São Paulo, quarta, 30 de dezembro de 1998

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CAMBOJA
Dirigentes do regime de Pol Pot dizem lamentar morte de 1,7 milhão, mas pedem que país "esqueça o passado"
Líderes do Khmer pedem desculpas

Associated Press - 8.jan.97
Cambojano passa diante de ossos expostos em antigo campo de extermínio do regime de Pol Pot


das agências internacionais

Líderes do Khmer Vermelho pediram ontem pela primeira vez desculpas pelo regime de terror que matou cerca de 1,7 milhão de pessoas nos anos 70 no Camboja.
"Sinto, sinto muito", disse Khieu Samphan, 67, ao responder se lamentava o sofrimento causado pelo governo do Khmer Vermelho (1975-1979) no país.
"Naturalmente que lamentamos. Não apenas pela vida das pessoas, mas também pelos animais. Todos morreram porque queríamos vencer a guerra", disse Nuon Chea, 71. Assim como Khieu Samphan, ele desertou do grupo guerrilheiro na última sexta-feira.
As desculpas são as primeiras apresentadas por membros da liderança do Khmer pelas mortes causadas por tortura, excesso de trabalho, fome e execuções durante o regime liderado por Pol Pot.
O ditador morreu em abril deste ano, aos 73 anos, supostamente de ataque cardíaco. Ele estava sob prisão domiciliar, determinada pelo atual líder do Khmer Vermelho, Ta Mok.
Os dois desertores também pediram que a história do Khmer seja "deixada para o passado". "Por favor, irmãos e irmãs, esqueçam o passado e se unam para desenvolver o país", disse Khieu Samphan.
Ambos voltaram ontem a Phnom Penh (capital) depois de receberem do premiê do Camboja, Hun Sen, a garantia de que não seriam presos.
Hun Sen, ele mesmo ex-oficial da guerrilha, disse que é hora de "enterrar o passado" e que um eventual julgamento dos dois poderia desestabilizar o país.
Anteriormente, o premiê dissera ter a intenção de submeter os dois a um julgamento por um tribunal internacional.
Analistas políticos acreditam que a possibilidade de um julgamento para os dirigentes do Khmer Vermelho não está totalmente afastada. A proposta pode ser trazida à tona novamente por Hun Sen caso o grupo guerrilheiro comece a lhe causar problemas.
O grupo de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional acusou o governo do Camboja de "vender barato o povo cambojano". "É uma tragédia para o Camboja o fato de, no momento em que a comunidade internacional está atacando a questão da impunidade estabelecendo uma corte criminal internacional, as autoridades institucionalizarem a impunidade para os crimes terríveis do passado recente", disse comunicado da organização.
Os EUA disseram que vão se empenhar para que os líderes do Khmer Vermelho sejam julgados.
Khieu Samphan e Nuon Chea faziam parte da elite intelectual do regime de Pol Pot.
O primeiro, assim como Pol Pot ("irmão número 1", na língua khmer), estudou na França. Próximo de Pol Pot até a morte do ditador, liderou a busca por apoio diplomático colocada em prática pelo Khmer após a queda do regime.
Nuon Chea, chamado por Pol Pot de "irmão número 2", é considerado por historiadores como o autor intelectual de muitas ações brutais praticadas durante o regime do Khmer.



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