São Paulo, sexta-feira, 30 de novembro de 2007

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Para Olmert, Israel corre risco sem um Estado palestino

Premiê israelense evoca perigo do direito a voto em terras comuns, com os palestinos mais numerosos que os judeus

Pesquisas demonstram que israelenses são pessimistas sobre paz até o fim de 2008; Abbas quer reverter opinião de adversários de acordos

DA REDAÇÃO

O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, disse em entrevista ao "Haaretz" que o eventual malogro das negociações com os palestinos para a criação de dois Estados independentes poderia ameaçar, a longo prazo, a própria sobrevivência de Israel.
"Caso chegue o dia em que entre em colapso a solução de dois Estados e passemos a enfrentar lutas de estilo sul-africano pela igualdade de direito a voto, a partir desse momento o Estado de Israel estará acabado", afirmou Olmert.
Ele se referia à presença de 4 milhões de palestinos em Gaza e na Cisjordânia, enquanto Israel tem uma população de 7 milhões, parte da qual também é palestina. A médio prazo, os palestinos poderão ser mais numerosos que os judeus.
O alerta do premiê coincide com o ceticismo dos israelenses quanto ao desfecho das negociações definidas na última terça-feira em Annapolis, durante conferência patrocinada pelos Estados Unidos.
Segundo pesquisa do Instituto Dahaf, publicada pelo "Yediot Ahronot", 83% dos entrevistados disseram não acreditar que se chegará a um acordo de paz até o final do ano que vem, prazo fixado na conferência. Só 16% achavam que o cronograma seria cumprido.
Indagados sobre a própria conferência, 50% a qualificaram como um fracasso, contra só 17% para os quais ela foi um sucesso. Outra pesquisa, do instituto Dialog, no "Haaretz", demonstra porcentagens parecidas, com 42% acreditando que a conferência fracassou, e 17%, que ela foi bem-sucedida.
Observadores acreditam que interesse a Ehud Olmert, enfraquecido no plano interno, fazer declarações dramáticas que preparem o terreno para inevitáveis concessões territoriais que provocariam a oposição ruidosa dos setores religiosos ou dos radicais da direita laica.

Caso do Banco Leumi
As pressões contra o premiê, e foi uma coincidência, passaram a pesar menos ontem, com a divulgação do inquérito policial sobre a privatização do Banco Leumi. Não há evidências de que Olmert, então ministro das Finanças, favoreceu determinado grupo no edital.
Ainda pesa sobre Olmert a suspeita de subfaturar a compra de seu domicílio em Jerusalém, utilizando dinheiro de origem desconhecida. Por fim, o premiê é objeto de inquérito sobre a decisão de lançar, no ano passado, desastrada campanha militar contra o Hizbollah, no sul do Líbano.
Do lado palestino, o grupo islâmico Hamas lançou ontem comunicado para lembrar a resolução da ONU que há 60 anos dividiu em dois territórios a antiga Palestina sob protetorado britânico, o que permitiu em seguida a criação de Israel.
O grupo radical, que rejeita as negociações previstas por Annapolis, disse que "estão abertas todas as possibilidades para responder aos previsíveis crimes sionistas".
O Hamas é o grande calcanhar-de-aquiles do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. A oposição do grupo, majoritário nas eleições legislativas de janeiro de 2006, relativiza a sua legitimidade para fazer concessões de peso aos israelenses.
O presidente da ANP estava ontem na Tunísia, para tentar reverter as posições de Farouk Kaddoumi, um dos dirigentes históricos de seu partido, o laico Fatah, mas que se opõe a negociações com Israel.


Com agências internacionais


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