São Paulo, sábado, 31 de maio de 2008

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PT barrou as Farc em foro da esquerda em São Paulo

Professor confirma ter sido procurado por grupo, como relata Reyes em e-mail

Dirigente das Farc queria que colombiano radicado na capital paulista intercedesse por presença da guerrilha; Lula discursou no encontro


CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) foram impedidas de participar da reunião do Foro de São Paulo realizada no Memorial da América Latina, na capital paulista, em julho de 2005. A ocasião marcou os 15 anos de fundação do grupo -que reúne os partidos de esquerda latino-americanos- e contou com a presença do presidente Lula.
A tentativa frustrada está registrada em e-mail atribuído a Raúl Reyes, obtido pela Folha, e foi confirmada pelo advogado colombiano Pietro Lora Alarcón. Professor da PUC-SP, Lora disse que foi procurado pelo padre Olivério Medina, então embaixador das Farc no Brasil.
"Olivério queria se pronunciar na reunião do Foro e me entregou um pedido formal, que eu apresentei ao grupo de trabalho", afirmou o advogado. "Mas o pedido acabou rejeitado pela secretaria executiva do Foro, ocupada pelo PT."
Lora explicou que participou do Foro de São Paulo na condição de membro do Comitê Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos na Colômbia. "Nunca tive qualquer relação com as Farc", disse.
Em outro e-mail sobre a reunião, de junho de 2005, Lora é chamado de "camarada" por Rodrigo Granda, "chanceler" das Farc, que dá outra versão do episódio: "Informam-nos que o camarada Pietro Lora não participou da reunião do grupo de trabalho do Foro, porque, segundo disse, nunca recebeu de Bogotá o documento para apresentar ali".
As Farc também foram barradas num seminário ocorrido na Nicarágua, em 2004. Um ano depois da chegada de Lula ao poder, o PT teria assumido um distanciamento estratégico em relação à guerrilha colombiana. "Os brasileiros não estavam interessados em que as Farc participassem da reunião na Nicarágua", escreveu Granda a Reyes. Na mensagem eletrônica, o "chanceler" ressalta que preferiu enviar ao encontro em Manágua apenas um representante, "Hermes", recomendando-lhe discrição.
No final de 2005, Pietro Lora foi procurado pelo vereador Edson Albertão (PSOL, ex-PT), de Osasco. O político queria do advogado um parecer favorável à concessão do refúgio político a Olivério Medina, que havia sido preso como alvo de um processo de extradição movido pela Justiça colombiana.
O parecer foi entregue ao Conare (Comitê Nacional de Refugiados), mas Lora acha que o documento não teve nenhuma influência na decisão do órgão de conceder asilo político a Medina no Brasil, em 2007.


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