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DIPLOMACIA
Missão passou por Manaus, sem autorização, para negociar resgate de ex-senadora colombiana sequestrada pelas Farc
Brasil pede à França explicações sobre avião
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro solicitou à
França esclarecimentos "oficiais e
inequívocos" para que fatos como
o pouso de um avião militar francês em Manaus no início do mês
não se repitam. O embaixador
francês, em Brasília, foi convocado pela segunda vez na segunda-feira pelo Itamaraty.
Há duas semanas, a revista brasileira "Carta Capital" noticiou a
presença de um avião militar
francês no aeroporto de Manaus,
entre os dias 9 e 12 de julho.
Segundo a revista, os 11 militares e diplomatas franceses a bordo teriam o objetivo de negociar a
libertação da ex-senadora e ex-candidata à Presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, sequestrada pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Na ocasião, o governo
francês negou ter mantido contatos com a guerrilha terrorista.
Betancourt, 41, que também
tem nacionalidade francesa, foi
sequestrada pelas Farc em fevereiro do ano passado. O grupo
exige, para libertá-la, uma troca
por guerrilheiros presos.
"As declarações de autoridades
francesas à mídia daquele país são
ambíguas e imprecisas, não correspondem à realidade e não contribuem para a melhoria das relações entre Brasil e França", disse
Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Ministério das
Relações Exteriores, ontem.
Até o incidente, o Brasil e a
França mantinham boas relações
diplomáticas, e os presidentes
Jacques Chirac (França) e Luiz
Inácio Lula da Silva atuaram conjuntamente para tentar evitar a
Guerra do Iraque. Eles chegaram
até a trocar telefonemas.
Guimarães recebeu o embaixador francês, Alain Rouquié, para
cobrar explicações na segunda-feira. No dia 21, em um primeiro
encontro entre os dois, o Itamaraty deixou claro que o episódio
não correspondia ao princípio de
"respeito mútuo".
Segundo o secretário-geral, o
chanceler francês, Dominique de
Villepin, telefonou ao ministro
Celso Amorim (Relações Exteriores) no dia 12 avisando sobre a
presença do avião em solo brasileiro. Na conversa, Villepin não
teria informado o tipo de avião e a
quantidade de tripulantes.
Faria parte da missão um médico francês apto a dar tratamento
físico e psicológico a Betancourt
caso ela fosse libertada.
Questionado pelo chanceler
brasileiro se os tripulantes haviam
mantido contato com as Farc e se
estavam armados, Villepin teria
negado ambas as hipóteses, segundo Guimarães.
As Farc desmentiram, em um
comunicado na internet, que tenham negociado a libertação de
Betancourt com sua família ou
com o governo francês e afirmaram que ela só será solta após um
"acordo humanitário" com o governo colombiano.
No comunicado, divulgado na
noite de anteontem, as Farc dizem
ter recebido "com surpresa" as
notícias de que membros do grupo teriam contactado familiares
de Betancourt ou funcionários do
governo da França.
A irmã de Betancourt, Astrid,
disse que havia informado ao governo francês sobre a possível libertação da ex-senadora, após ter
sido contactada por um porta-voz
das Farc.
A filha da ex-senadora, Melanie,
17, acusou ontem a mídia de ter
prejudicado a possibilidade de
sua libertação com a polêmica sobre o avião francês. "A libertação
de minha mãe se tornou um sonho mais distante", disse.
(IURI DANTAS)
Com agências internacionais
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