São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008

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Virulência funciona, dizem republicanos

Segundo memorando do partido, pesquisas internas vêem acerto nos ataques a Obama e possível sucesso de McCain em Estados cruciais

Documento vazado à mídia foca em fatias do eleitorado como mulheres mais pobres e Estados como Pensilvânia para reverter desvantagem

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Um detalhado memorando interno do Partido Republicano sobre o estado da campanha presidencial indica ter sido acertada a estratégia de John McCain ao elevar o tom dos ataques contra o democrata Barack Obama. Por conta dessa fase mais virulenta, McCain estaria conquistando posições em alguns Estados vitais para a eleição da próxima terça-feira.
O documento republicano foi preparado por Bill McInturff, responsável por pesquisas dentro da legenda. Ele relata haver levantamentos reservados com sinais de fortalecimento de McCain entre eleitores em zonas rurais e entre simpatizantes democratas que ainda não decidiram em quem votar.
É importante notar que as pesquisas de opinião na maioria dos Estados mais relevantes mostram ainda Obama à frente de McCain, embora muitas vezes dentro da margem de erro. A Flórida é um caso. Na semana passada, o "Miami Herald" divulgou um levantamento dando 49% para o democrata e 42% ao republicano. A diferença parece grande, mas a margem de erro era de 3,5 pontos -ou seja, havia empate técnico.
A eleição nos EUA é indireta. É o Colégio Eleitoral que escolhe o presidente. Nele votam delegações de cada Estado, proporcionais à sua população, de acordo com o vitorioso local. Em muitos, o voto já está definido segundo o partido. Os que ainda estão em dúvida são chamados de "Estados-pêndulo".

Joe, o encanador
No relatório republicano, a interpretação do partido é que parece ter colado no eleitorado dos "Estados-pêndulo" a história de Joe, o encanador. Trata-se de um eleitor escolhido por McCain para sintetizar o americano médio, empreendedor, que supostamente seria prejudicado com a eleição de um "liberal" -o que, nos EUA, tem a conotação de "político gastador" que aumenta impostos.
Outro sucesso da campanha foi colar em Obama a pecha de liberal, no sentido americano do termo. McInturff comemorou: "Agora, 59% dos eleitores em Estados-pêndulo descrevem o senador Obama como um "liberal", percentual superior aos dos [democratas] derrotados [Al] Gore e [John] Kerry, e significativamente maior do que os dos presidentes [democratas Bill] Clinton e [Jimmy] Carter".
Ou seja, os ataques de McCain e de sua candidata a vice, Sarah Palin, estariam pegando no eleitorado mais conservador. Nos últimos dez dias, Obama vem sendo chamado não só de liberal, mas de "distribuidor de riqueza", uma expressão que alguns republicanos consideram perto do socialismo. "A maioria dos eleitores (54%) acha que o senador Obama é mais liberal do que eles politicamente", diz o relatório.
Como se trata de um documento de avaliação interna dos republicanos vazado para a mídia, é difícil de precisar o quanto tem de verdade. Mas há indícios de que em alguns Estados, de fato, a situação parece não ser tão confortável para Obama como indicavam algumas pesquisas na semana passada.
De novo, a Flórida é o exemplo. Obama teve nos últimos dez dias cerca de quatro comerciais na TV para cada um veiculado por McCain nesse Estado, território historicamente republicano. Ontem, fez lá seu primeiro comício com Bill Clinton. Ou seja, a virada pró-democratas é, no mínimo, incerta.

Grupos-chave
Segundo McInturff, há um grupo vital para manter o voto do republicano com alguma solidez: as "mulheres do Wal-Mart" -que não fizeram faculdade e vivem em domicílios com renda anual de até US$ 60 mil. Esse eleitorado estaria, segundo o memorando, "balançando" a favor de McCain.
Outro dado a ser considerado são os indecisos, cerca de 8% nos "Estados-pêndulo". Esse grupo deu a vitória a Bush em 2004 sobre Kerry (47% a 24%) e "tem expressivas dúvidas sobre a capacidade de julgamento e a experiência de Obama".
Há ainda indícios de que as coisas também não estão resolvidas para Obama em Estados onde ele tem maior margem nas pesquisas, como Pensilvânia (9 pontos) e New Hampshire (7,5 pontos), segundo o site Real Clear Politics. Em ambos, quem venceu as prévias partidárias foi Hillary Clinton -embora pesquisas visem Obama adiante no segundo.
Um sinal amarelo foi acesso pelo governador da Pensilvânia, o democrata Ed Rendell, em entrevista ao "Boston Globe". "Para começar, eu nunca achei que existisse uma vantagem de dez pontos. Esta não é uma vitória dada como certa."


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