São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2008

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Obama se sai melhor na internet e colhe nela maioria das doações

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A ST. PAUL

Promessa há várias eleições, a internet tornou-se uma realidade nas disputas políticas dos EUA deste ano. O uso da web popularizou-se para quase tudo, de arrecadação de fundos a promoção de vídeos virais contra adversários, de ferramenta para organização da militância a divulgação de fatos importantes da campanha.
Apesar de o democrata Barack Obama vestir hoje o figurino de mais completo político do mundo virtual, coube a Hillary Clinton um ato ousado no início da corrida presidencial, em 2007. Quando ela decidiu anunciar oficialmente sua pré-candidatura, não chamou repórteres para uma entrevista nem elegeu um jornal ou TV para oferecer um furo: divulgou um vídeo no YouTube. Ao jogar a toalha, Hillary também dispensou a clássica entrevista coletiva e preferiu enviar um e-mail aos correligionários -que receberam o texto ao mesmo tempo que a mídia.
Obama, na sua última investida na web, pediu a seus militantes que se cadastrassem para receber um torpedo no celular ou um e-mail em primeira mão com o nome do candidato a vice-presidente. Não deu muito certo, pois a informação vazou, mas as mensagens foram enviadas na seqüência aos que estavam inscritos.
O candidato democrata bate recorde atrás de recorde de audiência na internet. Em janeiro, seus vídeos no YouTube já registravam 6,6 milhões de cliques. Na manhã de sexta-feira, dia seguinte ao seu discurso na convenção democrata, sua audiência estava em 57,4 milhões.
Obama, assim como muitos políticos, já tem um canal próprio no YouTube -no Brasil, isso seria impossível pelo fato de a Justiça Eleitoral ter proibido propaganda fora do site oficial dos candidatos. Nos EUA, um eleitor obamista pode entrar no YouTube para assistir notícias da campanha e já tem a opção de clicar no botão "contribute" (contribua) para fazer uma doação com cartão de crédito ou de débito. A operação dura menos de um minuto e fica completamente registrada.
A arrecadação pela internet é a grande aliada dos políticos americanos. O eleitor fornece nome e alguns dados pessoais, o número do cartão de crédito ou débito e assinala a quantia que deseja doar. Clica em "OK" e o dinheiro segue para a conta de campanha do candidato.
Numa campanha bilionária (os candidatos a presidente juntos já embolsaram US$ 1,2 bilhão), Obama está à frente. Sua arrecadação total até 31 de julho era de US$ 401,3 milhões, sendo que US$ 190,7 milhões foram doações individuais com valor abaixo de US$ 200. A maioria desse dinheiro foi oferecida pela internet.
Como Obama declara que as doações recebidas são em grande maioria abaixo de US$ 100, estima-se que ele tenha acumulado aproximadamente 1,9 milhão de doadores de pequenas quantias até julho. Sua campanha diz ter registrado mais de 2 milhões de doadores -é impossível saber o número exato, pois a lei exime os políticos nos EUA de divulgarem de maneira detalhada os doadores de valores até US$ 200.
Ninguém duvida, porém, da enxurrada de dinheiro miúdo desaguando na conta do democrata. Pelas estimativas mais conservadoras, 51% do dinheiro de Obama vem do eleitor comum, o simpatizante interessado em doar até US$ 200. Se ele for eleito, será a primeira vez na história moderna dos EUA que um presidente foi financiado majoritariamente pelos próprios eleitores -e não por grandes empresas.
Como comparação, em 2000, George W. Bush teve 16% de seu financiamento vindo de pequenos doadores individuais. Em 2004, melhorou a marca para 37%, mas ainda nada comparável à avalanche da "clicocracia" obamista.

Atrás do tempo perdido
John McCain demorou para acordar para a rede mundial de computadores. Nos últimos 60 dias, parece ter percebido a necessidade de derrotar a hegemonia de Obama na web.
Vários vídeos de McCain passaram a ser apresentados no canal do republicano no YouTube. A audiência acumulada desde o início da campanha ainda não se compara à de Obama, mas houve um salto. Em maio, os vídeos do republicano registravam apenas 3,8 milhões de cliques. Na última sexta, o número havia pulado para 13,2 milhões, um aumento de 246% em três meses. No mesmo período, Obama cresceu 15%.
Mais expressiva é a disparada recente de McCain no YouTube, graças a vídeos com críticas ao rival. Do último dia 15 até anteontem, a audiência pulou de 9,6 milhões de cliques para os atuais 13,2 milhões -um salto de 37% em duas semanas.
Já quando o assunto é dinheiro pela internet, McCain ainda não esboçou a mesma reação. O republicano arrecadou até julho menos da metade dos US$ 401,3 milhões de Obama. Apenas 37% de suas doações vêm de pessoas que contribuíram com até US$ 200.


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