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Brasília se alia a Madri contra bases dos EUA
Governos articulam ação conjunta para lidar com intenção americana de expandir sua presença militar na Colômbia
Negociações entre Bogotá e Washington foram estopim inicial para acirramento das tensões que fez Venezuela congelar relação com vizinho
Fernando Vergara/Associated Press
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Caminhões fazem fila em Cúcuta (Colômbia) para passar ao outro lado da fronteira com a Venezuela, que prometeu substituir importações vindas do país vizinho
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os governos da Espanha e do
Brasil articulam reações conjuntas da União Europeia e da
América Latina contra a intenção dos EUA de ampliarem sua
presença militar na Colômbia,
com distribuição de soldados e
civis americanos em três bases
no país.
Para Espanha e Brasil, isso
significa trazer para a região a
lógica da militarização e uma
corrida armamentista, com a
Colômbia servindo de plataforma para os EUA e a Venezuela,
para a Rússia.
"É preciso cuidado para evitar tensão e militarismo na
América Latina. Essa não é a
melhor resposta aos problemas
na região", disse o chanceler da
Espanha, Miguel Ángel Moratinos, depois de encontros com o
presidente Hugo Chávez (Venezuela), anteontem, em Caracas, e com o ministro Celso
Amorim (Relações Exteriores),
ontem, em Brasília.
O Itamaraty orientou o embaixador em Washington, Antonio Patriota, a questionar detalhes sobre a ampliação da
presença nas três bases, em
Malambo, Palanquero e Apiay.
Amorim cobra "transparência" e diz que o Brasil quer saber se o comando das operações ficará com os EUA ou com
a Colômbia e se haverá ampliação no limite de até 800 militares e de até 600 civis norte-americanos acertado no chamado Plano Colômbia.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em São
Paulo, ao lado da colega chilena, Michelle Bachelet, que não
lhe "agrada" a ideia de que os
EUA ampliem a presença militar na Colômbia e defendeu que
o acordo entre Washington e
Bogotá, ainda em negociação,
seja tratado na reunião da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) no Equador, no próximo dia 10.
Lula pediu que seja convocado o Conselho de Defesa da
Unasul, criado no ano passado,
para discutir o espinhoso tema
de segurança nas fronteiras e o
futuro acerto militar. Presidente pro-tempore do órgão multilateral, Bachelet, corroborou o
chamado.
"Posso dizer que a mim não
me agrada mais uma base na
Colômbia. Mas como eu não
gostaria que o [presidente da
Colômbia, Álvaro] Uribe desse
palpite nas coisas que eu faço
no Brasil, eu prefiro não dar
palpite nas coisas do Uribe",
continuou o brasileiro. Ele disse preferir "conversar pessoalmente" com Uribe em Quito.
A presidente do Chile defendeu que é preciso chegar a um
acordo "porque por certo há
países que não estão tranquilos" com a negociação Washington-Bogotá.
Lula traçou paralelo entre o
possível acordo dos EUA e a
Colômbia e a Quarta Frota Naval americana, reativada no ano
passado. O presidente lembrou
que o Brasil havia dito a Washington, por carta, que "não via
com bons olhos" a reativação
da esquadra, comando naval
responsável por todas as embarcações militares americanas nas águas da América Latina e do Caribe. O motivo, repetiu Lula, é que "a linha territorial dela [da esquadra] é quase
em cima do nosso pré-sal".
Crise bilateral
No discurso do governo Álvaro Uribe, a Colômbia manterá o
controle das três bases, que seguirão sendo de combate ao
narcotráfico e com o efetivo estrangeiro dentro do limite já
anteriormente estabelecido
dentro do Plano Colômbia.
No entanto, alastra-se na
América Latina e estende-se
agora para a Europa, via Espanha, o temor de que o novo governo dos Estados Unidos esteja recuando no discurso antibelicista e anti-invasivo do presidente Barack Obama.
A percepção nos países sul-americanos, levada à Europa, é
a de que o governo Obama está
usando as bases na Colômbia
para neutralizar a crescente
aproximação da Venezuela de
Chávez tanto com os russos,
dos quais adquiriu equipamentos bélicos, quanto com o Irã
-adversário de Washington.
Moratinos voou de Caracas
para Brasília anteontem à noite
para jantar com autoridades
brasileiras, inclusive com o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Um dos temas foi a tensão Colômbia-Venezuela.
Garcia está indo para Caracas e para Bogotá como enviado
de Lula para obter informações
e tentar mediar o diálogo entre
Chávez e Uribe. Ele vai tentar
articular a ida de Chávez à Colômbia na semana que vem.
A Venezuela retirou na terça
seu embaixador do país vizinho, depois de cobranças públicas para que explicasse o achado de armas do Exército venezuelano com as Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da
Colômbia). O governo Chávez
diz que a acusação é uma "cortina de fumaça" para desviar a
atenção da discussão sobre as
bases militares.
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