São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Uribe afasta 27 militares suspeitos

Presidente da Colômbia anunciou medida, que afeta três generais, após investigação sobre assassinato de civis

Cem casos de corpos de civis usados para simular baixas na guerrilha são apurados; Câmara rejeita 2ª reeleição de presidente em reforma

DA REDAÇÃO

O presidente colombiano, Álvaro Uribe, anunciou ontem ter afastado 27 militares, entre eles três generais, após investigação interna tê-los implicado no assassinato de civis apresentados pelas como guerrilheiros mortos em combate.
Uma comissão do Ministério da Defesa apontou que os militares, agora aposentados compulsoriamente, eram culpados da "morte de inocentes" ou haviam sido ao menos negligentes. Uribe disse que os resultados serão passados à Procuradoria Geral, que já apura o caso.
É mais um revés para a política de segurança linha dura de Uribe, apoiada financeira e militarmente pelos EUA. Os militares vêm impondo derrotas sucessivas às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), mas são duramente criticados por organismos defensores de direitos humanos.
O caso que provocou os afastamentos de ontem veio à tona no fim de setembro, quando foi noticiado que os corpos de 11 jovens considerados desaparecidos, provenientes da empobrecido entorno de Bogotá, haviam sido encontrados em Ocaña, no departamento de Norte Santander, 500 km ao norte da capital. Depois, o número aumentou para 19.
Enterrados em valas comuns como "não identificados", os corpos dos jovens haviam sido apresentados, pelo Exército, como sendo de guerrilheiros mortos em combate. Alguns familiares das vítimas disseram que eles tinham recebido propostas de trabalho no norte do país, e logo desapareceram.
O governo abriu investigação. Uribe chegou a defender os militares envolvidos: "Esses jovens não foram lá buscar café".
O caso serviu de estopim. Nas últimas semanas, denúncias de ao menos cem "falsos positivos" -civis considerados desaparecidos e depois encontrados mortos travestidos de guerrilheiros- apareceram em nove regiões do país.
Há anos organismos de direitos humanos denunciavam casos semelhantes, conseqüência da política do Exército de premiar com dias de folga ou dinheiro o abate de inimigos.
Ainda ontem, relatório de um pool de ONGs afirmou que 535 civis foram mortos por soldados e policiais de 2007 até junho deste ano e só cerca de cem casos estão sendo investigados.
A oposição pede a renúncia do ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, e os familiares das vítimas exigem indenização. Mas o que mais preocupa Bogotá é o eco internacional.
O "New York Times" publica na edição de hoje ampla reportagem sobre o tema, no momento em que o governo Uribe tenta passar no Congresso, de maioria democrata, o acordo de livre comércio entre os dois países e ante a perspectiva de perder ajuda militar em 2009.

Re-reeleição
Também ontem, a Câmara de Deputados colombiana rejeitou incluir no projeto de reforma constitucional o artigo que permitiria ao presidente Uribe se reeleger pela segunda vez em 2010. Agora, o único caminho para aprovar o mecanismo é o referendo popular. O Partido de la U, do presidente, já recolheu mais 5 milhões de assinaturas para tal, mas a convocação também tem de ser aprovada no Congresso.

Com agências internacionais



Texto Anterior: Americanas
Próximo Texto: Made in China: Venezuela lança satélite Simon Bolívar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.