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EUROPA
Conselho Constitucional aprova lei contestada por estudantes; assessores de Chirac falam em concessões a sindicatos
França avança para promulgar lei polêmica
DA REDAÇÃO
O Conselho Constitucional
francês declarou ontem que é legal a lei do primeiro emprego. A
decisão conduz a um novo patamar a atual crise política da França, que cresceu em três semanas
de passeatas contra o texto destinado, em princípio, a diminuir o
desemprego entre os trabalhadores com menos de 26 anos.
O ministro do Trabalho, Jean-Louis Borloo, discursando ontem
no Senado, disse que a palavra
"arquivamento" não estava na
Constituição. Negou com isso
que, mesmo com o sinal verde do
Conselho Constitucional, o governo pretenda abrir mão da lei.
O presidente Jacques Chirac fará hoje à noite um pronunciamento em rede nacional de TV.
Analistas acreditam que sua margem de manobra seja estreita.
Caso promulgue a lei votada pelo Parlamento, estará lançando lenha na fogueira dos protestos estudantis e sindicais. Estimulados
pelas manifestações de rua da última terça (em que dizem ter reunido mais de 2 milhões de pessoas), as entidades organizam
uma nova "jornada de ação" para
o próximo dia 4, na qual prometem paralisar o setor público e obter a adesão de assalariados de algumas empresas privadas.
Caso recue e devolva a lei do primeiro emprego aos deputados,
para um novo período de tramitação -a Constituição francesa
permite que ele faça isso no período de nove dias-, Chirac estará
desautorizando seu primeiro-ministro, Dominique de Villepin,
que empenhou seu capital político para defender o texto oficial.
Nessa hipótese, diz a France
Presse, Villepin e o presidente da
Assembléia Nacional, Jean-Louis
Debré, pediriam demissão.
A popularidade de Villepin
nunca esteve tão baixa. Ele perdeu
com a crise cinco pontos e é hoje
um governante confiável para
apenas 29% dos franceses.
A debilidade do primeiro-ministro põe em xeque os planos do
próprio Chirac para sua sucessão
em 2007, quando pretende apoiá-lo contra o atual ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, que também pertence ao mesmo partido
de centro-direita.
Sindicatos
Uma alternativa para Chirac foi
levantada ontem por um de seus
assessores, citado pelo "Le Monde". Trata-se de convocar os sindicatos para uma maratona de
negociações, segundo o modelo
adotado em Maio de 1968, para
pôr fim à greve geral detonada pelos estudantes. O episódio entrou
para a história política francesa
como os "Acordos de Grenelle".
Enquanto isso, os estudantes,
sem uma decisão formalizada em
assembléias ou nascida em suas
associações, passaram ontem a
bloquear rodovias e ferrovias como novo meio de protesto.
O bloqueio de auto-estradas
provocou durante a manhã 345
km de congestionamentos. Linhas ferroviárias foram bloqueadas em Rennes e em Marselha.
Em Paris, um grupo de 1.000 secundaristas ocupou por duas horas a Gare de Lyon, interrompendo o tráfego ferroviário entre a capital e o sul da França.
A lei que eles contestam diminui os encargos de empresas que
contratem jovens recém-formados. Mas há a paralela redução de
direitos trabalhistas. O item mais
controvertido permite a demissão
sem justificativas nos primeiros
24 meses de contrato.
Esse dispositivo levou 60 deputados e 60 senadores do Partido
Socialista a interpelarem o Conselho Constitucional. Eles argumentavam que a lei criava um regime de demissões paralelo, o que
estaria em contradição com o
princípio constitucional da igualdade dos direitos trabalhistas.
O fato de o presidente Chirac ser
agora o único árbitro dos próximos passos levou um de seus assessores a desabafar no jornal "Le
Figaro": "Ele tem apenas uma bala no tambor do revólver. Se falhar, não sei para onde iremos."
Segundo o assessor, que não foi
identificado, "não há uma solução que seja boa; há apenas opções entre as menos ruins".
Os sindicatos alertaram Chirac
contra as conseqüências da promulgação da lei. "Seria uma decisão carregada de conseqüências",
disse o líder da pró-comunista
CGT, Bernard Thibault.
Dois outros dirigentes de confederações, Jean-Claude Mailly, da
FO, e Gérard Aschieri, da FSU,
alertaram para a reação que ocorrerá se Chirac "partir para uma
solução de força".
Caso tivesse atuado politicamente, o Conselho Constitucional
teria ontem feito ressalvas à lei do
primeiro emprego, o que deixaria
o governo livre para recuar, sem
que o recuo fosse atribuído à pressão dos manifestantes nas ruas.
Mas a instituição (que não é
uma Corte Suprema) tem um histórico de isenção. Criada em 1958,
é integrada por nove juristas e pelos ex-presidentes da República.
O conselho só pode ser acionado pelo próprio presidente, por
seu primeiro-ministro, pelo presidente do Senado ou por um grupo de deputados e senadores.
Ele se pronuncia sobre a constitucionalidade de uma lei votada
no Parlamento. Se acionado, tem
o prazo de 30 dias para fazê-lo. O
prazo cai para uma semana se
houver emergência social.
Em sua última decisão, o conselho considerou ilegal a instituição
de quotas para mulheres no mercado de trabalho. Argumentou
que o sistema de cotas fere o princípio da igualdade dos cidadãos.
Com agências internacionais
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