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Mianmar expulsa vítimas de campos de refugiados
Para militares, população terá mais estabilidade em áreas atingidas por ciclone
Jornal do governo afirma
que população não precisa
receber "chocolate" doado
porque pode dispor de "rãs
comestíveis em
abundância"
DA REDAÇÃO
A junta militar que governa
Mianmar (antiga Birmânia) está forçando vítimas do ciclone
Nargis -que devastou o país no
começo de maio- a deixarem
os campos de refugiados e voltarem para as suas casas.
"É melhor que eles [desabrigados] mudem para suas casas,
onde há mais estabilidade.
Aqui, eles dependem de doações", disse um militar.
Oito campos em Bogalay estão "totalmente vazios", disse
Teh Tai Ring, funcionário da
Unicef (Fundação das Nações
Unidas para a Infância). "O governo está retirando as pessoas
sem aviso prévio." Em Kyauktan, foram 39 campos.
Mais de 400 vítimas de Labutta -outra cidade do delta do
rio Irrawaddy, a área mais afetada- foram obrigadas a sair de
uma igreja em Yangun. "Foi
uma cena de tristeza, desespero e dor", contou um dos membros da Igreja Batista.
Com exceção de algumas grávidas, duas crianças e poucos
doentes, os refugiados embarcaram em 11 caminhões. "Sabíamos que teríamos de sair em
algum momento, mas esperávamos mais ajuda", disse Kyaw
Moe Thu, 21. Com cinco irmãos, recebeu 20 varas de
bambu para reconstruir a vida.
Em Labutta, os campos também estão sendo esvaziados. A
junta já havia adotado a mesma
postura com escolas para a realizar, no dia 10, o referendo que
aprovou a nova Constituição do
país, promulgada ontem.
A OIT (Organização Internacional do Trabalho) alertou que
a junta pode forçar as pessoas a
trabalharem na reconstrução
do país. "Forças humanitárias
devem prestar atenção ao risco
crescente de trabalho forçado,
trabalho infantil e tráfico humano", disse.
Sem chocolate
O despejo ocorre um dia após
nova crítica da imprensa local
contra o clamor de organizações estrangeiras para irem ao
delta. Na semana passada, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, ouviu da junta que o
acesso seria facilitado.
"A população de Mianmar é
capaz de superar esse tipo de
catástrofe natural sem assistência internacional. Neste início de monção [vento favorável
à navegação], podem-se achar
grandes rãs comestíveis em
abundância. As pessoas podem
sobreviver sozinhas, ainda que
não recebam chocolate da comunidade internacional", escreveu o jornal oficial da junta.
A referência ao chocolate é
metafórica, mas mostra o medo
da junta de permitir que estrangeiros distribuam ajuda.
"Os militares sabem que a
ajuda externa salvará vidas e
ajudará a reconstruir áreas devastadas, mas temem a conseqüência política de se abrirem
para equipes de ajuda internacional", criticou o premiê de
Cingapura, Lee Hsien Loong.
"Isso pode mostrar incapacidade e diminuir a credibilidade."
A ONU estima que menos de
50% das vítimas tenham recebido ajuda. O número oficial de
mortos está perto de 78 mil.
Com agências internacionais
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