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Virulência funciona, dizem republicanos
Segundo memorando do partido, pesquisas internas vêem acerto nos ataques a Obama e possível sucesso de McCain em Estados cruciais
Documento vazado à mídia foca em fatias do eleitorado como mulheres mais pobres e Estados como Pensilvânia para reverter desvantagem
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Um detalhado memorando
interno do Partido Republicano sobre o estado da campanha
presidencial indica ter sido
acertada a estratégia de John
McCain ao elevar o tom dos
ataques contra o democrata
Barack Obama. Por conta dessa
fase mais virulenta, McCain estaria conquistando posições
em alguns Estados vitais para a
eleição da próxima terça-feira.
O documento republicano foi
preparado por Bill McInturff,
responsável por pesquisas dentro da legenda. Ele relata haver
levantamentos reservados com
sinais de fortalecimento de
McCain entre eleitores em zonas rurais e entre simpatizantes democratas que ainda não
decidiram em quem votar.
É importante notar que as
pesquisas de opinião na maioria dos Estados mais relevantes
mostram ainda Obama à frente
de McCain, embora muitas vezes dentro da margem de erro.
A Flórida é um caso. Na semana
passada, o "Miami Herald" divulgou um levantamento dando 49% para o democrata e
42% ao republicano. A diferença parece grande, mas a margem de erro era de 3,5 pontos
-ou seja, havia empate técnico.
A eleição nos EUA é indireta.
É o Colégio Eleitoral que escolhe o presidente. Nele votam
delegações de cada Estado, proporcionais à sua população, de
acordo com o vitorioso local.
Em muitos, o voto já está definido segundo o partido. Os que
ainda estão em dúvida são chamados de "Estados-pêndulo".
Joe, o encanador
No relatório republicano, a
interpretação do partido é que
parece ter colado no eleitorado
dos "Estados-pêndulo" a história de Joe, o encanador. Trata-se de um eleitor escolhido por
McCain para sintetizar o americano médio, empreendedor,
que supostamente seria prejudicado com a eleição de um "liberal" -o que, nos EUA, tem a
conotação de "político gastador" que aumenta impostos.
Outro sucesso da campanha
foi colar em Obama a pecha de
liberal, no sentido americano
do termo. McInturff comemorou: "Agora, 59% dos eleitores
em Estados-pêndulo descrevem o senador Obama como
um "liberal", percentual superior aos dos [democratas] derrotados [Al] Gore e [John]
Kerry, e significativamente
maior do que os dos presidentes [democratas Bill] Clinton e
[Jimmy] Carter".
Ou seja, os ataques de
McCain e de sua candidata a vice, Sarah Palin, estariam pegando no eleitorado mais conservador. Nos últimos dez dias,
Obama vem sendo chamado
não só de liberal, mas de "distribuidor de riqueza", uma expressão que alguns republicanos consideram perto do socialismo. "A maioria dos eleitores
(54%) acha que o senador Obama é mais liberal do que eles
politicamente", diz o relatório.
Como se trata de um documento de avaliação interna dos
republicanos vazado para a mídia, é difícil de precisar o quanto tem de verdade. Mas há indícios de que em alguns Estados,
de fato, a situação parece não
ser tão confortável para Obama
como indicavam algumas pesquisas na semana passada.
De novo, a Flórida é o exemplo. Obama teve nos últimos
dez dias cerca de quatro comerciais na TV para cada um veiculado por McCain nesse Estado,
território historicamente republicano. Ontem, fez lá seu primeiro comício com Bill Clinton. Ou seja, a virada pró-democratas é, no mínimo, incerta.
Grupos-chave
Segundo McInturff, há um
grupo vital para manter o voto
do republicano com alguma solidez: as "mulheres do Wal-Mart" -que não fizeram faculdade e vivem em domicílios
com renda anual de até US$ 60
mil. Esse eleitorado estaria, segundo o memorando, "balançando" a favor de McCain.
Outro dado a ser considerado
são os indecisos, cerca de 8%
nos "Estados-pêndulo". Esse
grupo deu a vitória a Bush em
2004 sobre Kerry (47% a 24%)
e "tem expressivas dúvidas sobre a capacidade de julgamento
e a experiência de Obama".
Há ainda indícios de que as
coisas também não estão resolvidas para Obama em Estados
onde ele tem maior margem
nas pesquisas, como Pensilvânia (9 pontos) e New Hampshire (7,5 pontos), segundo o site
Real Clear Politics. Em ambos,
quem venceu as prévias partidárias foi Hillary Clinton -embora pesquisas visem Obama
adiante no segundo.
Um sinal amarelo foi acesso
pelo governador da Pensilvânia, o democrata Ed Rendell,
em entrevista ao "Boston Globe". "Para começar, eu nunca
achei que existisse uma vantagem de dez pontos. Esta não é
uma vitória dada como certa."
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