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São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

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Visitas revelam novo perfil da Polônia

RICHARD BERNSTEIN
DO "NEW YORK TIMES", EM VARSÓVIA

A caminho de São Petersburgo, o presidente George W. Bush desembarcou ontem na Polônia. Ele permanecerá até hoje na cidade de Cracóvia. Visitará, nas imediações, o museu hoje instalado em Auschwitz, antigo campo de concentração e extermínio nazista.
O primeiro-ministro britânico Tony Blair também pisou nas últimas horas em território polonês. Esteve ontem em Varsóvia.
Ambos procuram, com o gesto diplomaticamente amistoso, agradecer ao governo local o apoio recebido durante a guerra no Iraque, à qual se opunham membros importantes e mais tradicionais da Otan, como França e Alemanha.
Há 1.500 soldados poloneses no Iraque. A Polônia recebeu de Washington a missão de administrar uma das zonas do país.
Ou seja, o governo norte-americano está agora distinguindo a Polônia com o tratamento reservado aos aliados preferenciais. É um papel inesperado e estranho para um país mantido sob as sombras por séculos.
Há por parte dos Estados Unidos o desejo de que o centro de gravidade da Europa se desloque para o leste. A União Européia ampliada deixaria de ter em Berlim e Paris as capitais que exerceriam maior liderança.
Há alguns anos, após a queda do comunismo, os dirigentes poloneses procuraram garantir a segurança de seu país por meio de uma aproximação bastante explícita com os Estados Unidos.
Wlodzimierz Cimoszewicz, ministro polonês das Relações Exteriores, disse em recente entrevista que lamentava a ruptura da unidade em torno de questões básicas que até a guerra no Iraque existiu entre os europeus. Citou o caso da França. Em seguida disse que "nossos amigos" da Europa devem se convencer "de que deverão aceitar, a partir de agora, a Polônia como um parceiro sério".
O ministro citou o fato de a Polônia, com 40 milhões de habitantes, ser o maior entre aqueles que estão aderindo à União Européia, "onde pretendemos exercer um papel importante".
Essa questão ainda está em aberto. Sobre ela os poloneses têm discutido bastante, porque estão em campanha para o referendo sobre a adesão à União Européia, marcado para 8 de junho.
Há no país certo temor de que a Polônia será "engolida" pelos integrantes mais poderosos da UE. Na Alemanha a mídia tem sido até sarcástica, designando a Polônia como "o cavalo de Tróia", ao se aproximar excessivamente dos Estados Unidos, em lugar de construir uma personalidade diplomática própria ou européia.
O fato é que, se os poloneses não têm força suficiente para pressionar a Europa a um alinhamento automático com os Estados Unidos, eles acreditam ao mesmo tempo que terão mais poderes que outros parceiros acostumados com a antiga imagem de uma Polônia enfraquecida.
Wanda Rapaczynski, presidente da Ágora, um grande conglomerado de jornais e revistas, diz que os poloneses sabem que não são uma potência mundial, mas sentem-se por vezes gratificados com a ilusão de que tal diagnóstico possa existir.
Krzysztof Bobinski , editor e comentarista, diz que os poloneses estão cônscios de que os EUA garantem hoje a segurança do país. E que em troca há tarefas como o envio de tropas ao Iraque.
"A Polônia é um grande país com um sentido muito forte de sua própria história", disse Christopher Hill, embaixador norte-americano. "Não tem nada semelhante a algum ex-país comunista que hoje procura privatizar fabriquetas de tecidos."


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