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ESTUDO
Segundo pesquisa da organização, explosão da produção ameaça transformar país num Estado de narcoterroristas
Ópio é o câncer do Afeganistão, diz ONU
DA REDAÇÃO
Uma pesquisa da ONU divulgada ontem revelou que a produção
de ópio se espalha como um câncer no Afeganistão e poderá
transformar o país, o maior fornecedor mundial da droga, num Estado de narcoterroristas e de cartéis de drogas.
O plantio de papoula, planta da
qual se obtém o ópio, já chegou a
áreas nunca antes cultivadas,
anunciou o Escritório da ONU
para as Drogas e o Crime (Unodoc, na sigla em inglês) na pesquisa "Ópio no Afeganistão" de 2003,
a primeira conduzida em cooperação com o governo afegão.
Os altos preços pagos pelo ópio
levam agricultores pobres plantar
papoula, afastando-os dos cultivos tradicionais. Há quatro anos,
a papoula era cultivada em 18 das
32 Províncias do Afeganistão, segundo estatísticas de órgãos internacionais. Hoje ela já está presente em 28 Províncias afegãs.
"Se medidas de grande impacto
para controlar a droga não forem
adotadas agora, o câncer da droga
continuará a espalhar-se pelo
Afeganistão, tornando-se uma
metástase de corrupção, de violência e de terrorismo", disse o diretor-executivo do Unodoc, Antônio Maria Costa.
De acordo com o estudo do escritório da ONU, embora apenas
1% das terras aráveis do país sejam usadas para o cultivo de papoula, a receita obtida com o ópio,
em 2003, por agricultores chegou
a US$ 1,02 bilhão. Ou seja, US$
3.900 por família -isso num país
em que o salário diário médio é de
US$ 2.
Caso os lucros obtidos pelos traficantes também sejam levados
em consideração, o estudo avalia
que a indústria do ópio movimentou, no Afeganistão, cerca de
US$ 2,3 bilhões em 2002 -perto
de 50% das riquezas produzidas
no país. Desde 2002, o cultivo de
papoula aumentou 8%, chegando
a cobrir 80 mil hectares, e a produção de ópio subiu 6%, chegando a 3.600 toneladas, num país
que já era responsável por 75% do
suprimento mundial.
O maior aumento (55%) aconteceu no Badakshan, uma Província do noroeste do país -que fica
perto da fronteira com o Tadjiquistão. Esse aumento anulou os
avanços conquistados por meio
da erradicação de campos de papoula nas Províncias meridionais
de Hilmad e de Candahar, onde o
cultivo caiu 49% e 23% respectivamente. Hoje a Província de
Nangarhar é a que mais produz
ópio no Afeganistão.
O Unodoc começou, em 1994, a
fazer pesquisas anuais sobre o
cultivo de papoula no Afeganistão, coletando dados sobre o
plantio, os preços e os produtos e
monitorando o aumento na produção verificado desde 1979, ano
da invasão soviética do país.
Segundo Costa, embora a escala
do cultivo de papoula no Afeganistão seja desanimadora, a pesquisa encontrou evidências de
que as condições necessárias para
mudar essa situação estão sendo
implantadas gradualmente.
A recém-adotada Estratégia Nacional de Controle de Drogas visa
fiscalizar o desenvolvimento rural
e as iniciativas de aplicação da legislação, e novas leis de controle
de drogas têm como objetivo dificultar o tráfico de ópio e a lavagem de dinheiro, combater os
abusos e promover a cooperação
internacional.
No entanto Costa disse que apenas o policiamento não basta e
pediu à comunidade internacional os recursos necessários para
ajudar a reconstruir a economia
de um país no qual boa parte da
população continua sem acesso
aos alimentos, à água encanada e
à eletricidade.
Preocupação nos EUA
Dois influentes senadores americanos questionaram ontem a estabilidade da situação no Afeganistão e a de seu governo e disseram ao enviado especial dos EUA
ao país, Zalmay Khalilzad, que o
governo afegão talvez não consiga
manter as rédeas da situação.
"Corremos o risco de perder o
Afeganistão, que se tornaria um
Estado fracassado mais uma vez",
disse o democrata Joseph Biden,
numa audiência sobre a decisão
do governo de ter Khalilzad como
embaixador em Cabul.
Já o republicano Richard Lugar
quis saber se Khalilzad crê que
possa fazer um bom trabalho em
Cabul. A resposta foi: "Sim".
Com agências internacionais
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