São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2006

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Papa evoca religioso assassinado

Andrea Santoro foi morto em fevereiro na Turquia, durante protestos pelas caricaturas de Maomé

Bento 16 reza missa na cidade em que Virgem teria morrido e se encontra com o patriarca do cristianismo ortodoxo em Istambul


DA REDAÇÃO

No segundo dia de sua visita à Turquia, Bento 16 homenageou um padre romano assassinado naquele país em fevereiro último durante uma onda de protestos no mundo islâmico pela publicação, na Dinamarca, de caricaturas do profeta Maomé.
"Cantemos com alegria, mesmo quando somos submetidos à provação de perigos e dificuldades, conforme nos ensinou o testemunho do padre Andrea Santoro, a quem sinto-me feliz de evocar nessa celebração", disse o papa em Éfeso -onde, segundo lenda, a Virgem Maria passou seus últimos anos.
Santoro foi morto a tiros por um adolescente, quando rezava, ajoelhado, em sua paróquia, na cidade de Trabson, no litoral do mar Negro.
O incidente refletiu as dificuldades enfrentadas na Turquia pela minoria cristã, que não soma 2% da população. Por ela o papa disse "sentir um amor pessoal e uma proximidade espiritual" e reconhecer os "muitos desafios diários".
Mas Bento 16, apesar de evocar o religioso assassinado, não o qualificou de "mártir", o que deixaria incomodados seus anfitriões, e voltou a insistir, em sua homilia, no diálogo entre cristãos e muçulmanos.
O papa não tem interesse em alimentar o conflito entre essas duas fés para não reacender os protestos que despertou nos islâmicos ao citar, durante conferência na Alemanha em setembro, um imperador bizantino do século 15 que criticara Maomé por expandir "pela espada" a sua religião. Ainda ontem, diz a agência Reuters, seis lideranças muçulmanas ouvidas no Egito rejeitaram o tom conciliatório dos primeiros pronunciamentos do papa na Turquia e exigiram dele um pedido explícito de desculpas.

Encontro
Em Éfeso, o papa evitou endossar a tese de que a Virgem Maria ali morreu, depois de supostamente fugir de Jerusalém. Essa versão é controvertida e ganhou corpo no século 19, quando um grupo de padres franceses tomou ao pé da letra as visões da freira mística alemã Anne Catherine Emmerich, em quem Mel Gibson se inspirou para seu filme "A Paixão de Cristo". Outra versão diz que a Virgem morreu em Jerusalém.
Depois da missa, Bento 16 embarcou para Istambul, onde foi recebido no aeroporto pelo patriarca ortodoxo Bartolomeu 1º, com quem manteve um primeiro encontro. E que foi, segundo o Vaticano, o principal tópico da agenda, por sinalizar a superação do cisma ocorrido em 1054 -permitindo, em tese, a reunificação do cristianismo.
A autoridade do patriarca se baseia bem mais na história e na tradição. Sua comunidade, a dos ortodoxos gregos, tem apenas 2.000 fiéis na Turquia. Além da islamização do século 15, quando a então Constantinopla foi conquistada pelos muçulmanos, os fiéis se reduziram no século passado, com os gregos da Turquia sendo repatriados voluntariamente para a Grécia, e os turcos do território grego para o território turco.
Mesmo assim, o encontro do papa com o patriarca teve para os dois lados grande valor simbólico. Bartolomeu 1º agradeceu Bento 16 pelos passos que vem dando na direção da reunificação das duas fés. Em resposta, o papa qualificou o encontro como "pleno de autêntica vontade e significado eclesiástico". Ambos assinam hoje declaração conjunta.
Istambul estava excepcionalmente policiada para receber o papa. Na falta de multidão nas ruas, policiais postados a cada dez metros protegiam a passagem do cortejo por avenidas fechadas ao tráfego.
Pela manhã, um grupo que se apresentou como a facção iraquiana da Al Qaeda postou num site do emirado de Dubai comunicado em que acusou Bento 16 de estar preparando "uma cruzada" contra o islã. "É uma tentativa de extinguir a chama do islã em nossos irmãos muçulmanos da Turquia", disse o grupo terrorista.
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, declarou que o papa não estava preocupado com a acusação e que ela demonstra a necessidade de um urgente compromisso de todas as forças contra "a violência praticada em nome de Deus".


Com agências internacionais

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