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Obama se sai melhor na internet e colhe nela maioria das doações
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A ST. PAUL
Promessa há várias eleições,
a internet tornou-se uma realidade nas disputas políticas dos
EUA deste ano. O uso da web
popularizou-se para quase tudo, de arrecadação de fundos a
promoção de vídeos virais contra adversários, de ferramenta
para organização da militância
a divulgação de fatos importantes da campanha.
Apesar de o democrata Barack Obama vestir hoje o figurino de mais completo político
do mundo virtual, coube a Hillary Clinton um ato ousado no
início da corrida presidencial,
em 2007. Quando ela decidiu
anunciar oficialmente sua pré-candidatura, não chamou repórteres para uma entrevista
nem elegeu um jornal ou TV
para oferecer um furo: divulgou
um vídeo no YouTube. Ao jogar
a toalha, Hillary também dispensou a clássica entrevista coletiva e preferiu enviar um e-mail aos correligionários -que
receberam o texto ao mesmo
tempo que a mídia.
Obama, na sua última investida na web, pediu a seus militantes que se cadastrassem para receber um torpedo no celular ou um e-mail em primeira
mão com o nome do candidato
a vice-presidente. Não deu
muito certo, pois a informação
vazou, mas as mensagens foram enviadas na seqüência aos
que estavam inscritos.
O candidato democrata bate
recorde atrás de recorde de audiência na internet. Em janeiro, seus vídeos no YouTube já
registravam 6,6 milhões de cliques. Na manhã de sexta-feira,
dia seguinte ao seu discurso na
convenção democrata, sua audiência estava em 57,4 milhões.
Obama, assim como muitos
políticos, já tem um canal próprio no YouTube -no Brasil,
isso seria impossível pelo fato
de a Justiça Eleitoral ter proibido propaganda fora do site oficial dos candidatos. Nos EUA,
um eleitor obamista pode entrar no YouTube para assistir
notícias da campanha e já tem a
opção de clicar no botão "contribute" (contribua) para fazer
uma doação com cartão de crédito ou de débito. A operação
dura menos de um minuto e fica completamente registrada.
A arrecadação pela internet é
a grande aliada dos políticos
americanos. O eleitor fornece
nome e alguns dados pessoais,
o número do cartão de crédito
ou débito e assinala a quantia
que deseja doar. Clica em "OK"
e o dinheiro segue para a conta
de campanha do candidato.
Numa campanha bilionária
(os candidatos a presidente
juntos já embolsaram US$ 1,2
bilhão), Obama está à frente.
Sua arrecadação total até 31 de
julho era de US$ 401,3 milhões,
sendo que US$ 190,7 milhões
foram doações individuais com
valor abaixo de US$ 200. A
maioria desse dinheiro foi oferecida pela internet.
Como Obama declara que as
doações recebidas são em grande maioria abaixo de US$ 100,
estima-se que ele tenha acumulado aproximadamente 1,9
milhão de doadores de pequenas quantias até julho. Sua
campanha diz ter registrado
mais de 2 milhões de doadores
-é impossível saber o número
exato, pois a lei exime os políticos nos EUA de divulgarem de
maneira detalhada os doadores
de valores até US$ 200.
Ninguém duvida, porém, da
enxurrada de dinheiro miúdo
desaguando na conta do democrata. Pelas estimativas mais
conservadoras, 51% do dinheiro de Obama vem do eleitor comum, o simpatizante interessado em doar até US$ 200. Se
ele for eleito, será a primeira
vez na história moderna dos
EUA que um presidente foi financiado majoritariamente pelos próprios eleitores -e não
por grandes empresas.
Como comparação, em 2000,
George W. Bush teve 16% de
seu financiamento vindo de pequenos doadores individuais.
Em 2004, melhorou a marca
para 37%, mas ainda nada comparável à avalanche da "clicocracia" obamista.
Atrás do tempo perdido
John McCain demorou para
acordar para a rede mundial de
computadores. Nos últimos 60
dias, parece ter percebido a necessidade de derrotar a hegemonia de Obama na web.
Vários vídeos de McCain passaram a ser apresentados no
canal do republicano no YouTube. A audiência acumulada
desde o início da campanha
ainda não se compara à de Obama, mas houve um salto. Em
maio, os vídeos do republicano
registravam apenas 3,8 milhões
de cliques. Na última sexta, o
número havia pulado para 13,2
milhões, um aumento de 246%
em três meses. No mesmo período, Obama cresceu 15%.
Mais expressiva é a disparada
recente de McCain no YouTube, graças a vídeos com críticas
ao rival. Do último dia 15 até
anteontem, a audiência pulou
de 9,6 milhões de cliques para
os atuais 13,2 milhões -um salto de 37% em duas semanas.
Já quando o assunto é dinheiro pela internet, McCain
ainda não esboçou a mesma
reação. O republicano arrecadou até julho menos da metade
dos US$ 401,3 milhões de Obama. Apenas 37% de suas doações vêm de pessoas que contribuíram com até US$ 200.
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