São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2004

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"Prefiro matá-los bem longe daqui"

DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Edward Irving Koch, 80, mais conhecido como Ed Koch, diz que nasceu e que vai "morrer como um democrata". Mas, nesta eleição, um dos mais populares ex-prefeitos de Nova York vai votar em George W. Bush, do Partido Republicano.
"Eu não quero ser morto por terroristas que já conseguiram nos atacar uma vez. Prefiro matá-los, e bem longe daqui, a ter de encarar mais pessoas mortas em minha cidade", diz Koch.
Nascido no bairro do Bronx, Koch foi eleito três vezes para a Prefeitura de Nova York pelo Partido Democrata, entre 1978 e 1989. Leia os principais trechos de sua entrevista à Folha. (FCz)
 

Folha - Como o sr. explica que a maioria dos nova-iorquinos não pense como o sr.?
Ed Koch -
Isso não me surpreende. Nova York é uma cidade ultraliberal. Eu mesmo não sei como fui eleito tantas vezes aqui. Minhas batalhas principais sempre foram nas primárias. Depois de conseguir a nomeação do partido, tinha entre 70% e 80% dos votos. A cidade sempre vota nos democratas, sempre.

Folha - Como o sr. vê a posição do democrata John Kerry, que defende uma "guerra ao terror com sensibilidade"?
Koch -
O vice-presidente [Dick Cheney] fez bem em massacrar Kerry por esse comentário. O que é uma "guerra com sensibilidade"? Kerry quer irritar os terroristas? O que isso quer dizer?
Não são todos os islâmicos, mas milhares ou até milhões de fanáticos fundamentalistas querem nos matar. Eu não quero ser morto por terroristas, e eles já conseguiram nos atacar com força uma vez. Eu prefiro matá-los, e bem longe, a ter de encarar mais pessoas mortas em minha cidade. E estou falando de judeus, cristãos, hindus e de todas as outras religiões que convivem pacificamente aqui. Não podemos aceitar que os terroristas acreditem que o islamismo é superior e que venham nos matar por isso. Osama Bin Laden se tornou a figura mais popular do mundo islâmico. Isso me dá muito medo.

Folha - O sr. se sente confortável votando em Bush em uma eleição tão polarizada?
Koch -
Nasci democrata e vou morrer democrata. Já cruzei essa linha partidária antes, mas nunca em uma eleição presidencial, mas para prefeito. Votei em [Rudolph] Giuliani [prefeito no período de 1994 a 2002] e em [Michael] Bloomberg [o atual governante municipal]. Veja bem, eu tenho 80 anos. Nesse ponto da minha vida, não quero nada de ninguém, não vou me candidatar a mais nada e não quero ser embaixador em lugar nenhum.
Eu não dou a mínima para o que os democratas estão pensando. Recebi cartas reclamando e respondi a cada uma educadamente, da seguinte forma: "Servi meu país como homem público ao longo de 23 anos. Creio que sei muito sobre assuntos de interesse público, pelos quais dediquei minha vida. Tenho o mesmo direito que você de decidir em quem votar, mas não concordamos dessa vez". Ponto.

Folha - O que o sr. recomendaria para uma cidade tão complicada como São Paulo?
Koch -
Eu já estive em São Paulo e gostei muito da cidade. Minha recomendação para vocês é: chutem os corruptos para fora dos cargos públicos. Eles estão sugando o seu futuro.


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