São Paulo, sábado, 31 de maio de 2008

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Crianças de seita vão para casa na segunda

Data foi marcada após acordo no qual mães se comprometem a permanecer no Texas e freqüentar aulas

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

As mais de 400 crianças retiradas de rancho no interior do Texas onde suas famílias viviam em uma seita poligâmica -na qual adultos se casavam com menores- já têm data para voltar para casa.
Elas serão devolvidas às mães a partir de segunda-feira, após quase dois meses morando em abrigos provisórios, sob tutela do Serviço de Proteção ao Menor, do governo do Estado. O acordo foi feito ontem depois que 38 mães de 124 das crianças assumiram compromissos como permanecer no Estado e freqüentar "aulas parentais".
As famílias integram um grupo da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, dissidência da Igreja Mórmon que prega a poligamia, prática ilegal em todos os Estados americanos.
O direito de reaver os filhos deverá ser estendido às mães que não estavam na reunião que resultou na assinatura do termo de compromisso, desde que elas apresentem fotos dos filhos e documentos de identificação. Há também orientação para que as famílias busquem um lugar fora do rancho para morar.
Além dos matrimônios concomitantes, os membros da seita são acusados de promover o casamento entre homens adultos e meninas de até 12 anos, o que caracteriza estupro segundo as leis americanas.
Na quinta-feira, a Suprema Corte do Texas ratificou decisão judicial segundo a qual os assistentes sociais do Serviço de Proteção ao Menor não tinham autoridade para separar pais e filhos e não havia provas de que as famílias representam perigo iminente para as crianças, apesar de denúncias de que menores eram molestados.
A transferência das crianças para abrigos havia sido criticada por entidades de direitos humanos e também motivou protestos de membros da seita. "Foi uma catástrofe emocional e um trauma físico para essas famílias, um dano permanente que estará nelas pelo resto de suas vidas. Essas pessoas e suas crianças passarão o resto da vida tentando entender pelo que passaram", disse Willie Jessup, porta-voz da seita, em uma entrevista coletiva.

DNA do líder
Autoridades do Texas também anunciaram ontem a coleta de amostras de DNA de Warren Jeffs, 53, que era líder da seita até o ano passado, quando foi preso no Arizona.
A prisão ocorreu após Jeffs admitir que, utilizando seus poderes de líder, forçou uma adolescente de 14 anos a se casar com o primo de 19 em 2001, em cerimônia da seita no Estado de Utah. Ele aguarda julgamento por esse crime, no qual pode pegar até prisão perpétua.
A amostra de DNA será usada para tentar confirmar uma acusação ainda mais grave contra Jeffs: de que ele próprio teve quatro "casamentos espirituais" com meninas de idades entre 12 e 15 anos. As adolescentes tiveram filhos e, se o teste atribuir a paternidade a Jeffs, ele será também acusado de estupro.
A Justiça do Texas diz ter chegado à informação de que Jeffs se "casou" com essas menores baseado nos autos da própria seita.
"No exame, você verá a evidência de que Jeffs se casou com quatro jovens garotas. Duas de 12 anos, uma de 14 anos e uma de 15 anos", disse Jerry Strickland, promotor do Texas.

Histórico judicial
A seita já havia sofrido outros processos em anos anteriores por promover a poligamia apesar da prática ser ilegal nos Estados Unidos.
A invasão das autoridades texanas ao rancho para retirar as crianças da guarda dos pais aconteceu depois que uma adolescente de 16 anos denunciou abusos de Dale Barlow, 50, com quem diz ter sido obrigada a se casar. Segundo o processo judicial, ela teve um bebê aos 15 anos, fruto dessa relação.
A seita religiosa, hoje com cerca de 10 mil seguidores, foi criada nos anos 30 por membros excomungados da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (mórmon), que rejeita a poligamia desde 1890.
Já o rancho do Texas, pertencente a Jeffs, foi inaugurado em 2004. Localizado na zona rural do oeste texano, também atraiu participantes vindos de Estados vizinhos, como Arizona e Utah.


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