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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL
Em vídeo, o terrorista saudita se dirige aos americanos, comenta a eleição dos EUA e diz que Kerry é a melhor alternativa
Bin Laden reaparece a 4 dias da eleição
DA REDAÇÃO
Quatro dias antes da eleição
presidencial americana, a TV árabe Al Jazira exibiu ontem um vídeo em que o líder da rede terrorista Al Qaeda, Osama bin Laden,
critica o presidente George W.
Bush e pela primeira vez admite
diretamente ter ordenado os ataques de 11 de setembro de 2001.
"Alá sabe que não nos ocorreu
atacar as torres, mas, depois que
nossa paciência se esgotou e vimos a injustiça e inflexibilidade
da aliança americana-israelense
em relação à nossa gente na Palestina e no Líbano, isso veio à minha
mente", disse o terrorista com voz
calma e firme. Bin Laden acusou
Bush de "continua enganando e
escondendo a verdade" da população americana e acrescentou:
"Portanto continuam existindo as
razões para se repetir o que já
ocorreu".
Bush responde
Bush, reagindo à exibição do vídeo, disse que as novas ameaças
de Bin Laden não amedrontarão o
país. Ele foi informado da existência da fita pela assessora de Segurança Nacional Condoleezza Rice
enquanto viajava no avião presidencial.
"Deixe-me ser bem claro: os
americanos não serão intimidados ou influenciados por um inimigo de nosso país. Eu tenho certeza de que o senador Kerry concorda com isso", disse o presidente durante uma viagem de campanha em Toledo (Ohio). "Estamos
em guerra contra esses terroristas", prosseguiu.
No aeroporto de West Palm
Beach (Flórida), o candidato democrata também comentou a fita.
"Em resposta ao vídeo, deixe-me
afirmar claramente, muito claramente, que nós, americanos, estamos unidos em nossa decisão de
perseguir e destruir Osama bin
Laden e os terroristas", disse
Kerry.
Scott McClellan, porta-voz da
Casa Branca, disse que o vídeo deve ser autêntico. "A comunidade
de inteligência continua a analisar
a fita. Se houver inteligência acionável, iremos agir a respeito." O
porta-voz afirmou ainda que não
há planos imediatos de elevar o
nível de alerta no país contra
ameaças terroristas. "Isso é algo
que analisamos o tempo inteiro.
Já estamos em um estado elevado
de atenção."
Há cerca de uma semana, funcionários de forças de segurança e
de agências de inteligência do governo americano disseram ao jornal "Washington Post" que não
haviam encontrado evidências diretas sobre planos de ataques terroristas vinculados à eleição.
Trata-se do primeiro vídeo divulgado com declarações de Bin
Laden em mais de um ano. A gravação, na qual o saudita se refere à
eleição da próxima terça-feira,
mostra Bin Laden vestido com
uma túnica branca, manto e turbante, lendo um texto previamente escrito, em frente a um fundo
de pano marrom.
Com a aparente intenção de influenciar o resultado da disputa
presidencial, Bin Laden afirmou
que "a melhor maneira de evitar
um novo desastre" era não provocar a ira árabe e sugeriu que os democratas seriam uma melhor alternativa. "Liberais [termo usado
nos EUA para se referir tanto a esquerdistas como a membros e
simpatizantes do Partido Democrata] não negligenciam a sua segurança, ao contrário de Bush,
que diz que nós odiamos a liberdade."
Se a intenção do terrorista era a
de ajudar Kerry a vencer Bush,
talvez a estratégia venha a provocar o resultado inverso. Durante
toda a campanha os republicanos
bateram na tecla de que Kerry é
despreparado para enfrentar o
terrorismo. Nesse tema, as pesquisas de opinião indicam que a
maioria dos americanos considera Bush bastante superior ao senador de Massachusetts.
Analistas políticos acham provável que o candidato democrata
venha a perder votos com a iniciativa de Bin Laden. "Minha reação
visceral é de que poderá prejudicar Kerry. Não acredito que o povo americano irá aceitar bem
Osama bin Laden se intrometendo na nossa eleição", afirmou Joel
Goldstein, professor de ciências
políticas da Universidade Saint
Louis.
"Kerry vai dizer: "Por que esse
cara ainda está solto nos ameaçando? Por que ele ainda está
mandando vídeos? Por que ele
ainda não foi detido?" Mas ameaças estrangeiras geralmente trabalham a favor do comandante-em-chefe", afirmou Michael Lewis-Beck, professor da Universidade de Iowa.
O líder terrorista -durante o
cerca de um minuto que durou a
mensagem exibida pela Al Jazira e
reproduzida pelas principais redes de TV dos EUA- disse que a
administração de Bush se parece
com governos árabes corruptos e
ainda ridicularizou o presidente,
fazendo uma referência à sua reação de não interromper a leitura
de uma história infantil em uma
escola quando foi informado sobre o ataque à segunda torre do
World Trade Center.
"Jamais nos ocorreu que o comandante-em-chefe do país iria
deixar 50 mil cidadãos nas duas
torres para enfrentar aqueles horrores sozinhos... porque achou
que ouvir uma criança falando sobre suas cabras era mais importante", disse Bin Laden.
Um editor da rede árabe de TV
sediada no Qatar disse que a fita
de vídeo, com cinco minutos de
gravação, foi recebida ontem. O
Departamento de Estado americano, segundo um alto funcionário do órgão que não quis revelar
seu nome, pediu ao governo do
Qatar, que financia a Al Jazira, para que o vídeo não fosse exibido.
Com agências internacionais
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