São Paulo, terça-feira, 30 de outubro de 2001

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Brasil esconde dos EUA indícios de terrorismo

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

O governo brasileiro esconde desde 11 de setembro, dia dos atentados em Nova York e Washington, diversos indícios da utilização do país como base para uma rede de apoio ao terrorismo de origem islâmica.
A postura é deliberada, apurou a Folha. O Brasil teme que a divulgação da ação de grupos extremistas em seu território permita que os EUA exijam um compromisso mais ativo do país na ""guerra contra o terror".
Na semana passada, o ministro José Gregori (Justiça) criticou o Ministério do Interior do Paraguai por divulgar a suspeita de que o comerciante libanês Assad Ahmad Mohamad Barakat, 34, morador da cidade brasileira de Foz do Iguaçu (PR), seria ligado ao extremismo islâmico (leia texto ao lado).
Dois empregados de Barakat numa loja em Ciudad del Este, município paraguaio fronteiriço com o Brasil, foram presos por suspeita de associação com o terror. Barakat foi acusado formalmente pelo mesmo crime.
O que Gregori não disse foi que as suspeitas sobre Barakat constam de um relatório enviado entre o fim de 1999 e o começo de 2000 pelo Brasil às autoridades paraguaias.
Depois das informações emitidas pelo Registro de Estrangeiros da PF, um texto de seis parágrafos afirma que o comerciante Barakat ""é considerado um dos dirigentes do Hizbollah na região, onde chegou em 1987".
O Hizbollah é hoje um partido político libanês, classificado como terrorista pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos.
O informe da inteligência da PF cita três líderes do Hizbollah com quem Barakat teria encontros em viagens no mínimo anuais ao Líbano. O comerciante nega as suspeitas.
No mesmo documento, a PF apontou supostos vínculos com o terror de outros dois moradores da Tríplice Fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina).
Investigações recentes do governo apontam para outras ações de suporte ao terror, incluindo lavagem de dinheiro e narcotráfico. Antes dos atentados terroristas nos EUA, inquéritos sobre a montagem de centrais telefônicas clandestinas com ligações para países como Afeganistão, Paquistão e Líbano sugeriam apenas esquemas ilegais para diminuir o preço das chamadas.
Agora, há suspeitas de que as centrais tenham servido para contatos com grupos extremistas. Na semana retrasada foi preso em Foz do Iguaçu o libanês Muhamad Hassan Atwi, suspeito de operar os serviços telefônicos ilegais no Paraná. A Polícia Federal descobriu que ele seria também responsável pelo mesmo crime, no Rio de Janeiro.

Argentina, 1994
Policiais reuniram indícios de que os explosivos empregados no atentado à Associação Mutual Israelita Argentina em 1994, quando 85 pessoas morreram, foram levados de Foz do Iguaçu.
No começo do ano as autoridades brasileiras receberam informes dos serviços de inteligência e combate ao crime dos EUA afirmando que o grupo marxista colombiano Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) estaria traficando drogas e armas com terroristas islâmicos na Tríplice Fronteira.
À época, a Al Qaeda, organização terrorista de Osama bin Laden, não foi citada. Segundo os EUA, seus contatos na América do Sul se limitavam a Uruguai e Equador. Preocupada com o que considera ação de bases do extremismo islâmico na Tríplice Fronteira, uma equipe da CI (Coordenação de Inteligência) da PF passou a operar sigilosamente na região após o 11 de setembro.


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