São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ilha festeja "cubanização" da agenda

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

No cálculo de Havana, a Assembleia Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) em Honduras já é uma vitória diplomática de antemão: é a segunda reunião continental de peso, já na era Obama e em menos de dois meses, cujo tema central é Cuba.
O governo cubano diz e reitera que não tem interesse em voltar à instituição. Mas assiste com satisfação à movimentação dos países latino-americanos pelo fim da suspensão do país, que data de 1962 -assim como aplaudiu o coro pelo fim do embargo imposto pelos EUA na Cúpula das Américas, em abril.
Mas, apesar da retórica de que a OEA é um "cadáver pestilento", Havana acompanha de perto, por meio de seus aliados mais chegados, as negociações e tenta evitar que o eventual fim da suspensão venha acompanhado de cobranças sobre democracia representativa e respeito aos direitos humanos, como querem os EUA, diz uma fonte próxima do processo de discussão.
"A realidade é que sem a OEA, os EUA perderiam um de seus principais instrumentos político-jurídicos de controle hegemônico sobre o hemisfério ocidental", escreveu na sexta o jornal oficial "Granma". Já o governo elogia a OEALC (Organização dos Estados da América Latina e do Caribe), lançada em dezembro no Brasil.
Para Juan Antonio Blanco, ex-diplomata cubano, hoje no exílio, uma das intenções do regime cubano na reunião é pôr os EUA numa situação na qual têm pouca margem para se mover.
Blanco, que serviu na missão de Cuba na ONU nos anos 70 e deixou a ilha em 1997, vê aí estratégia para mostrar ao público interno que Barack Obama, "que é mais popular em Cuba que qualquer dirigente cubano", também tem limitações na aproximação com a ilha.
Com a volta do racionamento -e alguns apagões- de energia e com a crise financeira cada vez mais evidente, o retorno da ilha à OEA poderia permitir, por exemplo, o crédito junto ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Mas a ideia de que Havana poderia ter essa visão pragmática ignora outros limites do regime, diz um diplomata brasileiro próximo do tema, que lembra quantas vezes Fidel Castro já vociferou contra a instituição.


Texto Anterior: Cuba é questão de honra e saia-justa na OEA
Próximo Texto: Oferta dos EUA à ilha esbarra em lei e pressão domésticas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.