São Paulo, sábado, 31 de maio de 2008

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Mianmar expulsa vítimas de campos de refugiados

Para militares, população terá mais estabilidade em áreas atingidas por ciclone

Jornal do governo afirma que população não precisa receber "chocolate" doado porque pode dispor de "rãs comestíveis em abundância"


DA REDAÇÃO

A junta militar que governa Mianmar (antiga Birmânia) está forçando vítimas do ciclone Nargis -que devastou o país no começo de maio- a deixarem os campos de refugiados e voltarem para as suas casas.
"É melhor que eles [desabrigados] mudem para suas casas, onde há mais estabilidade. Aqui, eles dependem de doações", disse um militar.
Oito campos em Bogalay estão "totalmente vazios", disse Teh Tai Ring, funcionário da Unicef (Fundação das Nações Unidas para a Infância). "O governo está retirando as pessoas sem aviso prévio." Em Kyauktan, foram 39 campos.
Mais de 400 vítimas de Labutta -outra cidade do delta do rio Irrawaddy, a área mais afetada- foram obrigadas a sair de uma igreja em Yangun. "Foi uma cena de tristeza, desespero e dor", contou um dos membros da Igreja Batista.
Com exceção de algumas grávidas, duas crianças e poucos doentes, os refugiados embarcaram em 11 caminhões. "Sabíamos que teríamos de sair em algum momento, mas esperávamos mais ajuda", disse Kyaw Moe Thu, 21. Com cinco irmãos, recebeu 20 varas de bambu para reconstruir a vida.
Em Labutta, os campos também estão sendo esvaziados. A junta já havia adotado a mesma postura com escolas para a realizar, no dia 10, o referendo que aprovou a nova Constituição do país, promulgada ontem.
A OIT (Organização Internacional do Trabalho) alertou que a junta pode forçar as pessoas a trabalharem na reconstrução do país. "Forças humanitárias devem prestar atenção ao risco crescente de trabalho forçado, trabalho infantil e tráfico humano", disse.

Sem chocolate
O despejo ocorre um dia após nova crítica da imprensa local contra o clamor de organizações estrangeiras para irem ao delta. Na semana passada, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, ouviu da junta que o acesso seria facilitado.
"A população de Mianmar é capaz de superar esse tipo de catástrofe natural sem assistência internacional. Neste início de monção [vento favorável à navegação], podem-se achar grandes rãs comestíveis em abundância. As pessoas podem sobreviver sozinhas, ainda que não recebam chocolate da comunidade internacional", escreveu o jornal oficial da junta.
A referência ao chocolate é metafórica, mas mostra o medo da junta de permitir que estrangeiros distribuam ajuda.
"Os militares sabem que a ajuda externa salvará vidas e ajudará a reconstruir áreas devastadas, mas temem a conseqüência política de se abrirem para equipes de ajuda internacional", criticou o premiê de Cingapura, Lee Hsien Loong. "Isso pode mostrar incapacidade e diminuir a credibilidade."
A ONU estima que menos de 50% das vítimas tenham recebido ajuda. O número oficial de mortos está perto de 78 mil.


Com agências internacionais


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