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TERROR EM LONDRES
Ian Blair diz que deveria ter desmentido relatos falsos dados para justificar o assassinato do brasileiro
Chefe da polícia admite erro no caso Jean
DA REDAÇÃO
O chefe da polícia britânica, Ian
Blair, admitiu ontem que a Scotland Yard cometeu "sérios erros"
na maneira como lidou com o assassinato do brasileiro Jean Charles de Menezes, em 2005, nos dias
posteriores ao incidente.
Em entrevista ao diário britânico "Guardian", Blair disse que a
polícia deveria ter corrigido falsas
informações, divulgadas pela mídia logo após o incidente, que justificavam as suspeitas sobre o eletricista e a atuação da polícia.
Jean Charles foi assassinado pela polícia britânica no metrô de
Londres em 22 de julho de 2005,
ao ser confundido com um terrorista. Em 7 de julho, Londres havia sido vítima de quatro atentados terroristas em que 52 pessoas
morreram.
Relatos iniciais de testemunhas
apontavam que o brasileiro estava
usando um casaco pesado mesmo
sendo verão, que tinha saltado as
catracas do metrô e que havia corrido dos policiais quando interpelado. Evidências como as imagens
captadas pelo circuito interno do
metrô, que vazaram para a imprensa posteriormente, mostraram que essas informações eram
falsas e que a polícia cometeu erros no caso.
"Claramente a Met [Polícia Metropolitana de Londres] poderia
ter tomado a decisão, no sábado,
quando reconhecemos que tínhamos matado um homem inocente, de esclarecer o caso", disse
Blair ao "Guardian".
"Embora tivéssemos esclarecido que ele não estava conectado
[com os atentados], não esclarecemos todas as outras questões a
respeito de ele ter saltado as catracas, do casaco pesado e assim por
diante", acrescentou.
"De uma forma terrível, a Met
estava focada em outras coisas.
Estava focada em: onde estão esses homens-bomba? E assim, de
uma maneira trágica, não vimos a
importância daquilo."
As declarações de Blair aparecem um dia depois que o tablóide
britânico "News of the World"
publicou que a unidade que monitorava o apartamento de Jean
Charles no dia em que ele foi assassinado foi responsável pelo erro de identificação do eletricista e
falsificou dados de seu livro de registro para se livrar da culpa.
Ontem, o grupo de apoio à família de Jean Charles defendeu
novamente que o chefe da polícia
renunciasse. "Essa última admissão de Ian Blair, de que ele poderia e deveria ter agido de certa maneira, significa que ele perdeu o
resto de confiança pública que
ainda tinha", disse Asah Rehman,
líder da campanha Justice4Jean.
Reunião
Alex Pereira, primo de Jean
Charles, Rehman, e mais quatro
integrantes da família do eletricista participaram na tarde de ontem
de uma reunião com a missão do
governo brasileiro enviada a Londres, composta por Manoel Gomes (Itamaraty), Márcio Garcia
(Ministério da Justiça) e Wagner
Gonçalves (Procuradoria Geral de
República).
Na reunião, no Consulado do
Brasil, os três ouviram pedidos
para que o governo intervenha
para que a família possa ter acesso
a uma cópia do relatório da IPCC,
a comissão independente que investigou o caso.
O relatório foi enviado há 12
dias para a CPS (Crown Prosecution Service), equivalente ao Ministério Público britânico, que decidirá se os envolvidos na morte
de Jean serão acionados judicialmente.
Antes da reunião no consulado,
a missão brasileira se reuniu com
diretores do CPS para se informarem do andamento do caso. Os
parentes, que não foram a esse encontro, pediram mais tarde aos
representantes do governo brasileiro que pressionassem para que
o órgão decida logo. Segundo os
integrantes da missão, a CPS disse
que deverá levar três meses para
tomar alguma decisão.
Colaborou Fábio Victor, de Londres
Com agências internacionais
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