São Paulo, domingo, 30 de setembro de 2007

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ENTREVISTA
ERIC HOBSBAWM

Superioridade americana é fenômeno temporário

Para historiador, não há, nem nunca houve, espaço para uma só potência no planeta

Um dos maiores pensadores vivos, Hobsbawm mantém "indestrutível" convicção de esquerda e diz que atraso da América Latina é "mistério"

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A LONDRES

Desde a queda do Muro de Berlim, em 1989, Eric Hobsbawm tem sido questionado por continuar a defender uma utopia transformada em ruínas. A longa vida do pensador marxista, que completou 90 anos em junho, foi, até aqui, suficiente para que acompanhasse o nascimento de um sonho e sua gradativa revelação como pesadelo.
Mas nem só de desilusões ideológicas vive o calejado historiador, certamente o mais importante ainda em atuação. Agora, Hobsbawm parece mesmo satisfeito ao vaticinar, em seu novo livro de ensaios, "Globalisation, Democracy and Terrorism" (globalização, democracia e terrorismo), que o imperialismo norte-americano também está com os dias contados. "O mundo hoje é muito complicado para que apenas um país o domine", diz. "A única certeza que podemos ter sobre a atual superioridade norte-americana é que ela será, para a história, apenas um fenômeno temporário, como foram todos os impérios."
Foi para falar de suas convicções "indestrutíveis" que o aparentemente frágil Hobsbawm recebeu a reportagem da Folha em sua casa, em Hampstead, bairro nobre no norte de Londres, na última quarta-feira.

Cansaço
Ele e a mulher, Marlene, tinham acabado de voltar de uma temporada no País de Gales, onde têm uma casa. Viajante inveterado toda a vida, Hobsbawm diz que tem saído menos. "Hoje em dia pedem para que a gente vá falar em todo lugar, é muita palestra, muito festival de livros. Gosto de viajar, mas tenho me cansado", diz o historiador, que contou também estar se tratando de uma "leve leucemia".
Na sala onde recebe as visitas, aponta para sua poltrona favorita, "costumo me sentar aqui", e acomoda-se, esperando aplicadamente as perguntas. Fala devagar, mas com firmeza. Gesticula, e procura os olhos do interlocutor ao fim de cada afirmação, como que buscando saber se foi compreendido.
Momentos depois de iniciada a entrevista, entra Marlene com um pedaço de papel nas mãos. "Estão ligando do Times, querem saber se você pode comentar a fala do [David] Miliband [ministro das Relações Exteriores britânico] sobre Gaza." Hobsbawm diz que agora não pode, talvez depois.
"Toda hora estou fazendo pequenas coisas, falando ou escrevendo para jornais sobre assuntos do momento. Eles vivem me pedindo comentários disso ou daquilo." Cotidiano de trabalho? "Não tenho. Depende do que há ou aparece para fazer, sem rotina."

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