São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

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FÚRIA ÁRABE

Segurança contra saques tem até crianças

No bairro de Maadi, garotos aparentando dez anos usam barras de ferro para ajudar a proteger patrimônio

Polícia some, e onda de pânico se espalha pela capital do Egito; lojas sofrem depredação e produtos são roubados

DO ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Uma onda de pânico se espalhou pelo Cairo após duas noites de saques e atos de vandalismo atribuídos a capangas leais ao ditador Hosni Mubarak e a criminosos que escaparam da prisão em circunstâncias ainda não esclarecidas.
Anteontem surgiram os primeiros relatos de saques em várias áreas da cidade, incluindo o bairro de classe média Maadi, que a Folha visitou na tarde de ontem.
Um dos principais alvos dos vândalos que agiram no setor foi o supermercado da rede francesa Carrefour, situado em uma área de pacatas ruas residenciais.
A fachada da loja estava parcialmente destruída, e na calçada ainda havia restos de tijolos arremessados.
Segundo testemunhas ouvidas pela reportagem, homens desceram de um carro, invadiram a loja destruindo "tudo que encontraram pela frente" e roubando produtos.
Há ainda relatos de que criminosos pilharam três apartamentos no bairro.
Com o intuito de evitar novos ataques, jovens formaram grupos para restringir o acesso ao local. Na tarde de ontem quase todas as ruas estavam bloqueadas com troncos de árvores, pedras e barras de metal.
A passagem só era autorizada a moradores reconhecidos pelos milicianos -que estavam vestidos à paisana e armados com tacos de golfe, de beisebol, correntes e, em alguns casos, fuzis e pistolas.
Nas principais vias de acesso a Maadi, militares e milicianos faziam juntos o controle de passagem.
A parceria entre moradores e o Exército ocorre em diversos setores da tentacular capital -a mais populosa da África, com 17 milhões de habitantes.
Moradores contam que alguns presos foragidos foram recapturados pelos jovens e entregues ao Exército.
Às 15h30, meia hora antes da entrada em vigor do toque de recolher decretado pelo governo, havia um número cada vez maior de jovens tomando parte do esforço de vigilância coletiva.
A Folha, que viu meninos aparentando dez anos de idade com barras de ferro nas mãos, pôde circular pelo setor em um carro dirigido por um morador.
"Isso está surtindo efeito. Na noite passada [anteontem], homens armados em uma picape tentaram entrar no bairro para cometer novos saques. O pessoal estava em grande número e atirou para o alto, afugentando os bandidos", Najib, 50, médico.
"É preciso ficar atento, pois esses criminosos apoiados pelo governo agem em grupo e farão outras tentativas", acrescenta.
Até o fechamento desta edição, disparos ecoavam pela noite do Cairo

CHANTAGEM
Manifestantes antigoverno veem um paralelo entre o sumiço das forças da polícia, nos últimos dois dias, e o início dos atos de depredação, em um país tido até então como estável e com baixos níveis de violência urbana.
Segundo participantes dos protestos, Mubarak incentiva o caos para chantagear a população, apontando para os perigos do vácuo de poder no país criado por uma eventual queda de seu regime.
Autoridades do governo entrevistadas por TVs árabes não refutaram essa versão, preferindo deixar no ar a ideia de que o caos beneficia criminosos perigosos.
O medo começou nos primeiros dias de protestos, com relatos de que homens a bordo de picapes atiravam aleatoriamente contra manifestantes antigoverno.
A tensão aumentou na sexta-feira, após a a confirmação de fugas em massa de presos que estavam em penitenciárias do país- entre eles líderes de gangues e clérigos islâmicos acusados de extremismo.
Relatos de que as autoridades abriram as portas de quatro presídios se misturam a outros pelos quais homens armados, supostamente policiais, invadiram as prisões para libertar os criminosos.
(SAMY ADGHIRNI)


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