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Cessar-fogo de rebeldes não termina com caos no Congo
Tropas de Laurent Nkunda cercaram cidade de Goma, esvaziada pelo Exército
Conflito congolês deriva do
genocídio ruandês e opõe as
etnias tutsi e hutu; tropas da
ONU não chegam a proteger
civis; há 200 mil refugiados
DA REDAÇÃO
As forças rebeldes que atuam
no leste do Congo decretaram
ontem um cessar-fogo unilateral depois de cercarem Goma,
onde os 600 mil habitantes estão em pânico, e os capacetes
azuis das Nações Unidas, sem
poder de fogo para defender os
civis, recuaram para as imediações do aeroporto da cidade.
Comandados pelo general renegado Laurent Nkunda, os rebeldes haviam tomado na véspera a cidade de Rutshuru, 70
km ao norte de Goma, em ofensiva condenada ontem pelo
Conselho de Segurança da
ONU. Cerca de 45 mil pessoas
refugiaram-se em direção ao
sul. Desde domingo mais de
200 mil congoleses deixaram
suas casas e suas terras, no que
o secretário-geral da ONU, Ban
Ki-moon, qualificou de "crise
humanitária de dimensões catastróficas" que pode ter conseqüências em escala regional.
As forças da ONU, com 17 mil
homens, não conseguem conter os rebeldes ou substituir o
Exército regular congolês, que
está próximo do colapso. Ontem à noite seus comandantes
decidiram esvaziar Goma.
Mas a população responsabiliza os soldados da ONU por
não conseguirem protegê-la.
Um comboio de refugiados organizado pelo organismo internacional foi ontem apedrejado.
A França, no exercício da
presidência rotativa da União
Européia, propôs o envio de um
reforço militar de 400 a 1.500
homens. O general francês Henri Bentegeat, da comissão militar do bloco de 27 países, disse
que o contingente poderia embarcar em alguns dias. Mas o
ministro francês do Exterior,
Bernard Kouchner, disse em
Paris que alguns integrantes da
UE se opunham ao plano.
A presença européia, afirmam analistas, teria um peso
bem mais político que militar.
Serviria para alertar Ruanda, o
país vizinho, sobre possíveis
sanções caso, por uma questão
de afinidades étnicas, continue
a apoiar a rebelião.
Nkunda, o chefe dos rebeldes, pertence à etnia tutsi, que
também está no poder em
Ruanda. Os tutsis foram as
grandes vítimas (1 milhão de
mortos) do genocídio ruandês
de 1994, comandado por radicais da etnia rival, os hutus.
Fundamentalismo étnico
O atual conflito no Congo deriva dessa mesma rivalidade. O
país abrigou cerca de 800 mil
hutus. Os tutsis, por sua vez, estão no poder em Ruanda, que
poderá intervir diretamente no
conflito caso essa etnia seja
ameaçada, dizem diplomatas.
A diplomata americana Jendayi Frazer, que deveria embarcar ontem para a região como possível mediadora, disse
que os EUA não têm provas da
ingerência ruandesa, mas que o
território do país é usado para
dar apoio aos rebeldes.
Porta-vozes do governo de
Ruanda disseram ontem terem
sido alvo de disparos do Exército congolês, que por sua vez
afirmou que tiros vindos de
Ruanda visavam seus homens.
Nesse fogo cruzado, há também um movimento rebelde
em Ruanda, basicamente formado por hutus, e que aquele
país diz estar sendo auxiliado
por simpatizantes no Congo.
Com agências internacionais
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