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Visitas revelam novo perfil da Polônia
RICHARD BERNSTEIN
DO "NEW YORK TIMES", EM VARSÓVIA
A caminho de São Petersburgo,
o presidente George W. Bush desembarcou ontem na Polônia. Ele
permanecerá até hoje na cidade
de Cracóvia. Visitará, nas imediações, o museu hoje instalado em
Auschwitz, antigo campo de concentração e extermínio nazista.
O primeiro-ministro britânico
Tony Blair também pisou nas últimas horas em território polonês.
Esteve ontem em Varsóvia.
Ambos procuram, com o gesto
diplomaticamente amistoso,
agradecer ao governo local o
apoio recebido durante a guerra
no Iraque, à qual se opunham
membros importantes e mais tradicionais da Otan, como França e
Alemanha.
Há 1.500 soldados poloneses no
Iraque. A Polônia recebeu de
Washington a missão de administrar uma das zonas do país.
Ou seja, o governo norte-americano está agora distinguindo a
Polônia com o tratamento reservado aos aliados preferenciais. É
um papel inesperado e estranho
para um país mantido sob as
sombras por séculos.
Há por parte dos Estados Unidos o desejo de que o centro de
gravidade da Europa se desloque
para o leste. A União Européia
ampliada deixaria de ter em Berlim e Paris as capitais que exerceriam maior liderança.
Há alguns anos, após a queda do
comunismo, os dirigentes poloneses procuraram garantir a segurança de seu país por meio de
uma aproximação bastante explícita com os Estados Unidos.
Wlodzimierz Cimoszewicz, ministro polonês das Relações Exteriores, disse em recente entrevista
que lamentava a ruptura da unidade em torno de questões básicas que até a guerra no Iraque
existiu entre os europeus. Citou o
caso da França. Em seguida disse
que "nossos amigos" da Europa
devem se convencer "de que deverão aceitar, a partir de agora, a
Polônia como um parceiro sério".
O ministro citou o fato de a Polônia, com 40 milhões de habitantes, ser o maior entre aqueles que
estão aderindo à União Européia,
"onde pretendemos exercer um
papel importante".
Essa questão ainda está em
aberto. Sobre ela os poloneses têm
discutido bastante, porque estão
em campanha para o referendo
sobre a adesão à União Européia,
marcado para 8 de junho.
Há no país certo temor de que a
Polônia será "engolida" pelos integrantes mais poderosos da UE.
Na Alemanha a mídia tem sido
até sarcástica, designando a Polônia como "o cavalo de Tróia", ao
se aproximar excessivamente dos
Estados Unidos, em lugar de
construir uma personalidade diplomática própria ou européia.
O fato é que, se os poloneses não
têm força suficiente para pressionar a Europa a um alinhamento
automático com os Estados Unidos, eles acreditam ao mesmo
tempo que terão mais poderes
que outros parceiros acostumados com a antiga imagem de uma
Polônia enfraquecida.
Wanda Rapaczynski, presidente da Ágora, um grande conglomerado de jornais e revistas, diz
que os poloneses sabem que não
são uma potência mundial, mas
sentem-se por vezes gratificados
com a ilusão de que tal diagnóstico possa existir.
Krzysztof Bobinski , editor e comentarista, diz que os poloneses
estão cônscios de que os EUA garantem hoje a segurança do país.
E que em troca há tarefas como o
envio de tropas ao Iraque.
"A Polônia é um grande país
com um sentido muito forte de
sua própria história", disse Christopher Hill, embaixador norte-americano. "Não tem nada semelhante a algum ex-país comunista
que hoje procura privatizar fabriquetas de tecidos."
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