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Brasil esconde dos EUA indícios de terrorismo
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
O governo brasileiro esconde
desde 11 de setembro, dia dos
atentados em Nova York e Washington, diversos indícios da utilização do país como base para
uma rede de apoio ao terrorismo
de origem islâmica.
A postura é deliberada, apurou
a Folha. O Brasil teme que a divulgação da ação de grupos extremistas em seu território permita
que os EUA exijam um compromisso mais ativo do país na
""guerra contra o terror".
Na semana passada, o ministro
José Gregori (Justiça) criticou o
Ministério do Interior do Paraguai por divulgar a suspeita de
que o comerciante libanês Assad
Ahmad Mohamad Barakat, 34,
morador da cidade brasileira de
Foz do Iguaçu (PR), seria ligado
ao extremismo islâmico (leia texto ao lado).
Dois empregados de Barakat
numa loja em Ciudad del Este,
município paraguaio fronteiriço
com o Brasil, foram presos por
suspeita de associação com o terror. Barakat foi acusado formalmente pelo mesmo crime.
O que Gregori não disse foi que
as suspeitas sobre Barakat constam de um relatório enviado entre
o fim de 1999 e o começo de 2000
pelo Brasil às autoridades paraguaias.
Depois das informações emitidas pelo Registro de Estrangeiros
da PF, um texto de seis parágrafos
afirma que o comerciante Barakat
""é considerado um dos dirigentes
do Hizbollah na região, onde chegou em 1987".
O Hizbollah é hoje um partido
político libanês, classificado como
terrorista pelo Departamento de
Estado dos Estados Unidos.
O informe da inteligência da PF
cita três líderes do Hizbollah com
quem Barakat teria encontros em
viagens no mínimo anuais ao Líbano. O comerciante nega as suspeitas.
No mesmo documento, a PF
apontou supostos vínculos com o
terror de outros dois moradores
da Tríplice Fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina).
Investigações recentes do governo apontam para outras ações
de suporte ao terror, incluindo lavagem de dinheiro e narcotráfico.
Antes dos atentados terroristas
nos EUA, inquéritos sobre a montagem de centrais telefônicas
clandestinas com ligações para
países como Afeganistão, Paquistão e Líbano sugeriam apenas esquemas ilegais para diminuir o
preço das chamadas.
Agora, há suspeitas de que as
centrais tenham servido para
contatos com grupos extremistas.
Na semana retrasada foi preso em
Foz do Iguaçu o libanês Muhamad Hassan Atwi, suspeito de
operar os serviços telefônicos ilegais no Paraná. A Polícia Federal
descobriu que ele seria também
responsável pelo mesmo crime,
no Rio de Janeiro.
Argentina, 1994
Policiais reuniram indícios de
que os explosivos empregados no
atentado à Associação Mutual Israelita Argentina em 1994, quando 85 pessoas morreram, foram
levados de Foz do Iguaçu.
No começo do ano as autoridades brasileiras receberam informes dos serviços de inteligência e
combate ao crime dos EUA afirmando que o grupo marxista colombiano Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia) estaria traficando drogas e armas
com terroristas islâmicos na Tríplice Fronteira.
À época, a Al Qaeda, organização terrorista de Osama bin Laden, não foi citada. Segundo os
EUA, seus contatos na América
do Sul se limitavam a Uruguai e
Equador. Preocupada com o que
considera ação de bases do extremismo islâmico na Tríplice Fronteira, uma equipe da CI (Coordenação de Inteligência) da PF passou a operar sigilosamente na região após o 11 de setembro.
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