São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2004

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ÁFRICA

Reféns seriam funcionários da ONU e do Crescente Vermelho; organizações tratam caso como "desaparecimento"

Rebeldes seqüestraram oito, diz Sudão

DA REDAÇÃO

O governo do Sudão afirmou ontem que oito funcionários da ONU e do Crescente Vermelho (o equivalente muçulmano da Cruz Vermelha) foram seqüestrados por rebeldes na região de Darfur, no domingo.
Segundo comunicado do Ministério de Assuntos Humanitários, as vítimas são três funcionários sudaneses do Programa Mundial de Alimentação da ONU (WFP, na sigla em inglês) e cinco do Crescente Vermelho Sudanês.
Porta-vozes do WFP afirmaram que oito funcionários das duas organizações estão desaparecidos, mas não confirmaram os seqüestros. Eles estavam próximo a uma vila a 85 km de Al Fasher, principal cidade de Darfur, em uma missão de registro de refugiados.
"O último contato deles por rádio foi no sábado à tarde", disse Marcus Prior, do WFP. Segundo ele, foi montada uma operação de busca dos funcionários.
O governo em Cartum, no entanto, responsabilizou os rebeldes -com quem retomou negociações ontem, na Nigéria. "Eles não querem que a situação em Darfur se estabilize e isso [os seqüestros] está no contexto de seu comportamento, que tem reiteradamente alvejado o trabalho humanitário", afirmou comunicado oficial.
O conflito em Darfur começou em 2003, quando rebeldes lançaram ataques contra alvos governamentais, acusando Cartum de favorecer a população árabe em detrimento da africana.
Grupos de direitos humanos dizem que, em resposta aos ataques, o governo mobilizou e armou uma milícia árabe, conhecida como Janjaweed, que começou uma campanha de "limpeza étnica" nas aldeias africanas. O conflito já deixou 1,2 milhão de refugiados e 50 mil mortos. Cartum nega qualquer ligação com as milícias.
Antes do anúncio dos seqüestros, o enviado da ONU para a região, Dennis McNamara, disse que os refugiados continuam sendo alvo de ataques de milícias armadas, incluindo estupros múltiplos de mulheres e crianças.
"Há relatos suficientes de que isso ainda é um grande problema. A segurança tem de melhorar e os criminosos têm de ser processados", disse McNamara, após visitar campos de refugiados. "Há uma crise de proteção em Darfur hoje. Não estamos em condições de proteger adequadamente civis refugiados."
O embaixador sudanês no Reino Unido (ex-potência colonial do Sudão), Hasan Abdin, respondeu que Cartum já havia começado a combater as milícias, mas que esse seria um processo longo. "É injusto dizer que nada foi feito. Mas há, sim, incidentes."
As críticas coincidiram com o fim do prazo estabelecido pelo Conselho de Segurança da ONU para que Cartum desarmasse os milicianos da Janjaweed e melhorasse as condições de segurança na região, sob ameaça de sanções.
McNamara evitou dizer, no entanto, que tipo de sanções a ONU pretende aplicar ou quando. "É um processo político que tomará seu próprio caminho."
O Conselho de Segurança deve se reunir na quinta-feira para definir os próximos passos a serem tomados, após ter em mãos um relatório sobre a situação no Sudão produzido por observadores da União Africana. "Esperamos que o Conselho de Segurança saia com uma decisão razoável que nos permita continuar trabalhando juntos", disse o chanceler sudanês, Mustafa Osman Ismail.


Com agências internacionais

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