São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRAGÉDIA

Depois do terremoto de sexta, estudante de 24 anos é achado em uma cama com o teto a apenas 20 cm de sua cabeça

Índia encontra sobreviventes após 4 dias

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Novos sobreviventes do terremoto na Índia foram encontrados ontem, depois de quatro dias sob os escombros, aumentando as esperanças das equipes de resgate, que já estavam desistindo das buscas. O ministro da Defesa, George Fernandes, disse que o número de vítimas pode chegar a 100 mil, mas as autoridades no Estado de Gujarat, devastado pelo terremoto de sexta-feira, mantiveram a estimativa de 20 mil.
Em Ahmedabad, capital comercial do Estado, uma mulher de 33 anos e seu filho, de 1 ano, foram resgatados dos escombros de um prédio de quatro andares. Eles foram encontrados quando um bombeiro, procurando por sobreviventes, fez um pequeno buraco numa parede.
Exaustos, os bombeiros ganharam novo vigor. "Isso nos dá muito mais entusiasmo", disse um deles. "É um milagre que eles tenham sobrevivido tanto tempo. É um sinal da graça de Deus", afirmou uma autoridade local.
Em Bhuj, a 20 km do epicentro do terremoto, um bebê de sete meses também foi salvo depois de cem horas sob os destroços. "O menino foi encontrado no colo da mãe. Ela estava sentada e morta", disse um bombeiro.
Uma equipe de resgate britânica também conseguiu salvar um rapaz de 24 anos num prédio onde as buscas já haviam sido abandonas. Veeral Dalal, que estuda computação nos EUA e estava passando férias com a família, ficou quatro dias deitado numa cama com o teto a apenas 20 centímetros de sua cabeça.
O prédio de sete andares onde ele estava pendeu perigosamente para o lado e foi colocado numa lista de demolição, depois que bombeiros britânicos examinaram o local e não encontraram ninguém. Mas, ontem, uma pessoa ouviu os pedidos de socorro de Dalal e chamou os britânicos de volta.
Ao entrar no prédio, a equipe ouviu a voz de Dalal chamando através de um buraco no concreto. "Quando coloquei a mão no buraco, seu pé estava lá", disse um dos bombeiros. A equipe abriu um buraco maior e puxou o estudante para fora.
Dalal tomou água e foi examinado por um médico, mas insistiu em permanecer no local enquanto a equipe procurava seus familiares, que também dormiam na hora do terremoto. Ele disse, no entanto, não ter ouvido nenhum barulho. "A última coisa que ouvi foi o grito da minha mãe no dia em que o prédio caiu", afirmou.
O rapaz relutou em comentar seu drama sob os escombros. "O que senti? Pensei na minha vida, nos meus pais e na minha família", afirmou.
Na cidade de Bhachau, uma equipe russa conseguiu salvar uma mulher de 75 anos. Um parente da mulher disse que passava no local todos os dias, desde o terremoto, na esperança de encontrar alguém. Ontem pela manhã ele ouviu a voz fraca de Kanwar Behn, resgatada numa operação que durou três horas.
Milhares de vítimas continuam sob os escombros. Mas, apesar do cheiro de corpos em decomposição, não há relatos de doenças. Um funcionário da administração local disse que o governo está enviando a Gujarat desinfetante em pó para evitar epidemias.
Um porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS) esclareceu, no entanto, que "não há doenças ou epidemias associadas à presença de corpos mortos".
Temores de novos abalos e a perspectiva de uma quinta noite em céu aberto estão provocando o êxodo de milhares de moradores de Ahmedabad. "As pessoas estão partindo em todas as direções. Alguns estão indo para Bombaim, outros para Nova Déli", disse um funcionário da estação de trem.
As estradas para Bhuj estavam cheias de caminhões transportando água ou madeira para as piras funerárias, e os sobreviventes estão sendo alimentados em cozinhas comunitárias.


Texto Anterior: Oriente Médio: Barak e Arafat podem se reunir antes da eleição
Próximo Texto: Desorganização dificulta salvamento
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.