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Crianças de seita vão para casa na segunda
Data foi marcada após acordo no qual mães se comprometem a permanecer no Texas e freqüentar aulas
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
As mais de 400 crianças retiradas de rancho no interior do
Texas onde suas famílias viviam em uma seita poligâmica
-na qual adultos se casavam
com menores- já têm data para voltar para casa.
Elas serão devolvidas às
mães a partir de segunda-feira,
após quase dois meses morando em abrigos provisórios, sob
tutela do Serviço de Proteção
ao Menor, do governo do Estado. O acordo foi feito ontem depois que 38 mães de 124 das
crianças assumiram compromissos como permanecer no
Estado e freqüentar "aulas parentais".
As famílias integram um grupo da Igreja Fundamentalista
de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias, dissidência da
Igreja Mórmon que prega a poligamia, prática ilegal em todos
os Estados americanos.
O direito de reaver os filhos
deverá ser estendido às mães
que não estavam na reunião
que resultou na assinatura do
termo de compromisso, desde
que elas apresentem fotos dos
filhos e documentos de identificação. Há também orientação
para que as famílias busquem
um lugar fora do rancho para
morar.
Além dos matrimônios concomitantes, os membros da seita são acusados de promover o
casamento entre homens adultos e meninas de até 12 anos, o
que caracteriza estupro segundo as leis americanas.
Na quinta-feira, a Suprema
Corte do Texas ratificou decisão judicial segundo a qual os
assistentes sociais do Serviço
de Proteção ao Menor não tinham autoridade para separar
pais e filhos e não havia provas
de que as famílias representam
perigo iminente para as crianças, apesar de denúncias de que
menores eram molestados.
A transferência das crianças
para abrigos havia sido criticada por entidades de direitos humanos e também motivou protestos de membros da seita.
"Foi uma catástrofe emocional
e um trauma físico para essas
famílias, um dano permanente
que estará nelas pelo resto de
suas vidas. Essas pessoas e suas
crianças passarão o resto da vida tentando entender pelo que
passaram", disse Willie Jessup,
porta-voz da seita, em uma entrevista coletiva.
DNA do líder
Autoridades do Texas também anunciaram ontem a coleta de amostras de DNA de Warren Jeffs, 53, que era líder da
seita até o ano passado, quando
foi preso no Arizona.
A prisão ocorreu após Jeffs
admitir que, utilizando seus
poderes de líder, forçou uma
adolescente de 14 anos a se casar com o primo de 19 em 2001,
em cerimônia da seita no Estado de Utah. Ele aguarda julgamento por esse crime, no qual
pode pegar até prisão perpétua.
A amostra de DNA será usada
para tentar confirmar uma acusação ainda mais grave contra
Jeffs: de que ele próprio teve
quatro "casamentos espirituais" com meninas de idades
entre 12 e 15 anos. As adolescentes tiveram filhos e, se o teste atribuir a paternidade a
Jeffs, ele será também acusado
de estupro.
A Justiça do Texas diz ter
chegado à informação de que
Jeffs se "casou" com essas menores baseado nos autos da
própria seita.
"No exame, você verá a evidência de que Jeffs se casou
com quatro jovens garotas.
Duas de 12 anos, uma de 14
anos e uma de 15 anos", disse
Jerry Strickland, promotor do
Texas.
Histórico judicial
A seita já havia sofrido outros
processos em anos anteriores
por promover a poligamia apesar da prática ser ilegal nos Estados Unidos.
A invasão das autoridades texanas ao rancho para retirar as
crianças da guarda dos pais
aconteceu depois que uma adolescente de 16 anos denunciou
abusos de Dale Barlow, 50, com
quem diz ter sido obrigada a se
casar. Segundo o processo judicial, ela teve um bebê aos 15
anos, fruto dessa relação.
A seita religiosa, hoje com
cerca de 10 mil seguidores, foi
criada nos anos 30 por membros excomungados da Igreja
de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias (mórmon), que
rejeita a poligamia desde 1890.
Já o rancho do Texas, pertencente a Jeffs, foi inaugurado em
2004. Localizado na zona rural
do oeste texano, também atraiu
participantes vindos de Estados vizinhos, como Arizona e
Utah.
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