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Amorim diz que negou avião para levar Zelaya a Honduras
Pedido foi feito pouco após golpe que depôs presidente hondurenho, em junho
Chanceler brasileiro deu informação em audiência no Congresso como uma demonstração de que Brasil não contribuiu para retorno
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Celso Amorim
(Relações Exteriores) revelou
ontem que Manuel Zelaya, o
presidente deposto de Honduras, pediu a ele há aproximadamente três meses o empréstimo de uma aeronave da Força
Aérea Brasileira (FAB) para levá-lo de volta a Tegucigalpa.
O pedido foi negado pelo
chanceler que, ontem, em audiência pública na Comissão de
Relações Exteriores do Senado,
negou mais uma vez que o governo brasileiro tenha recebido
qualquer indicação do retorno
-desta vez bem-sucedido- de
Zelaya a Honduras há dez dias.
À comissão, Amorim contou
que o pedido de empréstimo
feito por Zelaya foi feito logo
depois de o Brasil ter cedido um
avião da FAB para levar a Honduras o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, José Miguel Insulza, o
que ocorreu no início de julho.
"Ele talvez se entusiasmou.
Ah, emprestaram para ele, então vão emprestar para mim",
disse Amorim, acrescentando:
"O pedido foi feito a mim e eu
neguei. A FAB não foi nem consultada". Ele reiterou que
"nunca mais" Zelaya solicitou
nada do gênero ao Brasil.
Antes de ser bem-sucedido
no retorno, Zelaya tentou desembarcar em Honduras a bordo de uma aeronave venezuelana, tendo sido impedido. Ele
também fez tentativas de chegar ao país por via terrestre.
Amorim citou o pedido de
empréstimo da aeronave justamente para negar que o Brasil
tenha buscado qualquer protagonismo no retorno de fato de
Zelaya ao país, na semana passada. "Sou um diplomata com
50 anos de experiência. Se preferem acreditar na palavra de
um golpista...", disse, numa referência a declarações do presidente interino Roberto Micheletti. Também afirmou que o
Brasil "não se sentiu ofendido
por não ter sido avisado".
"Quem planejou, como planejou, não me interessa."
Durante a audiência pública,
Amorim sinalizou mais de uma
vez que, apesar da surpresa, o
Brasil vê na volta do presidente
deposto um sinal positivo.
"A utilidade da presença de
Zelaya em Honduras é reconhecida por toda a comunidade
internacional. A presença dele
é vista como um elemento propiciador do diálogo, que não estava tendo até então." Disse
ainda que, se o Brasil não o tivesse aceito, Zelaya poderia estar "preso, talvez morto, ou numa serra, planejando uma revolução". Insistiu: "Fizemos a
coisa certa, que a dignidade impunha que fizéssemos".
Amorim reiterou que o golpe
foi condenado de forma unânime pela comunidade internacional e que Zelaya é até hoje
reconhecido como o presidente
legítimo por todas as organizações internacionais.
Cobrado por senadores, sobretudo da oposição, sobre o
uso político que Zelaya tem feito da embaixada, Amorim reiterou por pelo menos três vezes
que foram feitas advertências a
ele neste sentido e que, até hoje, foi obtido um "êxito relativo". "Não houve nenhum ato de
violência por parte dos seguidores de Zelaya", insistiu. Ele
afirmou que foram feitos apelos para que o número de seguidores de Zelaya dentro da embaixada -hoje de cerca de 50-
seja diminuído.
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