CLARE GARNER
do "The Independent"

Um padre católico descreveu em primeira mão a vida num centro de reabilitação, isolado e pouco conhecido, usado pela Igreja Católica para "tratar" sacerdotes alcoólatras, homossexuais e pedófilos. Ele foi enviado para lá depois da descoberta, por seu bispo, de que era homossexual praticante.
Em artigo anônimo que escreveu para o "The Independent", ele faz um relato da impressão que lhe causou sua estadia de uma semana em Our Lady of Victory, lugar que descreve como sendo semelhante a uma "prisão aberta", situado perto de Stroud, sul da Inglaterra.
A igreja mantém reserva sobre a vida no interior do centro. O local é dirigido pelos Servos do Paracleto, uma congregação religiosa masculina dedicada ao atendimento a padres e monges que estejam passando por "dificuldades pessoais". Qualquer religioso "enviado a Stroud", como se diz nos círculos católicos ingleses, para um período mais longo do que o da avaliação inicial, é obrigado a assinar contrato de sigilo.
Para os moradores da região vizinha, o centro não passa de uma "clínica para religiosos beberrões". Mas o padre descreve a "apatia" dos internos, "como se, sentindo que foram vencidos, tivessem perdido qualquer desejo de independência".
Ele acredita que a "opacidade de seus olhares" trai "alguma forma de lavagem cerebral". "De que outro modo", indaga, "se pode 'curar' a pedofilia ou qualquer forma de vício, sexual ou outra?".
O centro afirma oferecer "terapia num contexto espiritual". Segundo o padre Kieran Conroy, diretor do Escritório de Mídia Católica, a abordagem que adota lembra mais um "campo de treinamento militar terapêutico" do que o "divã do terapeuta".
Conroy disse que o tratamento oferecido pelo centro se caracteriza pelo confronto direto com o paciente. "Eles confrontam o paciente com suas falhas, e não há chance de negar nada. É um processo de derrubar tudo e construir outra vez. Para pessoas vulneráveis, é difícil lidar com isso."
Suicídio
A ordem dos Servos do Paracleto foi fundada em 1947 pelo padre Gerald Fitzgerald. Possui cerca de 30 internos em Stroud, e há uma lista de espera. Our Lady of the Victory chegou às manchetes dos jornais em 1993, quando o padre católico Sean Seddon, de 38 anos, foi enviado para esquecer o romance de seis anos que mantinha com uma professora. Ao saber que sua amante perdera o filho que esperavam, o padre se matou.
Conroy acredita que a maioria dos internos em Stroud seja formada por alcoólatras que seguem o Programa de Dependência Química, baseado nos 12 passos dos Alcoólicos Anônimos."No caso de pedofilia, o que se faria seria mais uma avaliação do caso do que um tratamento", disse ele, "porque a maioria das pessoas percebe que a pedofilia não é um distúrbio que se consiga tratar com êxito". Para ele, o centro não constitui uma alternativa aos tribunais. Alguns dos padres que estão sofrendo tratamento por terem praticado abuso de crianças já cumpriram pena de prisão.
No final do tratamento, a equipe de Stroud avalia o risco de o padre pedófilo reincidir no delito. "Se eles optam por permanecer no sacerdócio -e normalmente é isso que fazem, senão não teriam passado seis meses ou até dois anos aqui-, a igreja terá que decidir qual é o lugar mais seguro para trabalharem. Quando se trata de pessoa de alto risco, é preciso assegurar que ela vá trabalhar em um lugar onde o risco de entrar em contato com crianças é mínimo ou zero", diz.




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