São Paulo, quarta, 30 de setembro de 1998

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MALÁSIA
Anwar Ibrahim, ex-vice do premiê Mahathir Mohamad, foi detido há dez dias após liderar protesto antigoverno
Polícia espanca líder da oposição

Associated Press
Anwar, com olho roxo, acena na saída do tribunal, em Kuala Lumpur


das agências internacionais

O ex-vice-primeiro-ministro da Malásia Anwar Ibrahim apareceu ontem perante à Justiça do país com claros sinais de ter sido espancado pela polícia após haver sido detido, há cerca de dez dias.
Anwar, demitido do cargo em 2 de setembro depois de ser acusado de corrupção e homossexualismo, descreveu ontem a violência a que teria sido submetido.
"Mandaram-me ficar em pé e depois me socaram fortemente", disse o ex-vice-premiê, que apresentava um dos olhos inchado e marcas na cabeça e no pescoço.
Anwar afirmou que, após a tortura, passaram-se cinco dias até que recebesse tratamento médico.
O ex-vice-premiê foi sacado do governo após iniciar campanha por reformas liberalizantes no país, que enfrenta dificuldades econômicas graças à crise na Ásia.
Anwar, que pedia por abertura no governo do premiê Mahathir Mohamad, há 17 anos no poder, foi detido após liderar uma passeata de protesto com 40 mil pessoas em Kuala Lumpur (capital do país).
Ontem, ele se disse inocente das acusações que lhe são feitas.
Pawanchik Marican, advogado de Anwar, declarou ainda que dois homens que confessaram atos de homossexualismo com o ex-vice-premiê retrataram-se.
Sukma Dermawan, irmão adotivo de Anwar, e Munawar Anees, seu assessor, afirmaram, segundo Pawanchik, que seus depoimentos "não foram voluntários."
Os dois foram condenados a seis meses de prisão. O homossexualismo na Malásia, um país majoritariamente muçulmano, é crime.
² Crescente oposição
As denúncias feitas ontem por Anwar prometem alimentar os movimentos oposicionistas.
Protestos diários contra o governo de Mahathir têm ocorrido desde a prisão o ex-vice-premiê.
Ontem, Lim Kit Siang, líder do Partido da Ação Democrática, o principal da oposição, criticou a "violenta ação" da polícia.
"Todos os malasianos estão se colocando uma mesma questão. Como eles podem se sentir seguros se o ex-vice-premiê pôde ser tão brutalmente espancado quando estava sob custódia da polícia?"



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