São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 2006

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TERROR EM LONDRES

Ian Blair diz que deveria ter desmentido relatos falsos dados para justificar o assassinato do brasileiro

Chefe da polícia admite erro no caso Jean

DA REDAÇÃO

O chefe da polícia britânica, Ian Blair, admitiu ontem que a Scotland Yard cometeu "sérios erros" na maneira como lidou com o assassinato do brasileiro Jean Charles de Menezes, em 2005, nos dias posteriores ao incidente.
Em entrevista ao diário britânico "Guardian", Blair disse que a polícia deveria ter corrigido falsas informações, divulgadas pela mídia logo após o incidente, que justificavam as suspeitas sobre o eletricista e a atuação da polícia.
Jean Charles foi assassinado pela polícia britânica no metrô de Londres em 22 de julho de 2005, ao ser confundido com um terrorista. Em 7 de julho, Londres havia sido vítima de quatro atentados terroristas em que 52 pessoas morreram.
Relatos iniciais de testemunhas apontavam que o brasileiro estava usando um casaco pesado mesmo sendo verão, que tinha saltado as catracas do metrô e que havia corrido dos policiais quando interpelado. Evidências como as imagens captadas pelo circuito interno do metrô, que vazaram para a imprensa posteriormente, mostraram que essas informações eram falsas e que a polícia cometeu erros no caso.
"Claramente a Met [Polícia Metropolitana de Londres] poderia ter tomado a decisão, no sábado, quando reconhecemos que tínhamos matado um homem inocente, de esclarecer o caso", disse Blair ao "Guardian".
"Embora tivéssemos esclarecido que ele não estava conectado [com os atentados], não esclarecemos todas as outras questões a respeito de ele ter saltado as catracas, do casaco pesado e assim por diante", acrescentou.
"De uma forma terrível, a Met estava focada em outras coisas. Estava focada em: onde estão esses homens-bomba? E assim, de uma maneira trágica, não vimos a importância daquilo."
As declarações de Blair aparecem um dia depois que o tablóide britânico "News of the World" publicou que a unidade que monitorava o apartamento de Jean Charles no dia em que ele foi assassinado foi responsável pelo erro de identificação do eletricista e falsificou dados de seu livro de registro para se livrar da culpa.
Ontem, o grupo de apoio à família de Jean Charles defendeu novamente que o chefe da polícia renunciasse. "Essa última admissão de Ian Blair, de que ele poderia e deveria ter agido de certa maneira, significa que ele perdeu o resto de confiança pública que ainda tinha", disse Asah Rehman, líder da campanha Justice4Jean.

Reunião
Alex Pereira, primo de Jean Charles, Rehman, e mais quatro integrantes da família do eletricista participaram na tarde de ontem de uma reunião com a missão do governo brasileiro enviada a Londres, composta por Manoel Gomes (Itamaraty), Márcio Garcia (Ministério da Justiça) e Wagner Gonçalves (Procuradoria Geral de República).
Na reunião, no Consulado do Brasil, os três ouviram pedidos para que o governo intervenha para que a família possa ter acesso a uma cópia do relatório da IPCC, a comissão independente que investigou o caso.
O relatório foi enviado há 12 dias para a CPS (Crown Prosecution Service), equivalente ao Ministério Público britânico, que decidirá se os envolvidos na morte de Jean serão acionados judicialmente.
Antes da reunião no consulado, a missão brasileira se reuniu com diretores do CPS para se informarem do andamento do caso. Os parentes, que não foram a esse encontro, pediram mais tarde aos representantes do governo brasileiro que pressionassem para que o órgão decida logo. Segundo os integrantes da missão, a CPS disse que deverá levar três meses para tomar alguma decisão.


Colaborou Fábio Victor, de Londres

Com agências internacionais


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