São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 2002

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GUERRA À VISTA

Embora reconheça divergências, americano espera que resolução sobre o Iraque seja aprovada por "ampla margem"

Powell prevê acordo com a ONU, mas pede pressa

PATRICK JARREAU
DO "LE MONDE"

O secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, disse a jornais europeus que os membros do Conselho de Segurança da ONU estão "razoavelmente de acordo" sobre o regime de inspeções de armas no Iraque e que aqueles que queriam um debate no CS antes de uma eventual passagem à ação "ficarão satisfeitos".
Ele afirmou que não há "prazo específico" para os EUA chegarem a uma decisão sobre o Iraque, mas que é preciso "concluir esse debate no futuro próximo".
Leia, a seguir, a entrevista que Powell deu anteontem ao "Financial Times", de Londres, ao "Handelsblatt", de Dusseldorf, ao "Le Monde", de Paris e ao "El País", de Madri, além de à agência de notícias russa Itar-Tass.

Pergunta - Dentro de que prazo o sr. quer chegar a uma decisão sobre o Iraque?
Colin Powell -
Não tenho prazo específico. Está claro que precisamos concluir esse debate no futuro próximo. Já reduzimos nossas divergências consideravelmente, mas ainda existem algumas. Trabalhamos duro para ver se elas podem ser resolvidas. Acho que poderemos ter uma resolução aprovada por ampla margem. Se essas diferenças não puderem ser superadas, teremos dificuldade. Ainda não estou em condições de anunciar o sucesso ou fracasso.
Os EUA acham que, para resolver esse assunto, o melhor seria chegar a uma resolução que conte com forte apoio do CS. Esse seria melhor sinal possível para indicar ao Iraque que é chegada a hora de cooperar. Mas essa resolução precisa ser clara com relação às violações iraquianas. Ela deve exigir um regime de inspeções intransigente, que não permita que Saddam Hussein continue a enganar. Acho que o CS está fortemente convencido disso. E deve ser uma resolução que, de uma forma ou de outra, especifique consequências se o Iraque voltar a descumprir suas obrigações. É aqui que se situam os pontos de discórdia.

Pergunta - O sr. disse, no sábado, que as duas questões ainda em discussão eram a caracterização das violações que o Iraque poderia cometer em relação à nova resolução e as consequências que teria de enfrentar. A situação ainda é essa?
Powell -
Sim, é nesse ponto que a discussão patina. Quando começamos a discutir, todos achavam que o maior problema seria o do regime de inspeções duro. Nós ouvimos e adaptamos nossa posição; os outros adaptaram as deles e aceitaram idéias nossas. Na segunda-feira, o CS ouviu [o chefe dos inspetores de armas da ONU, Hans] Blix, e [o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed] El Baradei. Estamos razoavelmente de acordo sobre como deve ser o regime de inspeções na nova resolução.

Pergunta - A principal preocupação de países como a França é o pedido dos EUA de incluir na resolução uma fórmula que parece autorizar de antemão o recurso à força. Por que os EUA se opõem tão fortemente a uma segunda resolução?
Powell -
A violação das resoluções do CS foi flagrante, evidente, inquestionável. Ninguém a contesta. Acreditamos que, se voltássemos a enviar os inspetores, os iraquianos só cooperariam com eles se soubessem que enfrentariam consequências sérias se não o fizessem. É por essa razão que nossa primeira proposta de resolução mencionava o recurso a "todos os meios necessários". Muitos de nossos amigos disseram que isso, para eles, era ir longe demais, e que eles queriam uma pausa que permitisse ao CS estudar se o recurso a "todos os meios necessários" não deveria figurar em outra resolução. Assim, tivemos uma discussão sobre as duas resoluções. Ouvimos atentamente. Desejávamos superar essa divergência e a superamos. Adotamos uma fórmula diferente, segundo a qual Blix e El Baradei devem reportar-se ao CS se forem impedidos de fazer seu trabalho, o que representaria uma nova violação. O CS examinará a situação e estudará a necessidade de uma implementação total de suas decisões.
Assim, todos aqueles que queriam que um debate fosse possível antes que o Conselho partisse para a ação ficarão satisfeitos.


Tradução de Clara Allain



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