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Oposição obtém vitória histórica no Japão
Partido Democrata rompe hegemonia de sigla que passou 54 dos últimos 55 anos no poder e controlará dois terços da Câmara
Yukio Hatoyama será o novo premiê do país e terá como principal desafio enfrentar os efeitos da crise que ajudou a levá-lo ao poder
Issei Kato - 31.ago.09/Reuters
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Yokio Hatoyama, do PDJ, marca candidatos eleitos de seu partido com uma rosa
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
A oposição japonesa conquistou ontem quase dois terços da Câmara dos Deputados,
na maior reviravolta eleitoral
do país desde a Segunda Guerra
Mundial.
A apuração não havia terminado ao fechamento desta edição, mas meios de comunicação japoneses previam que o
centrista Partido Democrata
do Japão (PDJ) ocupará 308
assentos do Parlamento (de um
total de 480), quase triplicando
os 112 deputados que tinha na
atual composição. Seu líder,
Yukio Hatoyama, 62, se tornará
premiê em duas semanas.
O conservador Partido Liberal Democrata (PLD), que governou o país por 54 dos últimos 55 anos (a exceção foi um
breve período em 1994), perdeu, por sua vez, quase dois terços das cadeiras que tinha no
Parlamento, recuando de 303
para 119.
"O descontentamento do povo é maior do que o imaginado", afirmou Hatoyama ontem
à noite em coletiva. "Esta vitória está a serviço do povo e dos
mais pobres."
Em sua campanha, ele lançou um manifesto prometendo
reforçar o Estado de bem-estar
social no Japão e acusando o
neoliberalismo dos anos do ex-premiê Junichiro Koizumi
(2001-2006) pela atual crise
que o país vive.
Os democratas também
apresentaram diversos candidatos jovens, em contraste com
os sexagenários e septuagenários que dominam a política do
PLD. Em vários cartazes, aparecia escrito "change" (mudança), em inglês mesmo, uma alusão ao marketing da campanha
de Barack Obama nos EUA.
Apesar do discurso reformista, o engenheiro Hatoyama,
com pós-graduação em Stanford, é do establisment político
nipônico. Seu avô foi primeiro-ministro entre 1954 e 1956 e
seu pai foi chanceler, ambos pelo PLD. Seu irmão foi até há
pouco ministro no gabinete do
premiê Taro Aso, derrotado na
eleição de ontem.
O PDJ foi criado em 1998,
unindo dissidentes do PLD, socialistas e comunistas. Hatoyama só se tornou líder do partido
em maio deste ano, quando seu
antecessor, Ichiro Ozawa, 67,
renunciou após um escândalo
pelo financiamento irregular
de campanhas.
Para muitos analistas, Ozawa
ainda é o cabeça do partido e
mentor do próximo premiê.
Tanto Ozawa quanto Hatoyama estão na ala mais conservadora do PDJ.
Crise e deficit
A crise econômica é considerada a maior culpada pela derrocada governista, principalmente por conta da queda das
exportações para os mercados
americano e europeu. Quatro
dos últimos cinco trimestres tiveram queda no PIB, e o desemprego é um dos mais altos
em 30 anos.
Vários pacotes de estímulo
lançados por Aso em seus dez
meses no poder (o país teve três
premiês nos últimos três anos)
não conseguiram mudar a falta
de confiança do empresariado e
dos consumidores japoneses.
Aso abandonou ontem a presidência de seu partido e assumiu a responsabilidade pela
derrota.
Apesar de várias promessas
que exigem um aumento considerável dos gastos do governo,
Hatoyama prometeu não aumentar impostos. O deficit público já equivale a mais de 180%
do PIB japonês.
A vitória da oposição foi
anunciada primeiramente no
programa "TBS com Beat Takeshi", debate com políticos
apresentado pelo cineasta e
ator Takeshi Kitano, minutos
depois do fechamento das urnas, às 20h locais.
Gritos e risadas nervosas dos
correligionários de Hatoyama
destoaram do silêncio na sala
de imprensa quando a primeira
pesquisa de boca de urna foi
anunciada no quartel-general
dos Democratas, no shopping
Laforet Museum.
Seguindo a tradição política
do país, a campanha foi curta
(apenas 12 dias), e não houve
debate nem troca de acusações
entre os adversários.
Ao contrário de previsões de
comparecimento recorde às urnas, o número (69%) foi pouco maior que em 2007 (67%).
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