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São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2003

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AMBIENTE

Organização divulga imagens de caça violenta dos animais; Japão afirma que existe preconceito cultural

Grupo denuncia caça a golfinhos no litoral do Japão

Associated Press
Caça a golfinhos tinge de vermelho águas da costa de Taiji, cidade pesqueira no leste do Japão


MILES EDELSTEN
DA ASSOCIATED PRESS, EM TAIJI (JAPÃO)

Uma organização americana que combate a caça às baleias e está tentando impedir a matança de golfinhos divulgou imagens em vídeo ontem de uma caçada recente realizada na pequena cidade pesqueira japonesa de Taiji. As imagens mostram enseadas recobertas de sangue e vários golfinhos mortos sendo trazidos para a praia em barcos.
Filmada pela Sea Shepherd Conservation Society (Sociedade de Conservação Pastor do Mar; www.seashepherd.org), a fita capta com imagens explícitas os momentos finais de uma caçada, na qual os pescadores batem sobre a água, provocando a formação de ondas que confundem o senso de direção dos golfinhos. Em seguida, encurralam os mamíferos em pequenas enseadas onde podem ser mortos mais facilmente.
Embora seja sujeita a cotas determinadas pelo governo, a caça ao golfinho não é proibida pela lei japonesa e tampouco é sujeita a regulamentos internacionais, porque é realizada perto da praia.
"É um massacre ao atacado e provoca sofrimento imenso a esses animais", disse o ativista Nik Hensey. ""É uma visão inimaginável, pavorosa."
Autoridades de Taiji não quiseram comentar o assunto. Um representante do sindicato dos pescadores falou, sob a condição de anonimato, que os golfinhos são mortos da maneira menos dolorosa possível. Ele observou que a caça aos golfinhos faz parte da cultura local há 400 anos.
A caça não é proibida pela Comissão Internacional da Caça às Baleias, que desde 1986 proibiu a caça comercial de baleias.
Os pescadores de Taiji, no leste do Japão, fazem caçadas regulares a golfinhos durante a temporada, que vai de outubro a abril. Eles já capturaram mais de 60 golfinhos listrados neste ano, dentro do sistema de cotas criado pelo governo. A carne dos animais costuma ser enlatada e vendida em supermercados.
Mas por causa da pressão internacional para que se acabe com a matança e o caráter sangrento da caça, os pescadores vêm se esforçando para fugir da atenção pública. Eles não autorizam a filmagem das caçadas, se negam a conceder entrevistas e tentam dificultar a ação de cinegrafistas.
Os militantes da Pastor do Mar contaram que, para fazer o vídeo, tiveram que acampar na cidade por várias semanas.
Três ativistas do grupo conservacionista, sediado em Malibu, Califórnia (EUA), foram detidos brevemente pela polícia japonesa, acusados de tentar impedir uma caça a golfinhos e de brigar com um pescador no início do mês. Os ativistas -um britânico, um canadense e um americano, todos na casa dos 20 anos- foram interrogados por quase nove horas antes de serem soltos.
O Japão é um dos poucos países pesqueiros importantes que ainda apóiam a caça à baleia e aos golfinhos.
As autoridades japonesas afirmam que as populações de muitos dos mamíferos marinhos já se recuperaram o suficiente para suportar a caça restrita e argumentam que a pressão contra a caça a esses animais se baseia mais em preconceitos culturais do que em dados científicos.
Sob um acordo especial fechado com a comissão internacional de caça às baleias, o Japão é autorizado a matar centenas de baleias por ano. Os críticos da exceção afirmam que trata-se de atividade baleeira comercial disfarçada, já que a maior parte da carne das baleias acaba sendo vendida em feiras e restaurantes.
Tóquio alega que as baleias são mortas no contexto de um programa de pesquisas necessário para estudar as populações de baleias e seus padrões de migração.


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