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São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2003

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Ataques estão cada vez mais sofisticados

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois dos ataques dos últimos dias em Bagdá representam uma mudança tática na guerrilha de resistência iraquiana, que teria o grosso de seu "exército" formado por voluntários de outros países, principalmente sírios, egípcios e sauditas.
Franco-atiradores, homens-bomba em postos de controle e suicidas em geral começam a dividir a cena com armamentos na medida do possível mais sofisticados, como granadas-foguetes e bombas de detonação tardia, todos com uma característica mesma: o sujeito da ação não morre no ataque.
Foi o caso dos dois soldados mortos ontem de madrugada, cujo veículo militar detonou uma mina, e do ataque ao hotel Rashid por mísseis de fabricação caseira aparentemente controlados à distância, no domingo, durante estada no local de Paul Wolfowitz, subsecretário da Defesa dos EUA e um dos principais arquitetos da guerra.
Esses ataques marcam também uma fase mais ousada dos guerrilheiros. Tanto o hotel Rashid, base dos EUA na capital, quanto algumas das ações isoladas tiveram lugar na chamada "zona verde", que antes da queda do regime de Saddam Hussein era chamada de "presidencial".
Naquela época, o iraquiano comum tinha acesso restrito às largas avenidas que cortavam as edificações suntuosas do ex-ditador. Um carro que parasse por ali, por exemplo, seria no mínimo guinchado, mas poderia até virar alvo de disparos das inúmeras guaritas postadas em cada esquina.
Desde 8 de abril, data da queda de Bagdá, o comando norte-americano simplesmente proibiu o acesso da população à "zona verde". Só entram basicamente pessoal militar, jornalistas com credencial expedida pelo Pentágono e prestadores de serviços devidamente cadastrados.

Traição
Ou seja, os ataques recentes contaram com a traição do pessoal que serve os norte-americanos na cidade. Só isso explicaria o fato de o caminhão de mísseis disparados contra o hotel no domingo estar estacionado no parque que abriga o zoológico local, também fechado ao público.
O comandante militar dos EUA no Iraque sabe disso. O general Ricardo Sanchez havia dito na semana passada que os ataques da guerrilha pareciam estar ficando cada vez mais sofisticados tecnicamente e com seus alvos mais precisos. Afirmou temer que o Ramadã, mais importante mês do calendário muçulmano, só piorasse o clima.
Pois o Ramadã começou domingo. E só termina em 26 de novembro.


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