fisionomia dos dois. No final, eles não deram entrevistas para jornalistas estrangeiros.
A agência de notícias oficial do Irã, Irna, divulgou a seguinte declaração de Khatami: "A República Islâmica do Irã é a favor de uma região onde não haja armas de destruição em massa".
O presidente iraniano também afirmou que o Iraque deve respeitar as resoluções da ONU e cooperar com o trabalho dos inspetores de armas.
Recentemente, o vice-presidente do Irã, Mohamad Ali Abtahi, disse que o governo iraniano prefere qualquer governante no Iraque a Saddam.
Khatami também fez críticas aos EUA porque o país não aplica as mesmas regras para Israel. "Israel possui as mais perigosas armas nucleares, e o regime ainda assim é apoiado pelos americanos", afirmou Khatami, fazendo referência à suposta capacidade nuclear israelense.
O principal temor do Irã em relação a uma ofensiva americana é a possibilidade de ter forças militares americanas em duas de suas fronteiras. A leste, os americanos estão no Afeganistão. E, caso o regime de Saddam seja substituído, militares dos EUA poderiam ficar estacionados no país durante o período de transição.
A visita do chanceler iraquiano a Teerã termina no mesmo dia em que se inicia a visita do ministro da Defesa do Kuait, Jaber al Hamad al Sabah. Mas não há possibilidade de encontro das autoridades dos dois países, que não mantêm relações desde a invasão iraquiana ao Kuait, em 1990.
Os EUA tentam aprovar uma nova resolução na ONU que ameace o Iraque com retaliação militar caso haja obstáculos ao trabalho dos inspetores de armas.

Inspetores
O chefe dos inspetores da ONU, Hans Blix, e o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, Jacques Boute, iniciarão hoje conversações com autoridades iraquianas em Viena (Áustria) para negociar o retorno dos inspetores ao Iraque.
Três congressistas americanos do Partido Democrata que estão em Bagdá afirmaram que a situação no Iraque é "terrível" devido às sanções impostas pela ONU. E acrescentaram que o cenário pode se agravar ainda mais caso os americanos optem por atacar o país para derrubar Saddam.
Ontem os EUA voltaram a bombardear o aeroporto de Basra, a 210 km de Bagdá, destruindo um radar, segundo autoridades iraquianas. Ninguém se feriu. Em Washington, cerca de 2.000 pessoas protestaram contra um possível ataque ao Iraque.


Com agências internacionais


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