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São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2003

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ANÁLISE

Especialistas vêem Al Qaeda por trás de onda de atentados suicidas

LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

Especialistas acreditam que a Al Qaeda -ou organizações terroristas que operam como a rede responsável pelo 11 de Setembro- seria a maior responsável pela recente onda de ataques suicidas até então inédita no Iraque. Mas a resistência iraquiana não se reduz à rede nem a simpatizantes do ex-ditador Saddam Hussein.
"Esses atentados suicidas são coisa da Al Qaeda ou de redes semelhantes, pois eles, sim, se dispõem a morrer", disse à Folha o professor Amatzia Baram, especialista em terrorismo da Universidade de Haifa (Israel). "Os aliados de Saddam não gostam de se matar. Eles querem curtir a vida."
O professor e seu colega Daniel Byman, do Instituto Brookings (Washington), apontam uma série de componentes distintos na resistência iraquiana. Como descreve o presidente americano, George W. Bush, eles citam forças leais a Saddam e estrangeiros. Mas vêem subdivisões muito mais complexas nos dois grupos.
Baram citou dois tipos diferenciados de resistência. Uma está no Triângulo Sunita, região a noroeste de Bagdá onde há um surto de ataques contra soldados dos EUA e iraquianos vistos como aliados das forças de ocupação. A outra age em Bagdá e atinge indiscriminadamente soldados dos EUA, organismos internacionais e civis iraquianos.
No primeiro caso, os principais atores seriam as forças leais ao ex-ditador. "Eles têm dinheiro, armas, são treinados e querem voltar ao poder. E acreditam que se matarem soldados suficientes os EUA vão sair do país", disse Baram. Ele também cita como força atuante na região sunitas de inclinação religiosa mais radical. "São pessoas que não querem a presença americana, mas também não são simpatizantes de Saddam."
Em comum, os dois estudiosos não vêem coordenação da resistência em nível nacional, mas sim local. "Os ataques na região sunita mostram alguma coordenação, mas nas áreas xiitas eles parecem esporádicos e descoordenados", disse Byman à Folha.

Síria
Sobre a ação da Al Qaeda no país, Baram disse que ela só é possível com dupla colaboração: dos simpatizantes de Saddam, que fornecem informações sobre alvos, e do governo sírio, que permite sua passagem pela fronteira.
O professor ainda diferencia a infiltração pela fronteira síria da que acredita haver na iraniana.
"Do Irã, vêm sobretudo membros da inteligência. É um perigo no longo prazo, mas, por enquanto, eles não estão orientados a se explodir em Bagdá nem a atirar contra americanos", afirmou.
Apesar da ocupação ser a maior causa da violência, a retirada americana não é vista como uma solução. "Um trabalho maior para conquistar os iraquianos e um trabalho de inteligência mais intenso seriam mais úteis", disse Byman. Baram também dá sugestões: "Eletricidade, água e empregos aos iraquianos. É isso que vai ajudar os EUA".


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