|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONTINENTE UNIDO
Bloco se prepara para receber dez novos membros em 2004
Ampliação da UE multiplica desafios
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A adesão de oito países do Leste
Europeu, além da das ilhas de
Chipre e de Malta, à União Européia não foi nenhuma surpresa,
embora os dez futuros membros
do bloco tenham um PIB conjunto equivalente ao da Holanda
-ou 5% do total de riquezas produzidas anualmente pelos atuais
15 Estados da UE.
Por que esse clube de países ricos abrirá suas portas, em 2004,
aos novos membros, que, a curto
prazo, só tendem a ser um peso financeiro suplementar? E, com 25
Estados, não estaria a UE arriscando emperrar seus mecanismos de tomada de decisão?
"A UE tinha um compromisso
político com os oito países do antigo bloco socialista. Quando a integração começou, eles estavam
do outro lado da Cortina de Ferro
e seriam admitidos no momento
político em que isso fosse possível", diz Françoise de la Serre, do
Centro de Estudos e de Pesquisas
Internacionais (Paris).
"A atração que a UE exercia sobre o leste foi vital na queda do
Muro de Berlim [1989" e no fim
dos regimes socialistas. Na esfera
econômica, a ampliação também
era importante, pois os novos
membros apresentam índices e
potencial de crescimento superiores aos dos 15 atuais países, e as
empresas ocidentais já investiram
alto no leste do continente."
Mesmo assim, a expansão da
UE não foi um processo simples.
"Não houve grande surpresa, mas
a questão do financiamento da
ampliação quase bloqueou o processo", diz Elmar Altvater, professor de economia política na Universidade Livre de Berlim.
A UE ganhará mais 70 milhões
de habitantes, chegando a 450 milhões, mais gente para dividir os
fundos estruturais e o dinheiro da
Política Agrícola Comum (PAC),
que subsidia o setor de alguns dos
pesos pesados do bloco, como a
França e a Espanha.
"Houve tensão quanto ao financiamento em outubro, em Bruxelas. Certos países, como a Alemanha [maior financiador da UE" e o
Reino Unido, queriam aproveitar
para reformar a PAC. Um acordo
franco-alemão permitiu desbloquear as discussões, prevendo
que as despesas agrícolas não aumentariam mais que um ponto
percentual por ano entre 2006 e
2012", diz De la Serre.
"Entre 2004 e 2006, cada europeu ocidental deverá pagar 25
por ano para financiar a expansão, ou seja, 0,1% do PIB dos 15
atuais membros. Descontada a
soma que os novos Estados terão
de pagar à UE, seus habitantes receberão 120 por ano, ou seja,
2,5% do PIB desses países", diz
O baixo custo da integração atenua as preocupações de Berlim e
de Paris. Mas isso indica ainda
que, ao menos no início, os novos
membros terão um status inferior
ao dos atuais países da UE.
No plano institucional, a entrada de dez países torna mais complexo o processo de tomada de
decisões. Por enquanto, a unanimidade ainda é obrigatória numa
miríade de temas, o que, em termos práticos, será impossível
com 25 Estados-membros.
"A Convenção sobre o Futuro
da Europa discute a expansão
desde 2002. Primeiro, ouvindo os
estratos das sociedades européias.
Em seguida, grupos de trabalho
discutiram temas específicos", diz
Christian Lequesne, do Centro de
Estudos e de Pesquisas Internacionais (Paris).
Identidade européia
Apesar das dificuldades que um
projeto ousado de integração
continental tem de atravessar, os
europeus ganham gradativamente consciência de sua identidade
continental e, curiosamente, percebem sua especificidade político-diplomática.
"O caráter unilateral da política
externa americana acentua um
processo que já existia na Europa:
o da tomada de consciência da
identidade européia. Os europeus
são mais multilateralistas", diz
Charles A. Kupchan, do Council
on Foreign Relations (EUA).
Prova disso foi a distância que
os líderes europeus mantiveram
da pressão americana para que a
UE aceitasse negociar com a Turquia. Na Dinamarca, há duas semanas, foi decidido que as discussões só começarão no final de
2004 -quando os EUA não precisarão mais dos turcos para atacar o Iraque, de Saddam Hussein.
Texto Anterior: Colômbia: Uribe diz que vai derrotar guerrilhas Próximo Texto: Turquia continua "sob observação" Índice
|