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BUSH
Com carisma e ajuda do pai, republicano alcança o sucesso político e econômico
DE WASHINGTON
"SO, HOW IS MY BUTT? (Então, como está o meu
traseiro?)", pergunta o pré-candidato à Presidência dos
Estados Unidos George W. Bush, se exibindo em um
jeans novo e botas de caubói num ônibus de campanha
em 2000. Na cena seguinte, Bush está sentado no ônibus
ao lado da autora do documentário ""Journeys with
George", Alexandra Pelosi, filha da líder democrata no
Congresso, Nancy Pelosi.
Em dois minutos de conversa
Bush dá uma cordial ""cantada"
em Alexandra para ganhar seu
voto. Falando baixinho e perto
demais do ouvido da moça, Bush
a faz sorrir. Envergonhada, ela balança positivamente a cabeça.
Apesar da ojeriza internacional
e dos democratas contra o 43º
presidente dos EUA, o republicano George Walker Bush, 58, é
considerado carismático e popular até pelos seus inimigos.
Em comícios e eventos entre
seus partidários, Bush age, fala e
tem a recepção de um rock star,
do Texas. Mal comparando, em
termos de personalidade e empatia com seu público, Bush é para
os seus eleitores o que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é para
os petistas mais entusiasmados.
O ""presidente da guerra", como
se autodefine, atribui à influência
do pai, o ex-presidente George
Herbert Walker Bush, 80, o seu
modo ""confuso e errado" de se
""comunicar em inglês". À mãe,
Barbara, 79, a sua "tenacidade" e
""perseverança".
Nascido em Connecticut como
o primogênito de quatro filhos e
criado no Texas a partir dos dois
anos de idade, Bush tem um claro
divisor de águas em sua vida.
Ele se abriu em uma manhã de
julho de 1986, no dia seguinte à
comemoração dos seus 40 anos,
quando o hoje presidente da nação mais poderosa do mundo
acordou, pela enésima vez, com
uma forte ressaca.
Da adolescência aos 40, Bush
bebeu com freqüência e em quantidades industriais, segundo relatos seus e de amigos.
Aos 26, depois de colidir contra
as latas de lixo de um vizinho da
casa de seus pais, em Washington, chamou um furioso Bush pai
de pijamas para um ""mano a mano" no meio da rua.
Antes, já havia sido preso por
roubar um enfeite de Natal de
uma porta em New Haven. Depois, visivelmente alcoolizado,
xingaria de ""filho da puta" um adversário político do pai em um
restaurante lotado no Texas.
A ressaca da manhã de 1986 seria, segundo o presidente, a última. Ao iniciar a sua ritual corrida
diária de 7,5 km, Bush diz ter concluído, do alto de seus 40 anos,
que a sua vida era ""algo próximo a
um desastre".
Casado com Laura Welch, 57,
desde 1977 e pai de duas filhas gêmeas, Jenna e Barbara, hoje com
23 anos, Bush tinha à época negócios afundados em dívidas e nenhum futuro promissor.
Assim como o pai, Bush freqüentou as melhores escolas dos
EUA, como Andover e Yale, e pilotou aviões. Fez ainda uma pós-graduação em Harvard, onde é
lembrado mais por mascar tabaco
e cuspir no chão do que por suas
boas notas.
O presidente nunca autorizou a
liberação dos seus históricos escolares e chegou a ser recusado na
Universidade do Texas por causa
de notas na adolescência.
Seu ingresso em Andover e Yale
teria ocorrido com a ajuda do pai
influente, de resto um bom aluno
nas duas escolas.
Bush pai também ajudou o
atual presidente em sua carreira
militar, que pode ser descrita como uma ""não-carreira".
Enquanto Bush pai foi voluntário, aos 18 anos, para lutar na Segunda Guerra como piloto, Bush
filho refugiou-se na Guarda Nacional do Texas para não ir ao
Vietnã em 1968, quando a conta
de americanos mortos em combate chegava a 350 por semana.
Sua passagem pelo serviço militar é motivo de controvérsia até
hoje. As dúvidas sobre se Bush
cumpriu todas as suas obrigações
e o fato de ter entrado na Guarda
Nacional para evitar o Vietnã foram amplamente exploradas na
atual campanha.
No teste de aptidão para piloto,
por exemplo, o presidente atingiu
o índice mais baixo permitido,
25%. Foi admitido no mesmo dia.
Na época, seu pai já era um parlamentar em ascensão nos corredores de Washington.
Fora o álcool, viva a Bíblia
À sombra de seu pai, Bush teria
chegado à conclusão, em 1986,
que precisava mudar, rápido e radicalmente, para ir em frente.
A decisão de parar de beber foi
acompanhada de uma conversão
que o transformou em um ferrenho religioso. Um ano antes,
Bush começara a tomar conselhos
com religiosos e a ler a Bíblia de
forma ainda esporádica.
Agora, durante a sua Presidência, todas as reuniões em que participa na Casa Branca são precedidas por orações. Grande parte das
iniciativas sociais dos EUA sob o
governo Bush, como clínicas para
recuperação de viciados e de ajuda a mães solteiras, têm fundos
vinculados a programas que incluem o ensino religioso.
Bush não fala no assunto, mas
muitos atribuem a uma epifania a
sua decisão de entrar para a política e, mais tarde, tentar a Presidência dos EUA.
A verdade é que a primeira tentativa de Bush na política começou muito antes, em 1978, quando
ele tentou se eleger, sem sucesso,
deputado pelo Texas.
Essa derrota anteciparia o longo
período de expectativas e negócios frustrados na área de petróleo na empoeirada Midland, capital do óleo no oeste do Texas.
Mais tarde, a conversão religiosa e a nova sobriedade coincidiram com uma espécie de renascimento para Bush. Novamente, a
ajuda do pai poderoso seria determinante.
Um mês antes de seu aniversário de 40 anos, a empresa de petróleo de Bush, a Spectrum 7, havia perdido US$ 406 mil e acumulava dívidas de US$ 3 milhões.
Quando Bush e seus sócios ainda faziam planos de cortes e de refinanciamentos, a Spectrum 7 receberia uma surpreendente oferta
de compra da Harken Energy. A
empresa tinha antigas relações
com Bush pai.
A Harken não apenas assumiu
as dívidas da Spectrum 7 como
ainda colocou Bush filho no seu
conselho de diretores. Na mesma
época, Bush pai se preparava para
uma eleição vitoriosa que o tornaria presidente dos EUA.
Agradecido, Bush filho ajudou o
pai durante a campanha presidencial de 1988 e, após a vitória,
voltou ao Texas e comprou, com
US$ 600 mil emprestados, 2% do
time de beisebol Texas Rangers.
Em pouco tempo, as conexões
da família acabaram colocando
Bush à frente do time, onde ganhou participações e se tornou
um dos principais sócios.
Em 1994, Bush se candidatou
para governador do Texas e, mais
uma vez, com a ajuda do pai, levantou fundos recordes para sua
campanha no Estado.
Venceu e se reelegeu, abrindo o
caminho para que disputasse a
presidência em 2000.
Ao derrotar o senador John
McCain nas primárias presidenciais republicanas de 2000, Bush
já era não apenas um político
bem-sucedido, mas um homem
rico. Ao vender sua participação
no Texas Rangers, em 98, ele embolsara US$ 14 milhões.
A eleição de 2000 entre Bush e o
democrata Al Gore foi a mais disputada da história dos EUA. A
apuração dos resultados, que se
arrastou por semanas, deu início
à profunda divisão atual do eleitorado americano.
Ao assumir a Presidência, Bush
afirmou que entrava para ""unificar, e não para dividir" o país. Na
manhã de 11 de setembro de 2001,
os maiores ataques terroristas da
história fizeram emergir um novo
líder, e um país inteiro em seu
apoio.
Passado o choque inicial, as coisas voltaram ao normal. Reinstalada a divisão, o presidente acabou fazendo o contrário do que
prometera, levando a esquerda a
um aquartelamento.
Ideológico e extremo, Bush se
pautou por posições que empurram o país na direção de uma direita religiosa e conservadora e a
um unilateralismo sem precedentes na área internacional.
Assim como em 2000, os eleitores voltam na terça às urnas mais
divididos do que nunca. A diferença agora é que sabem o que
podem esperar de seu presidente,
muito religioso e sóbrio.
Questionado durante a atual
campanha sobre o que aconteceria caso tomasse um ou dois uísques, Bush respondeu: "Faria coisas estúpidas, muito provavelmente".(FERNANDO CANZIAN)
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