São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008

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Cessar-fogo de rebeldes não termina com caos no Congo

Tropas de Laurent Nkunda cercaram cidade de Goma, esvaziada pelo Exército

Conflito congolês deriva do genocídio ruandês e opõe as etnias tutsi e hutu; tropas da ONU não chegam a proteger civis; há 200 mil refugiados

DA REDAÇÃO

As forças rebeldes que atuam no leste do Congo decretaram ontem um cessar-fogo unilateral depois de cercarem Goma, onde os 600 mil habitantes estão em pânico, e os capacetes azuis das Nações Unidas, sem poder de fogo para defender os civis, recuaram para as imediações do aeroporto da cidade.
Comandados pelo general renegado Laurent Nkunda, os rebeldes haviam tomado na véspera a cidade de Rutshuru, 70 km ao norte de Goma, em ofensiva condenada ontem pelo Conselho de Segurança da ONU. Cerca de 45 mil pessoas refugiaram-se em direção ao sul. Desde domingo mais de 200 mil congoleses deixaram suas casas e suas terras, no que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, qualificou de "crise humanitária de dimensões catastróficas" que pode ter conseqüências em escala regional.
As forças da ONU, com 17 mil homens, não conseguem conter os rebeldes ou substituir o Exército regular congolês, que está próximo do colapso. Ontem à noite seus comandantes decidiram esvaziar Goma.
Mas a população responsabiliza os soldados da ONU por não conseguirem protegê-la. Um comboio de refugiados organizado pelo organismo internacional foi ontem apedrejado.
A França, no exercício da presidência rotativa da União Européia, propôs o envio de um reforço militar de 400 a 1.500 homens. O general francês Henri Bentegeat, da comissão militar do bloco de 27 países, disse que o contingente poderia embarcar em alguns dias. Mas o ministro francês do Exterior, Bernard Kouchner, disse em Paris que alguns integrantes da UE se opunham ao plano.
A presença européia, afirmam analistas, teria um peso bem mais político que militar. Serviria para alertar Ruanda, o país vizinho, sobre possíveis sanções caso, por uma questão de afinidades étnicas, continue a apoiar a rebelião.
Nkunda, o chefe dos rebeldes, pertence à etnia tutsi, que também está no poder em Ruanda. Os tutsis foram as grandes vítimas (1 milhão de mortos) do genocídio ruandês de 1994, comandado por radicais da etnia rival, os hutus.

Fundamentalismo étnico
O atual conflito no Congo deriva dessa mesma rivalidade. O país abrigou cerca de 800 mil hutus. Os tutsis, por sua vez, estão no poder em Ruanda, que poderá intervir diretamente no conflito caso essa etnia seja ameaçada, dizem diplomatas.
A diplomata americana Jendayi Frazer, que deveria embarcar ontem para a região como possível mediadora, disse que os EUA não têm provas da ingerência ruandesa, mas que o território do país é usado para dar apoio aos rebeldes.
Porta-vozes do governo de Ruanda disseram ontem terem sido alvo de disparos do Exército congolês, que por sua vez afirmou que tiros vindos de Ruanda visavam seus homens.
Nesse fogo cruzado, há também um movimento rebelde em Ruanda, basicamente formado por hutus, e que aquele país diz estar sendo auxiliado por simpatizantes no Congo.

Com agências internacionais



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