São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2007

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EUA iniciam prévias sem favoritos

Barack Obama encosta em Hillary Clinton, e cinco republicanos chegam embolados na reta final

Objetivo dos candidatos é se destacar até a Super Terça-Feira, que pode ser decisiva para determinar os dois concorrentes majoritários

Jim Young/Reuters
Barack Obama encosta em Hillary Clinton, e cinco republicanos chegam embolados na reta final


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A DES MOINES (IOWA)

Quando mandou um e-mail para o site oficial da campanha de Barack Obama, o sueco Petter Odmand imaginou que sua mensagem cairia no vácuo. Afinal, apesar de no texto se oferecer como voluntário para a campanha do pré-candidato democrata, o cientista político estava em Estocolmo, a vinte horas e duas trocas de avião de Des Moines, no Iowa.
Poucos dias depois, para sua surpresa, recebeu a resposta do coordenador dos voluntários do senador no Estado: não só ele era bem vindo como já tinha função, bater de porta em porta e convencer os locais a, no dia 3 de janeiro, sair para votar. É o que ele tem feito desde então, pagando de seu próprio bolso e passando mais frio nas congeladas plantações de milho desse estado do Meio-Oeste do que em seu país de origem.
"Acho fascinante a possibilidade de os EUA elegerem seu primeiro presidente negro", disse o cientista político à Folha. Como Odmand, há voluntários do país e do mundo inteiro se dedicando às horas que antecedem o início oficial da sucessão de George W. Bush. É quando republicanos e democratas se reúnem, para, num processo antiquado e complicado (leia texto nessa página), escolher em quem os delegados daqui devem votar nas convenções partidárias de agosto e setembro. Eleição mesmo, com voto, só em novembro.

Sem precedentes
A quatro dias do evento, essa já é a corrida presidencial mais indefinida da história moderna dos EUA. No lado da oposição democrata, a liderança até então inconteste nas pesquisas de opinião da senadora e ex-primeira-dama Hillary Clinton foi corroída pela ascensão de Obama e pelo desempenho não desprezível que o terceiro colocado, o ex-senador John Edwards, vem tendo em Iowa, onde já registra média de 23,5% nas pesquisas.
Segundo atualização mais recente do Real Clear Politics, site independente que reúne as pesquisas de intenção de voto mais confiáveis do país, Hillary está tecnicamente empatada com Obama em Iowa (29,2% e 27,3%, respectivamente) e tem ligeira vantagem em New Hampshire (32,3% e 28,5%), que realiza primárias no dia 8.
Ela só conseguiu manter a vantagem de seis meses atrás, de mais de 20 pontos percentuais, num único Estado dos mais importantes que vão às convenções já em janeiro, a Flórida: 47,3%, ante 22,5% de Obama. A ex-primeira-dama apresenta vantagem semelhante no levantamento nacional, em que está com 43,8%, ante 25,2% de Obama e 13,2% de Edwards.
Mas os primeiros Estados têm mais peso. Os vencedores aqui entram num ciclo virtuoso que inclui mais exposição na mídia, que resulta em mais pontos percentuais nas pesquisas, que rendem mais dólares de arrecadação na campanha, que compram mais anúncios em TVs e jornais, que podem mudar o jogo nos Estados que fazem primárias a seguir.
Isso segue até a chamada Super Duper Terça-Feira ou Terça-Feira Tsunami, o dia 6 de fevereiro, em que mais de 20 Estados realizam suas primárias. Então, pelo número de votos em jogo, é provável que os candidatos dos dois partidos majoritários sejam definidos de fato, embora não de direito.

Engarrafamento
Na situação, o cenário é ainda mais confuso. Há cinco candidatos com chances reais de se destacar nos próximos dias. A culpa é da queda consistente do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani nas últimas semanas e da ascensão surpreendente do ex-pastor batista e ex-governador de Arkansas Mike Huckabee, empurrado pelo voto evangélico, que responde por mais da metade dos eleitores republicanos.
Assim, nacionalmente, Giuliani ainda está à frente, com 20,8%, mas a situação está longe de ser tranqüila: Huckabee é o segundo, com 17,8%, seguido pelo senador John McCain, com 15,5%, que viu sua candidatura ser ressuscitada pelas boas notícias da Guerra do Iraque. Depois vêm o ex-governador de Massachusetts, Mitt Romney (15%), e o ex-senador e ator Fred Thompson (11,5%).
Analisados Estado por Estado, os republicanos entram em zigue-zague. Em Iowa, a liderança é de Huckabee (29,2%) e Romney (25,5%). Em New Hampshire, o líder passa a ser Romney (29,8%), e o segundo colocado, McCain (26,3%). Confuso o suficiente? Pois na Flórida muda tudo: Giuliani (25,3%) e Huckabee (23,3%) empatam.
E ainda há os que ameaçam concorrer independentemente, como o senador Ron Paul, um azarão de discurso radical que tem uma base eleitoral cada vez maior na internet, e o atual prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, que tem US$ 8 bilhões de fortuna pessoal para gastar na campanha.
"Se o resultado sair mesmo depois da Super Terça-Feira, teremos dois presidentes-em-espera e um presidente em fim de mandato", disse Chuck Todd, diretor político da NBC News, em encontro com jornalistas estrangeiros em Washington. "Nós teremos três presidentes por nove meses. Será a mais longa eleição que nós jamais tivemos." E o ano está só começando.


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