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São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2003

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ESTUDO

Segundo pesquisa da organização, explosão da produção ameaça transformar país num Estado de narcoterroristas

Ópio é o câncer do Afeganistão, diz ONU

DA REDAÇÃO

Uma pesquisa da ONU divulgada ontem revelou que a produção de ópio se espalha como um câncer no Afeganistão e poderá transformar o país, o maior fornecedor mundial da droga, num Estado de narcoterroristas e de cartéis de drogas.
O plantio de papoula, planta da qual se obtém o ópio, já chegou a áreas nunca antes cultivadas, anunciou o Escritório da ONU para as Drogas e o Crime (Unodoc, na sigla em inglês) na pesquisa "Ópio no Afeganistão" de 2003, a primeira conduzida em cooperação com o governo afegão.
Os altos preços pagos pelo ópio levam agricultores pobres plantar papoula, afastando-os dos cultivos tradicionais. Há quatro anos, a papoula era cultivada em 18 das 32 Províncias do Afeganistão, segundo estatísticas de órgãos internacionais. Hoje ela já está presente em 28 Províncias afegãs.
"Se medidas de grande impacto para controlar a droga não forem adotadas agora, o câncer da droga continuará a espalhar-se pelo Afeganistão, tornando-se uma metástase de corrupção, de violência e de terrorismo", disse o diretor-executivo do Unodoc, Antônio Maria Costa.
De acordo com o estudo do escritório da ONU, embora apenas 1% das terras aráveis do país sejam usadas para o cultivo de papoula, a receita obtida com o ópio, em 2003, por agricultores chegou a US$ 1,02 bilhão. Ou seja, US$ 3.900 por família -isso num país em que o salário diário médio é de US$ 2.
Caso os lucros obtidos pelos traficantes também sejam levados em consideração, o estudo avalia que a indústria do ópio movimentou, no Afeganistão, cerca de US$ 2,3 bilhões em 2002 -perto de 50% das riquezas produzidas no país. Desde 2002, o cultivo de papoula aumentou 8%, chegando a cobrir 80 mil hectares, e a produção de ópio subiu 6%, chegando a 3.600 toneladas, num país que já era responsável por 75% do suprimento mundial.
O maior aumento (55%) aconteceu no Badakshan, uma Província do noroeste do país -que fica perto da fronteira com o Tadjiquistão. Esse aumento anulou os avanços conquistados por meio da erradicação de campos de papoula nas Províncias meridionais de Hilmad e de Candahar, onde o cultivo caiu 49% e 23% respectivamente. Hoje a Província de Nangarhar é a que mais produz ópio no Afeganistão.
O Unodoc começou, em 1994, a fazer pesquisas anuais sobre o cultivo de papoula no Afeganistão, coletando dados sobre o plantio, os preços e os produtos e monitorando o aumento na produção verificado desde 1979, ano da invasão soviética do país.
Segundo Costa, embora a escala do cultivo de papoula no Afeganistão seja desanimadora, a pesquisa encontrou evidências de que as condições necessárias para mudar essa situação estão sendo implantadas gradualmente.
A recém-adotada Estratégia Nacional de Controle de Drogas visa fiscalizar o desenvolvimento rural e as iniciativas de aplicação da legislação, e novas leis de controle de drogas têm como objetivo dificultar o tráfico de ópio e a lavagem de dinheiro, combater os abusos e promover a cooperação internacional.
No entanto Costa disse que apenas o policiamento não basta e pediu à comunidade internacional os recursos necessários para ajudar a reconstruir a economia de um país no qual boa parte da população continua sem acesso aos alimentos, à água encanada e à eletricidade.

Preocupação nos EUA
Dois influentes senadores americanos questionaram ontem a estabilidade da situação no Afeganistão e a de seu governo e disseram ao enviado especial dos EUA ao país, Zalmay Khalilzad, que o governo afegão talvez não consiga manter as rédeas da situação.
"Corremos o risco de perder o Afeganistão, que se tornaria um Estado fracassado mais uma vez", disse o democrata Joseph Biden, numa audiência sobre a decisão do governo de ter Khalilzad como embaixador em Cabul.
Já o republicano Richard Lugar quis saber se Khalilzad crê que possa fazer um bom trabalho em Cabul. A resposta foi: "Sim".


Com agências internacionais


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