|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TESTEMUNHAS DE JEOVÁ
Quase 2.000 morreram por se recusar a aderir ao regime; adeptos eram obrigados a usar um triângulo roxo
Cristãos recordam perseguição nazista
PAULO DANIEL FARAH
da Redação
Os nazistas perseguiram, além de
judeus, ciganos, homossexuais e
comunistas, cristãos que se recusavam a aderir ao regime. É o que os
testemunhas-de-Jeová vêm procurando divulgar e debater.
Sobreviventes e pesquisadores
vieram a São Paulo, na semana
passada, para participar do seminário "Triângulos Roxos - Vítimas
Esquecidas do Nazismo".
Na década de 30, havia cerca de
20 mil testemunhas-de-Jeová na
Alemanha. Mais de 6.000 foram
presos e quase 2.000 morreram.
Eles foram enviados a campos de
concentração como Ravensbrück,
Wewelburg, Sachsenhausen, Buchenwald e Brandenburg, onde recebiam uma insígnia de identificação própria: um triângulo roxo.
Os testemunhas-de-Jeová recebiam 25 chibatadas ao chegar aos
campos e eram proibidos de falar
com outros prisioneiros.
Em 1933, ano em que Hitler assumiu o poder, nazistas invadiram o
escritório central dos testemunhas-de-Jeová e proscreveram toda a literatura religiosa dessa denominação. A partir desse ano, começaram os problemas com o regime racista, que duraria até 1945.
O congresso "Não os temais!",
em 1934, procurou denunciar a
perseguição nazista. Um documento alemão de 1936 revela a prisão de 120 testemunhas-de-Jeová.
"O diabo colocou seu representante, Hitler, no poder", disse Joseph
S. Rutherford, então presidente da
Sociedade Torre de Vigia dos EUA
(dos testemunhas-de-Jeová).
A manchete da revista Consolação (publicada pela denominação
no Brasil) de fevereiro de 1938 dizia: "Terror no Terceiro Reich".
Eles podiam assinar uma declaração (Erklärung, em alemão) para
que renunciassem sua fé e se livrassem dos maus-tratos. Por
meio dela, comprometiam-se ainda a denunciar qualquer pessoa ligada aos testemunhas-de-Jeová.
É por isso que o historiador
Abraham Peck afirma que "os judeus eram vítimas sem opção e os
testemunhas-de-Jeová, por opção". Segundo ele, "a hostilidade
dos nazistas contra os judeus tinha
por finalidade aniquilá-los, não
lhes dando quase nenhuma alternativa. A perseguição contra os
testemunhas-de-Jeová visava eliminar a religião. Por esse motivo,
os nazistas lhes ofereciam liberdade contanto que renunciassem
sua fé. A maioria optou por sofrer
e morrer junto com outras vítimas
do nazismo em vez de apoiar a
ideologia de ódio e violência". Para Peck, o regime acreditava que o
objetivo político deles era estabelecer um governo teocrático.
O jornal norte-americano "The
New York Times" publicou, em
sua edição de 16 de setembro de
1939, que o primeiro objetor de
consciência alemão a ser fuzilado
durante o regime nazista foi August Dickmann, então com 29
anos. Ele era testemunha-de-Jeová e foi acusado de sabotagem.
Os membros dessa denominação cristã geralmente se recusam a
prestar o serviço militar.
Ben Abraham, vice-presidente da Associação Mundial dos Sobreviventes do
Nazismo, foi
enviado a oito
campos de
concentração,
onde passou
cinco anos e
meio. Ele conheceu testemunhas-de-Jeová e disse
que "eles não
aceitavam receber funções
por parte dos
alemães. Comportavam-se
com dignidade
e eram desprezados por prisioneiros criminosos. A diferença entre eles e todos os prisioneiros é que, renunciando sua fé e
comprometendo-se a denunciar
os outros que praticavam a mesma
crença, eram soltos na mesma hora. Mas preferiam permanecer
presos a renunciar a fé".
Para Pedro Catardo, testemunha-de-Jeová, "não pode haver atitude de conformismo perante as
autoridades. É preciso resistir espiritualmente".
"Como uma pessoa poderia renunciar sua fé em Deus e ainda ter
uma consciência livre, uma relação
verdadeira com Deus?", argumenta Rudolf Graichen, testemunha-de-Jeová que sobreviveu ao nazismo. Sua mãe morreu num campo
de concentração. "Obedecemos ao
governo de Deus, não ao do homem." Após o fim da guerra, Graichen ficou quatro anos preso na
Alemanha Oriental, onde, segundo ele, os testemunhas-de-Jeová
continuaram a ser perseguidos.
Texto Anterior: Ação ousada: Guerrilha colombiana sequestra 99 em igreja Próximo Texto: Alemã se recusava a fazer saudação hitlerista Índice
|